terça-feira, 18 de setembro de 2018

CARTA ABERTA AO SENHOR INTENDENTE RUI MOURA

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(Rui Moura - foto do Diário de Coimbra)



Começo apresentar-me formalmente: chamam-me Luís Fernandes. Muito prazer, Senhor Intendente Rui Moura (aceite a minha mão estendida com o institucional cumprimento virtual de boas-vindas).
Dirijo-me a V. Ex.ª na qualidade de comerciante em actividade há décadas, morador na Baixa e, acima de tudo, como munícipe que ama a sua cidade. Escusado será dizer que, pelo que escrevo a seguir, estamos do mesmo lado da barricada, parafraseando as suas palavras e apanhando o espírito da afirmaçãoa tentativa é dar mais voz aos cidadãos. Já o fazemos, mas quero que as pessoas percebam que contamos com elas para melhorar”. 
Por outras palavras, foi o senhor que pediu.
Retirando o facto de escrever em opinião publicada, essencialmente sobre a vida na urbe e mais propriamente acerca da Baixa, poucos me conhecem.
Direcciono esta carta aberta na subsequência da sua entrevista publicada ontem no Diário de Coimbra (DC). Sublinhando o que escrevi em cima, como deve imaginar, com esta minha crónica, pretendo fazer parte da solução e não rebater apenas por rebater os seus argumentos. Estou certo, enquanto dirigente técnico com competência na matéria, a sua refutação é muito valiosa mas, como afirmou na entrevista, não deve nem pode descurar a opinião de quem está de fora e sente o problema.


PEGANDO NAS SUAS PALAVRAS


Para melhor nos entendermos, tomo a liberdade de expor algumas frases suas publicadas no DC, que considero mais relevantes, e respectiva impugnação.

Vamos à primeira:
Não deixaremos de exercer autoridade, mas a minha expectativa é conseguir uma proximidade dual: a PSP ser uma força de segurança próxima e com capacidade para exercer autoridade.
Muito bem, senhor Intendente, estamos de acordo. Porém, era bom que tomasse atenção que o seu predecessor, Pedro Teles, quando tomou posse afirmou e escreveu praticamente o mesmo. A ver vamos onde chega e se materializam o pragmatismo e vontade.

Vamos à segunda:
Os cidadãos dizem que a PSP não está onde é precisa e só aparece para multar...” (provocação de Ana Margalho, jornalista do DC, que conduziu a entrevista). 
Respondeu Vossa Senhoria: Um cidadão diz algo positivo sobre a PSP, quando tudo corre de acordo com as suas expectativas e o contrário, se a intervenção da polícia não correu como esperaria.”
Muito bem, com este seu silogismo lógico continuamos de acordo. Para que não pense que não analiso com transcendência, começo com uma ressalva, a instituição PSP, aos olhos dos cidadãos, é uma corporação que tem vindo intencionalmente a ser ultrapassada por outras forças e desvalorizada pelos sucessivos governos das últimas décadas, isto, em completo prejuízo para as populações citadinas. A desmotivação desta polícia, por força de sentenças judiciais pouco ortodoxas, isto é que os cidadãos entendam como justas, é uma evidência. Com uma justiça orientada por um sistema judicial, repetidamente politizado, enviesado e desequilibrado, onde as leis são doutrinadas para agradar muitas vezes a minorias e instituições fiscalizadoras de carácter global, o caldinho dá em azedar facilmente.
Por outro lado, o Estado, administrando a segurança como um pilar sem importância estratégica e estrutural, teima em primar por uma poupança de meios humanos e instrumentais. Os seus governos sucessivos, com leis que não refletem a agudização de uma criminalidade crescente, mais preocupados com os direitos dos detidos do que das vítimas e de quem arrisca a vida para salvaguardar pessoas e bens, paulatinamente, vão esvaziando e desmerecendo o “valor propriedade” e, com esta política contra-natura na criação de riqueza, concorrendo para o abandono das coisas.
Mas, agora mudando de agulha, há um “entrementes” no que toca às multas de trânsito. Desde há alguns anos que a PSP, passando o ónus odioso para a Polícia Municipal, se desonerou completamente de regular o caos do estacionamento na Baixa. E não só. Mesmo em outras áreas em que, com a sua presença física, contribuía para dissuadir o pequeno delito, hoje, o agente policial, se estiver presente, é meramente uma sombra passiva de outros tempos, outrora sustentados em certeza, da segurança pública. É claro que, na maioria dos casos, o policiamento de proximidade já desapareceu há muitos anos. A cidade, confiando no mal menor, está entregue a si mesma. Como quem diz: “se Nosso Senhor ajudar tudo vai correr bem!”

E vamos à sua terceira afirmação:
A Baixa continua a ter problemas de insegurança...” (enfatizou a jornalista do DC). Respondeu Vossa Mercê assim: Há situações que não são casos de polícia. Só são porque a polícia está lá 24 horas por dia, sete dias por semana. Isso é preciso esclarecer. A polícia tem de participar na solução. Isso é inquestionável. Admito que cause alarido e intranquilidade, mas a resposta aos problemas é pluridisciplinar e não com a polícia como as pessoas, por cultura geracional, pensam.
Passo por cima desta sua resposta, algo etérea e incompreensível para cidadãos de inteligência mediana, porque, por mais vezes que se repita a leitura, ficamos na mesma.

E vamos à quarta:
Perguntou o DC: “Mesmo no tráfico de droga?”.
Respondeu Vossemecê:
Mesmo. Eu ponho lá um polícia a tempo inteiro. E se eles forem ter à sua porta? O problema não se resolve. Eu pôr um carro patrulha todos os dias e resolver, por exemplo, o problema do Terreiro da Erva. E depois para onde é que eles vão? Não resolvo o problema. Deslocalizo-o. Todos os problemas têm factores que lhe dão origem e nem todos eles têm a ver com a polícia.
Esta sua resposta, pela filosofia social do sete vezes oito é igual a oito vezes sete, merecia um óscar para o melhor desempenho político dos comandantes distritais da última década.
Pelo seu raciocínio, em contradição total com o que afirmou a determinado ponto da entrevista, pelos vistos, não vale a pena apostar na presença física de agentes para prevenir e dissuadir a pequena criminalidade na Baixa.
A PSP, aliás como também reiterou, é uma prestigiada corporação que visa garantir a segurança pública, física e psicológica, dos cidadãos urbanos. Enquanto Comandante Distrital, é isto mesmo que esperamos de si, senhor Intendente Rui Moura.

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