Ao
longo dos últimos cinquenta anos, nunca,
na
história comercial da parte baixa da cidade,
como
agora, aconteceu uma coisa destas.
Depois
de um final de Dezembro intensamente ruidoso, quando uma manifestação
de alguns lojistas e funcionários se postaram em frente da Câmara
Municipal de Coimbra para tentar acordar o executivo para a grave
crise que se abateu sobre o comércio da Baixa, como a mostrar o
aforismo de que depois
da tempestade vem a bonança,
eis que caímos num final de Janeiro assombrosamente silencioso. E o
caso até seria de fazer muito estrondo se levarmos em conta que
neste primeiro mês do ano encerram seis lojas na Baixa. Repito, seis
estabelecimentos: a Mango,
de vestuário, na Rua Ferreira Borges; a Loja
da Kika, de
roupas e arranjos, na Rua dos Esteireiros; a Loja
de Artigos Chineses,
vestuário e diversos, na Rua das Padeiras; a TLX,
de vestuário, na Rua Eduardo Coelho; a Loja
da Laura, calçado
de criança, na Rua Eduardo Coelho; a Laculote,
de pijamas e roupa interior de homem, na Rua do Corvo. Ao longo dos
últimos cinquenta anos, nunca, na história comercial da parte baixa
da cidade, como agora, aconteceu uma coisa destas.
Antes
de entrar na análise do contexto local, vejamos o que está
acontecer com a conjuntura nacional. Basta ligar o televisor e
verificamos que há duas realidades. A primeira, difundida em coro
por António Costa, o Primeiro-ministro, e Marcelo Rebelo de Sousa, o
Presidente da República, apregoam que o país está em velocidade de cruzeiro, com as exportações a crescerem em ritmo alucinante e o
desemprego a descer para níveis nunca vistos. Depois vem a segunda
realidade, esta a cair nas nossas cabeças como se fosse uma martelada:
fecha a fábrica Ricom, da marca Gant, em Vila Nova de Famalicão, e cerca de 800 funcionários vão para o desemprego. Também neste Janeiro
outra notícia idêntica: a fábrica Triumph, em Loures, fecha por insolvência
e, por isso mesmo, 500 trabalhadores vão engrossar as filas de
desempregados. Então, em face disto, surge uma pergunta: quem nos
está a enganar? António Costa? Marcelo Rebelo de Sousa? Ou ambos? E
aqui, no tocante à postura alinhada do Presidente da República (PR)
com o Primeiro-ministro (PM), dá para ver que Marcelo não está a
desempenhar o trabalho que se espera dele. Ao verificarmos a segunda
verdade, vendo que os resultados da economia estão
hiper-inflacionados, facilmente damos por nós a perceber que estamos
a ser enganados. Que António Costa, enquanto chefe do Governo,
dentro do seu trabalho político, faça isto até se entende. Já o
comportamento político do PR é profundamente questionável. A bem
dos princípios da transparência e clarificação, ninguém de
bom-senso pode concordar com o que está acontecer. Dizermos que
Marcelo está a injectar optimismo nos portugueses para tocar o país
para frente, como justificação, é pura e simplesmente bizarro. O
que se espera do exercício do PR, enquanto função de
Chefe-de-Estado, é uma postura de honestidade política, uma espécie
de contra-poder perante o governo da nação e outros poderes
institucionais. Um árbitro independente. Pensa-se nele como uma
espécie de quarto poder instituído acima dos três consagrados:
Executivo, Legislativo e Judicial. Ora, com esta formação em linha,
o PR está a minar e a viciar a confiança de todos os portugueses
-não só os que votaram nele, mas todos.
E
agora vamos, então, à conjuntura local, ou seja, ao que se está a
passar com a grande depressão no comércio da Baixa. E vamos a uma
pergunta de retórica:
O
que se passa na Baixa de Coimbra não será em parte o resultado da
grave crise que o comércio interno atravessa também em função da
instabilidade da indústria nacional?
É
certo que podemos entrar no seguinte silogismo: se todo o comércio
interno está em crise, logo, os grandes centros comerciais também
estão. Acontece que não é assim. As grandes áreas comerciais
continuam a abrir e, aparentemente, não sentem a decadência que se
respira no comércio de rua. Porquê?
Estou
em crer que, sobretudo as grandes marcas internacionais com muitas e
grandes lojas, não sentem a incerteza por não estarem dependentes
nem da indústria nem dos grandes fornecedores nacionais.
Abastecem-se directamente em países emergentes da Ásia e, comprando
em grandes quantidades, obtêm preços sem concorrência no nosso
mercado.
Então,
a ser assim, a estagnação que se sente em Coimbra não é apenas
local mas nacional. Mas, se é de facto assim, porque não se ouvem
grandes lamentos de outras cidades? Responda quem souber.
Por
outro lado, especulando, será que a realidade que está acontecer em
Coimbra, ao ser “escondida” pela maioria socialista no executivo,
ao fazer de conta que nada se passa, e não ligar ao assunto, não
pretende ter o mesmo alcance político do que se constata a nível do rectângulo? Ou seja, sendo este governo local da mesma cor do nacional,
faz sentido esta hipótese, não faz? Ou é meramente uma teoria
conspirativa?
2 comentários:
Sr. Luis, só saberá se o desemprego não desceu, se comparar as insolvências ou simples fechos nos últimos dois anos, com os ocorridos em anos anteriores. Só aí poderá confirmar se o Costa é, ou não, aldrabão. Naturalmente, pode dizer também que o INE, ao fazer as suas estatísticas, ou as finanças e os tribunais, nos registos de falências, encerramentos, etc, também são todos aldrabões. E o comércio interno não está nada em crise. Há muito tempo que as pessoas não consumiam tanto no comércio. O mundo não é a baixa de Coimbra.
A baixa de Coimbra está abandonada e em consequência disso fica doente como fica quem por estas ruas e ruelas passeia diariamente há muitos e muitos anos,que o digam os tristes comerciantes que honestamente teimam em resistir,mas está a chegar a hora em que queiram ou não,têm que abandonar o barco, mas entre estes, ainda há quem não sinta a crise.«serão estes os senhores que têm todos os direitos?» sim porque enquanto uns têm direitos outros têm deveres, e estes sim, sentem a verdadeira crise.
Ainda bem que há um SENHOR chamado LUÍS que ocupa uma grande parte do seu tempo para chamar a atenção dos problemas da nossa baixa,pena que a voz dele esteja num tom tão baixo que a maioria das pessoas que eventualmente possam dar uma ajudinha não o ouçam.
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