Neste último Domingo, o primeiro-ministro,
Pedro Passos Coelho, foi recebido na Rua Pedro Monteiro, em Coimbra, com mais
uma manifestação de cerca de três centenas de pessoas oriundas dos concelhos de
Lousã, Miranda do Corvo, Poiares e Góis para defenderem a concretização do
prometido projecto do Metro Ligeiro de Superfície. Segundo o Diário de Coimbra,
Passos Coelho, no Instituto Português da Juventude, disse o seguinte: “Acho incrível como o Estado conseguiu gastar
uma pipa de dinheiro a desmantelar a linha que funcionava, vendeu os materiais todos e deixou
lá um buraco. (…) Assumi um compromisso com a linha da Lousã e gostava de
cumprir. Sobre o Metro não assumi nenhum compromisso.”
Antes de prosseguir, para melhor se entender,
vamos recuar no tempo. A empresa Metro Mondego foi constituída em 1996 com a
seguinte representatividade: Estado Português 53%, município de Coimbra 14%,
município da Lousã 14%, Miranda do Corvo 14%, REFER 2,5% e CP 2,5%. Nesta
altura era Manuel Machado presidente da edilidade coimbrã. Com um nomeado
presidente da Metro Mondego a auferir um salário mensal de cerca de 800 contos,
hoje 4000 euros, este plano manteve-se quase no anonimato até 2002 e ganhou
velocidade quando Carlos da Encarnação ganhou a Câmara Municipal de Coimbra
(CMC) a Manuel Machado e se estreou a negociação e expropriação de parcelas
para a futura avenida central. Em 2005, com grande encenação política por parte
de Encarnação que –tal como Fernando Carvalho, na Lousã, e Fátima Ramos, em
Miranda- visava a reeleição, deu-se início à desconstrução do casario no Bota-abaixo –mesmo sem estar concluída a
demolição já foram gastos 14,5 milhões de euros, noticiava o Diário as Beiras e
acrescentava: “em 29 de dezembro de 2006,
existiam 36 atividades comerciais ou serviços e 33 habitações neste corredor
parcialmente desmantelado.”
Sob a égide do Governo de Sócrates e com a
promessa de substituição por um comboio mais moderno, em Dezembro de 2009
começou o levantamento dos carris na linha da Lousã. Segundo o jornal Público de 19 de Janeiro de 2010, o
Secretário de Estado dos Transportes, Carlos Correia da Fonseca, afirmou que a
construção da 2ª fase do projecto Metro Mondego (MM), que ligava a Baixa aos
Hospitais da Universidade dependia do estudo custo-benefício para demonstrar a
sua viabilidade.
Em finais do ano de 2010, Jaime Ramos, irmão
de Fátima Ramos, nesta altura presidente da edilidade mirandense, cria o Movimento Cívico de Lousão e Miranda. Nos
primeiros meses de 2011, algumas centenas de pessoas seguiram este líder em
várias manifestações locais e em Lisboa contra o Governo de Sócrates –hoje em 2014, apesar de ter mudado o
governo, continuam as manifestações.
Em Janeiro daquele ano de 2011 realizou-se as
eleições para a presidência da República, vindo a sair vencedor o até aí
presidente Cavaco Silva. Antes do sufrágio, em reunião do Movimento Cívico
Lousã Miranda ficou acordado que, em solidariedade para com todos os
prejudicados pela falta do comboio e num acto de indignação e protesto, não se
votaria nas eleições presidenciais. Fátima Ramos, fazendo constar que estava
solidária com todos mas rompendo o acordado, votou.
Com as eleições legislativas à porta, em 5 de
Junho deste ano de 2011, em campanha eleitoral o PSD prometeu fazer a reposição
da linha. Já depois de nomeado ministro da economia, Álvaro Santos Pereira
vinculou o Governo de Coligação PSD/CDS.
Em Outubro de 2010, pelo governo socialista,
foi anunciada a pretensão de extinguir a Sociedade Metro Mondego.
Em Dezembro de 2010, Carlos Encarnação resigna
e cede o seu lugar de presidente da CMC a Barbosa de Melo.
Em 21 de janeiro de 2011, com o PSD na
oposição, foi votada na Assembleia da República uma petição pública para a
concretização do Metro Mondego, iniciativa do cidadão Bruno Ferreira e
apadrinhada pelo Diário de Coimbra.
Em 29 de
Outubro de 2011 –retirado das redes sociais-, aqui, “o então ministro da Economia, Álvaro Santos Pereira, afirmou
que o projecto do Metro Mondego iria terminar por ser “perfeitamente
inexequível”; calculava que o Metro, como estava planeado, teria um prejuízo
anual de 38 milhões de euros, e devia ter um número de passageiros 15 vezes
maior para ser sustentável.”
Em 16 de Janeiro de 2012, Carlos Encarnação, presidente da CMC durante quase uma década, e João Rebelo, seu vice-presidente durante cerca de 5 anos, lançam o livro “Como não decidir uma obra pública – Um metro da Razão ao Erro”.
Em 16 de Janeiro de 2012, Carlos Encarnação, presidente da CMC durante quase uma década, e João Rebelo, seu vice-presidente durante cerca de 5 anos, lançam o livro “Como não decidir uma obra pública – Um metro da Razão ao Erro”.
Em Maio de 2012, por este Governo PSD, Carlos
Encarnação é nomeado para presidir à Comissão para Reprogramar Obras do Metro.
Em Julho de 2012, depois de já ser
administrador executivo, João Rebelo é nomeado presidente executivo da MM.
Neste mesmo ano passa nas redes sociais que 7 administradores gerem 5
funcionários na empresa Metro.
Em Novembro de 2012, “Carlos Ferreira, chefe de gabinete e marido de Fátima Ramos, voltou a
integrar a gestão da MM, alguns meses depois de ter renunciado ao cargo de
administrador não executivo, demarcando-se da suspensão das obras na ferrovia,
iniciadas em 2009.” –retirado da revista Visão.
Em Janeiro de 2014 Manuel Machado, presidente
da CMC, propõe integrar a MM nos Serviços Municipalizados de Transportes
Urbanos (SMTUC). Um dia depois deste anúncio público, Jaime Ramos, líder e
defensor da reposição do Ramal, apoia a proposta de Machado.
GOSTO TANTO DE TI, METRO
Segundo o Diário de Notícias, o Relatório e
Contas de 2009 da MM “mostra que os
encargos totais com recursos humanos foram de 733 mil euros nesse ano. Num
quadro de pessoal que, de acordo com o Diário de Notícias, é de 19
funcionários, isto dá uma média mensal de 2.756 euros por pessoas a que
acrescem os subsídios de férias e de Natal.
Todavia, uns ganham mais que outros. Maia Seco aufere uma remuneração ilíquida de 58.865 euros por ano, a que se juntam 17.665 euros para despesas de representação e três mil euros de telemóvel e subsídio de alimentação. Salienta-se ainda outros recortes na imprensa, “ Jipe BMW para o presidente do Conselho de Administração, o demissionário Álvaro Maia Seco, e dois outros BMW (série 5) para os vogais executivos Carlos Picado e João Rebelo, são uma parte dos custos que a Sociedade Metro Mondego (MM) está a suportar em “regalias e compensações” atribuídas aos seus dirigentes.
Só estas três viaturas custam cerca de 40 mil euros por ano ao erário público em prestações pagas à instituição financeira, combustíveis, seguro e reparações”. Mais ainda, “Os dois vogais executivos, Carlos Picado e João Rebelo, recebem cada um 51.188 euros e mais 13.663 euros de despesas de representação por ano.
Acrescem custos com segurança social e seguros de vida que, para os sete membros do conselho de administração, incluindo não executivos, é de 30 mil euros anuais.”
Todavia, uns ganham mais que outros. Maia Seco aufere uma remuneração ilíquida de 58.865 euros por ano, a que se juntam 17.665 euros para despesas de representação e três mil euros de telemóvel e subsídio de alimentação. Salienta-se ainda outros recortes na imprensa, “ Jipe BMW para o presidente do Conselho de Administração, o demissionário Álvaro Maia Seco, e dois outros BMW (série 5) para os vogais executivos Carlos Picado e João Rebelo, são uma parte dos custos que a Sociedade Metro Mondego (MM) está a suportar em “regalias e compensações” atribuídas aos seus dirigentes.
Só estas três viaturas custam cerca de 40 mil euros por ano ao erário público em prestações pagas à instituição financeira, combustíveis, seguro e reparações”. Mais ainda, “Os dois vogais executivos, Carlos Picado e João Rebelo, recebem cada um 51.188 euros e mais 13.663 euros de despesas de representação por ano.
Acrescem custos com segurança social e seguros de vida que, para os sete membros do conselho de administração, incluindo não executivos, é de 30 mil euros anuais.”
Segundo o anunciado nas redes
sociais, no Relatório do Tribunal de Contas, “os custos passaram de uma estimativa de 122 milhões de euros, feita em
1997, para 512 milhões em 2011. Chamava ainda a atenção para o despesismo da
administração da MM que –todos eles desempenhavam funções remuneradas noutras
instituições ou empresas- segundo o relatório, entre 1997 e 2010, despendeu 95%
do orçamento com os seus 12 funcionários, cerca de 3,4 milhões de euros.”
Fala-se hoje que a factura Metro Mondego já
vai em 150 milhões.
CONCLUSÕES
É fácil concluir que esta ideia de ter um
metro ligeiro na cidade partiu de um novo-riquismo que atravessou toda a última
década do passado século e que teve o seu paradigma em Mirandela com o seu
metro ligeiro nascido em 1995 e criado para fazer um percurso de quatro
quilómetros. Hoje, segundo a imprensa, o seu custo é insustentável.
Em Coimbra, até hoje, e sabendo todos os
envolvidos que a linha da Lousã dava um prejuízo mensal de 25 mil euros, ainda
ninguém demonstrou a viabilidade económica, entre custos e proveitos, da
implantação do “tran-tran” entre Serpins e a Estação Velha e a Baixa e o
Hospital.
PARA QUE SERVIU?
Conforme se extrai do que é aqui enumerado,
salvo melhor opinião e certamente com algumas excepções, este intento serviu
para o PS e o PSD colocarem os seus correlegionários em lugares bem remunerados;
Serviu para os presidentes das Câmaras
Municipais de Coimbra, Miranda do Corvo e Lousã, respectivamente, Carlos
Encarnação, Fátima Ramos e Fernando Carvalho ganharem as consecutivas eleições
ao longo da primeira década deste novo milénio;
Serviu para esventrar a Baixa, no seu miolo
histórico, e destruir habitações antigas, expulsando para a periferia, quem
aqui nasceu e encerrando pequenos negócios industriais e comerciais, e
inscrever Coimbra no dicionário da demagogia.
PARA QUE SERVE AGORA?
Num “déjà
vu” nosso conhecido, visto e revisto, vai continuar a ser a muleta das três
autarquias, Miranda, Lousã e Coimbra, para os seus presidentes, pendurados no
comboio, se afirmarem junto dos seus eleitores. Os dois primeiros, Miranda e
Lousã, como sabem que só atrelados ao famigerado Metro Ligeiro de Superfície da
cidade conseguem inscrever este projecto no próximo QCA, Quadro Comunitário de Apoio, mesmo sabendo que estão a hipotecar o futuro dos nossos
filhos e netos e num egoísmo sem igual, continuam a bater-se pela vida de um projecto-defunto
que está morto e enterrado;
Se não se parar o plano de Manuel Machado, na
intenção de agregar o metro aos SMTUC, é previsível a destruição futura desta
empresa municipal.
O QUE DEVERIA SER FEITO?
Tal como afirmou Passos Coelho, havendo
possibilidades financeiras, apenas a linha da Lousã deve ser reposta.
Sobretudo, pela dívida moral que o Estado deve às gentes além-Ceira;
Se vivêssemos num Estado de
direito, onde a responsabilidade civil estivesse acima da política, todos os
implicados directamente neste esbanjamento público e que deles beneficiaram,
todos, deveriam ser julgados por gestão danosa da coisa pública.
2 comentários:
Já vi muita gente a falar e a escrever sobre esta questões mas tenho de me render às evidências, foi o melhor e mais bem elaborado que já li, porque conheço bem a realidade das desventuras do MMondego, só posso dizer que está, neste texto tudo e toda a verdade, já não me iludo, de facto, não é nos pasquim locais que se lê a verdade, pois muitos dos nomes citados, influenciam os editores, em particular uma certa família de Miranda do Corvo, por aqui se vê, e lê, no seu texto, que a verdade vem da voz do povo.
Muitos parabéns pela escrita e pelas verdades que na maioria dos seus textos, nos dá.
Um bem Haja
Gostaria de saber, porque é que a Carris, os STCP dão prejuizo atrás de prejuízo, e ninguém põe em causa a sua existência ou exploração estatal!
Este texto é egoísta e fruto de quem não tem problemas de mobilidade mas também não pensa nos outros.
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