(Fotos acima de Nelly Catalão)
Numa
feliz e bonita iniciativa, hoje, um grupo de trabalhadoras da arte de
comprar e vender surpreenderam o “velho lobo” do comércio,
José Marques, com um bolo, duas velinhas e o cantar de parabéns.
Sempre alheio a fotografias, talvez porque apanhado de surpresa e
vindo de um grupo de senhoras lindíssimas, o companheiro das lides
mercantis habituado a travar grandes batalhas, não resistiu à
simpatia e charme feminino, e deixou-se focar pela objectiva em
memória para a posteridade.
O
que deu aso a esta festa de amizade foi o facto de José Marques
parabenizar ontem 80 anos de
vida – e setenta ao serviço do comércio. Segundo as suas
palavras, “comecei
a trabalhar na Casa Guimarães
- na
Praça do Comércio e hoje encerrada – com
10 anos, em 1948.
Como
o ordenado não chegava
para as necessidades, comecei
a dormir e a sonhar com o trabalhar por minha conta. O patrão, o
dono da Casa Guimarães, porque teria intuído da minha vontade,
ofereceu-me sociedade na empresa. Eu disse logo: “olhe que não
tenho dinheiro para isso”. Ele emendou logo que dinheiro não era
problema, a quota seria a realizar com
esforço e trabalho
Aconteceu que o tempo começou a passar e “promessas levou-as o
vento”. Com
27 anos, decorria o ano de 1965, coloquei-lhe
o ultimato: ou sim ou sopas! Começou a engasgar-se e eu agarrei no
casaco e fui embora. Fui ter com um grande amigo comerciante aqui nas
ruas estreitas, ainda em actividade e
de boa saúde,
e fui pedir um empréstimo. Este, sem hesitar, emprestou-me mil
contos – o equivalente a cinco mil euros hoje.
Trabalhei muito, sabe, amigo Luís? Mais tarde viria a adquirir a
antiga casa onde comecei a laborar, a Casa Guimarães.”
José
Marques, um homem que conheço bem, bebeu as dificuldades da Segunda
Guerra Mundial e o sacrifício que o
conflito bélico
significou para o comércio e as suas gentes. Tomou o pulso ao início
do crescimento das actividades mercantis em Coimbra, em meados de
1950 com o grande incremento industrial na cidade. Assistiu
e foi actor principal ao
apogeu comercial
nas
décadas de 1970-80-90.
Hoje,
depois
de muitos funcionários ao seu serviço na Casa dos Enxovais, na Rua
visconde da Luz, e que comemorará 53 anos para o próximo mês de
Setembro, resta-lhe a Rosinda Henriques, que trabalha na firma há 43
anos.
Com
uma lágrima no canto olho, à
sua porta, como soldado de vigia ao seu território, Marques constata
a degradação em plano inclinado a
que chegou o comércio de rua.
Se
vivêssemos numa sociedade justa, em que se deve atribuir a cada um o
que é seu, pessoas como José Marques, artífices ao serviço do
desenvolvimento de uma urbe, deveriam merecer uma homenagem por parte
da Câmara Municipal de Coimbra. Saliento que na Baixa há vários
comerciantes octogenários na mesma situação.
O mal destas pessoas é que não são militantes de um dos dois
grandes partidos políticos. Tivessem eles a ficha em dia e teríamos
festa de arromba.
Enfim,
é o que temos!
1 comentário:
Sim numa sociedade justa, realmente não sacrificava os funcionários a sair com uma mão à frente e outra atrás. Os funcionários é que fizeram a casa, para não falar nas mais antigas, a quem alguém fez a vida negra para se despedirem....por saberem demais. Enfim....
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