quinta-feira, 16 de janeiro de 2014

AS ÁGUAS DE COIMBRA E O MEU MAU AGRADECIMENTO

(Foto do Diário de Coimbra)


 Esta “estória” começa por trazer ao de cima o meu reconhecimento de que sou um fulano muito distraído, como vulgarmente se diz, durmo na forma, fazendo alusão à formatura militar. Quem faz o favor de me ler, deve lembrar-se que no ano passado trouxe à colação o caso do Banco Montepio Geral por, durante três anos, me ter cobrado uma taxa em duplicado. Quando acordei reclamei e, por palavras, foi-me dito de que a verba cobrada ilegitimamente me seria devolvida. Passado meio-ano, quando recebi, reparei que apenas metade da verba por mim despendida me tinha sido creditada. O argumento foi de que “passara muito tempo”. Para a reposição da ilegalidade ser ressarcida tive de pedir a intervenção do Banco de Portugal e do Provedor de Justiça. E foi. Hoje, passado meio-ano, como não sou de guardar rancor –mas não esqueço-, já ando de beijinhos e abraços com a entidade bancária que, agora mais calma, me quer sugar a alma.
Desta vez, a meu ver também na esfera do surreal, fui acometido de mais um coice. No bom sentido, é claro! Como quem diz mais um beijinho de Judas. Antes de contar, o curioso é notar que factos destes estão sempre a cair-me no regaço. Até parece que é o destino a dar-me matéria para eu escrever e alertar outros incautos como eu. Antes de prosseguir, e para que não me tomem com outro estatuto, confesso já que sou uma espécie de fidalgote da realeza que aparenta ser rico mas, virado ao contrário, nem um cêntimo toca o chão.
Agora sim, vamos à narração. Tenho vários contratos celebrados com a empresa Águas de Coimbra (AC). Então, como o dinheiro no meu bolso é uma espécie de andorinha que só de tempos-a-tempos regressa, tenho por costume juntar todas as facturas e, no prazo limite, vou pagar à Loja do Cidadão. Tenho por costume recomendar à funcionária: “veja se está tudo, se não fica nada pendurado!”. Ontem, como é hábito, fui liquidar o débito em atraso, mas que pago juros. Desta vez, porque não levei as notificações comigo, sei lá se por achar pouco, fui enumerando as moradas dos contadores. Foi então que a funcionária das AC me transmitiu que um dos contratos estava com interrupção de fornecimento, como se diz na gíria, estava cortado. E portanto, em consequência, teria de pagar 45,34 € para repor o anterior. Acontece que nem tinha um corte no fornecimento nem recebi qualquer comunicação de que tal iria acontecer. E expliquei isto mesmo à senhora. E a funcionária, muito simpática e prestável, atirou logo: “óptimo, nesse caso o senhor só paga metade, mas tem de se dirigir ao outro extremo das cidade, à sede das AC”. Regressei ao meu ninho e verifiquei que as facturas referentes ao contrato em falta foram colocadas pelo carteiro numa caixa de correio marginal. Verifiquei também que não havia lá nenhum aviso de corte, nem nenhuma informação de que por lá passou um qualquer trabalhador das AC com intenção de bloquear o contador e, por qualquer impossibilidade, não conseguira.
Sendo assim, já que não me restava outra hipótese e também porque, apesar de ter mais defeitos que buracos numa rede, tenho pelo menos uma qualidade: sou bem-mandado. E lá fui para a Rua da Alegria –quer dizer, alegria só se for para as AC, que eu ando triste como a noite. E lá na casa do senhor de todas as águas de Coimbra, mais uma vez, agora perante uma representante da empresa –que, por acaso até é minha conhecida- lá expliquei o que tinha acontecido. Ou seja, não tive interrupção de fornecimento nem qualquer comunicação prévia ou a posteriori a informar-me da impossibilidade de efectuar o bloqueamento no contador –que está à vista e de aceso fácil. Diz-me a minha conhecida aquilo que eu já sabia: “então pagas só metade, 22,67 €”. Perante o meu descontentamento, ainda atirou: “bolas, pagas metade e ainda reclamas?”. Perante a sua compreensão, ali à sua frente estava alguém que ela julgava conhecer mas não passava de um sujeito mal-agradecido. Isto é, por um serviço que não me foi prestado, de facto, eu deveria estar grato, pagar e não bufar. Mas eu não sou flor que se cheire, paguei mas bufei. E lá ficou o registo no Livro de Reclamações. Salvo melhor opinião, porque há outras naturalmente, no meu entendimento bacoco, as AC não podem cobrar uma intenção. Podem exigir um pagamento pelo cumprimento de uma prestação de facto e não por um propósito pensado na secretaria. Mesmo se o funcionário se deslocou ao locado e não cumpriu a obrigação –que não será o caso porque não foi deixada qualquer prova da sua passagem.  No meu sentido de justiça, as AC só podem cobrar este serviço se efectivamente provarem que houve impossibilidade de concretizar o acto. Sei por linhas travessas que as AC são useiras e vezeiras a cobrar este género de serviço não consumado de facto e partindo do intuito. Era bom que os senhores administradores, muito bem pagos -e que lhes faça bom proveito que eu por cá, teso mas alegre, fico bem graças a Deus-, descessem à terra e verificassem que os consumidores, como eu e mais lisos que uma mó, não podem continuar a serem espoliados de uma maneira infame, só com o argumento de que “é assim porque tem de ser”. Não é não! Digo eu!

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