quinta-feira, 15 de novembro de 2012

LEIA O DESPERTAR...




LEIA AQUI O DESPERTAR DESTA SEMANA 

Para além  do texto "A BAIXA VAI PARA A CAMA COM AS GALINHAS", deixo também as crónicas "A OURIVESARIA COSTA SOPROU 76 VELAS"; "PARABÉNS À CRISTINA"; e "REFLEXÃO: IKEA GATO"



A BAIXA VAI PARA A CAMA COM AS GALINHAS

 São 21h30 de quarta-feira da semana passada. As Ruas da Louça, Corvo, Eduardo Coelho e Padeiras estão desertas de vivalmas. Na Praça do Comércio, os restaurantes “A Taberninha” e ao lado o “Praça Velha” estão vazios de clientes. Na esplanada deste reputado café, Vitor Silva, o gerente, conversa com o “Zé” Neto, do estabelecimento com o mesmo nome ali ao lado na Rua das Azeiteiras, que está de mãos nos bolsos, como se esperasse clientes vindos do infinito. Na Rua Adelino Veiga, no Restaurante Paço do Conde, o Alfredo prepara-se para mandar tocar o clarim para “destroçar” o pessoal. Ao lado, no antigo Saul Morgado, o “Be Fado” prepara-se para iniciar uma sessão de fados. No salão superior cerca de uma dúzia de frequentadores preparam-se para ouvir um espetáculo que só por sorte dará para as despesas afetas.
Volto atrás e sigo em direção às Escadas do Gato. O restaurante junto à igreja de São Bartolomeu está a encerrar. Mais à frente, os três da Rua de Sargento-mor a mesma coisa. O “Aeminum”, pelos poucos comensais, aparentemente, prepara-se também para dar por terminada a sua faina laboriosa. Subo até ao Largo da Portagem. Nesta praça, do alto do seu pedestal, Joaquim António de Aguiar, como faroleiro, verifica que os cafés Montanha, Briosa, Toledo, e gelataria Itália estão todos já com as esplanadas recolhidas e prontos a bater em retirada. Entro n’A Brasileira e tomo um café acompanhado por dois clientes na mesa ao lado. O Mário, o gerente, está a recolher a ementa que faz sentinela à porta e comenta comigo que dentro de meia hora vai fechar. Não há pessoas e, pelos elevados custos, não dá. Saio e sigo em frente. As Ruas Ferreira Borges e Visconde da Luz estão praticamente vazias de transeuntes. Estas artérias estão despovoadas de gente e nem o facto de estar um tempo outonal, com algum frio e a prometer chuva pode explicar esta total deserção. A Praça 8 de Maio, com o Café Santa Cruz encerrado esta semana para manutenção, parece o largo da minha aldeia. Nem um cão ladra, nem um gato mia. Os estabelecimentos em redor ou estão prestes a encerrar, como é o caso do Restaurante Carmina de Matos e do “Indiano”, na entrada da Rua do Corvo, ou estão já fechados.


Já escrevi vários textos sobre esta Baixa que puxa os lençóis e abre a cama às 19h00 e vai deitar-se nela às 22h00, como as galinhas. Isto não pode continuar. É a falência total dos poucos estabelecimentos de hotelaria que vão resistindo. Não se pode entender que a zona da Sé Velha e a Praça da República tenham excesso de pessoas noctívagas, a ponto de serem gerados conflitos com os residentes, e esta zona velha e histórica esteja completamente entregue aos pombos a dormirem nos beirais. Alguma coisa, com urgência, terá de ser feita. E a meu ver, perante esta catástrofe anunciada, a edilidade deveria meter mãos à obra. Em face do desastre que se prevê, a Câmara Municipal não pode ser apenas uma entidade que serve para licenciar novos investimentos na cidade e nos seus arredores, e sem levar em conta a sobrevivência dos instalados há décadas e que contribuem para a vida intestina da urbe. A autarquia tem uma responsabilidade sobre os ombros redobrada, e o que se nota é que continua a assobiar para o lado como se nada se passasse mesmo nas suas barbas. O Paço do Concelho não pode continuar a ser apenas uma espécie de quarto onde, durante umas horas, se vai despejar os egos de todos os espíritos arrebanhados. Não pode. Não deve. É impossível o executivo e a oposição e até a Assembleia Municipal continuarem a ignorar o que está acontecer na Baixa. Estamos perante uma mortandade comercial e, sabe-se lá por quê, ninguém se importa. São precisas medidas políticas de fundo para esta zona de antanho. É difícil de ver? É necessário fazer um desenho? Quantas tertúlias sobre esta parte histórica serão precisas fazer mais para o poder da Praça 8 de Maio acordar da letargia em que está invernado?




A OURIVESARIA COSTA SOPROU 76 VELAS

 José da Costa fala orgulhoso da sua “menina” ourivesaria. E não é para menos, nos dias que correm, comemorar 76 anos de atividade comercial é um feito extraordinário. Nos tempos que se aproximam para o comércio de rua, dito tradicional, em vez desta longevidade exemplar, espera-se um abrir e fechar de lojas como o pestanejar de um olhar. Será uma espécie de “usar e deitar fora”. Experimenta-se o negócio durante uns meses e, passado o prazo da ilusão, é mais um que não deixa história.
É por isso mesmo que o “senhor José da Costa”, como é cumprimentado com carinho e como sempre foram tratados os obreiros do comércio nesta Baixa, está tão feliz. Soprar as velas da sua loja, para ele, é o mesmo que assinalar o seu próprio aniversário. Porque é tão forte a ligação de amor platónico que os une que é impossível dissociar homem e estabelecimento. Quando o vemos caminhar na Rua Ferreira Borges, imediatamente o associamos à sua amada ourivesaria. Em metáfora, em símbolo, ele é o timoneiro de uma traineira encantada que atualmente navega num oceano revolto de incongruências, injustiças e falta de respeito por quem tanto deu ao desenvolvimento da cidade. Este grande comerciante, de 69 anos de idade, faz parte de uma narrativa profissional que está a chegar ao fim do seu ciclo. Não terá continuidade, pelo menos como sempre a conhecemos. E, pelas rugas de preocupação, José da Costa sabe isso. Ninguém mais como ele, com o mesmo empenho e entrega à causa mercantil, voltará a ser presidente da ACIC, Associação Comercial e Industrial de Coimbra, e receberá uma medalha de prata do município pelos relevantes serviços prestados. Parabéns aos dois: à Ourivesaria Costa e ao seu mentor.


PARABÉNS À CRISTINA

 Este fim-de-semana, último, a Rua Eduardo Coelho esteve em festa. Na sapataria Teresinha houve beijinhos e abraços e até um grande “bouquet” de flores deu à estampa na rotina dos sapateiros. E o caso não era para menos é que a Cristina Loureiro, a musa encantada daquele reputado estabelecimento, e tantas vezes confundida como patroa uma vez que ela é o rosto simpático que desde há 16 anos marca os dias, comemorou mais um aniversário de umas dezenas de primaveras. Quantas foram? Isso, só ela sabe. O melhor mesmo é irem interroga-la pessoalmente. Se não fosse cá por coisas aventava que andará pela “ternura dos 40”.


REFLEXÃO: IKEA GATO

 A semana passada, quase sub-repticiamente, o executivo municipal aprovou por unanimidade um pedido de informação prévia apresentado pela sociedade IKEA no planalto de Santa Clara, junto ao Fórum Coimbra, com uma área bruta de construção de 24 mil metros quadrados, uma grande superfície direcionada para mobiliário e decoração.
Segundo o semanário Campeão das Províncias, o único jornal da cidade a noticiar a viabilidade deste acto de licenciamento, “A aprovação do pedido ocorreu mediante proposta do vereador Paulo Leitão, com base num parecer subscrito pelo diretor de urbanismo e pelo diretor do Departamento de Gestão Urbanística e Renovação Urbana (DGURU). O titular da Direção Municipal de Administração do Território, António Cardoso, e o diretor do DGURU, Luís Leal, advertem que a multinacional de origem sueca deve dar garantia de concretização do denominado nó do planalto de Santa Clara (ligação à variante ao IC2 a Poente da cidade) até à emissão do alvará de licença de construção da referida loja.”
Perante este deferimento de instalação de uma nova grande superfície comercial, quando a oferta está há muito esgotada e a procura em queda livre, várias questões se levantam. Aleatoriamente, nesta altura de tão grave crise no consumo, poderemos interrogar o que faz mover esta sociedade internacional para um investimento tão elevado? Será apenas a venda de bens, ou terá outros projetos imobiliários em mente?
Outra interpelação ainda: como é possível que, perante o estado decrépito do tecido comercial, executivo e oposição, sem ouvirem as entidades representativas dos comerciantes, tenham votado em bloco e em unanimidade? Não são estes senhores eleitos e candidatos futuros que apregoam a salvação da Baixa? Já agora, para que serve a ACIC, Associação Comercial e Industrial, na cidade?
Perante o desprezo manifestado pelos órgãos eleitos camarários, para com os milhares de famílias que tentam sobreviver a comprar e a vender no concelho de Coimbra, não se deveria pensar em concorrer com uma lista independente que defendesse os comerciantes?




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