(Foto do Diário de Coimbra)
Esta “estória” começa por trazer
ao de cima o meu reconhecimento de que sou um fulano muito distraído, como
vulgarmente se diz, durmo na forma, fazendo
alusão à formatura militar. Quem faz o favor de me ler, deve lembrar-se que no
ano passado trouxe à colação o caso do Banco Montepio Geral por, durante três
anos, me ter cobrado uma taxa em duplicado. Quando acordei reclamei e, por palavras,
foi-me dito de que a verba cobrada ilegitimamente me seria devolvida. Passado
meio-ano, quando recebi, reparei que apenas metade da verba por mim despendida me
tinha sido creditada. O argumento foi de que “passara muito tempo”. Para a reposição da ilegalidade ser
ressarcida tive de pedir a intervenção do Banco de Portugal e do Provedor de
Justiça. E foi. Hoje, passado meio-ano, como não sou de guardar rancor –mas não
esqueço-, já ando de beijinhos e abraços com a entidade bancária que, agora
mais calma, me quer sugar a alma.
Desta vez, a meu ver também na
esfera do surreal, fui acometido de mais um coice.
No bom sentido, é claro! Como quem diz mais um beijinho de Judas. Antes de contar, o curioso é notar que factos
destes estão sempre a cair-me no regaço. Até parece que é o destino a dar-me
matéria para eu escrever e alertar outros incautos como eu. Antes de
prosseguir, e para que não me tomem com outro estatuto, confesso já que sou uma
espécie de fidalgote da realeza que aparenta ser rico mas, virado ao contrário,
nem um cêntimo toca o chão.
Agora sim, vamos à narração.
Tenho vários contratos celebrados com a empresa Águas de Coimbra (AC). Então,
como o dinheiro no meu bolso é uma espécie de andorinha que só de tempos-a-tempos
regressa, tenho por costume juntar todas as facturas e, no prazo limite, vou
pagar à Loja do Cidadão. Tenho por costume recomendar à funcionária: “veja se está tudo, se não fica nada
pendurado!”. Ontem, como é hábito, fui liquidar o débito em atraso, mas que
pago juros. Desta vez, porque não levei as notificações comigo, sei lá se por
achar pouco, fui enumerando as moradas dos contadores. Foi então que a
funcionária das AC me transmitiu que um dos contratos estava com interrupção de
fornecimento, como se diz na gíria, estava cortado.
E portanto, em consequência, teria de pagar 45,34 € para repor o anterior.
Acontece que nem tinha um corte no fornecimento nem recebi qualquer comunicação
de que tal iria acontecer. E expliquei isto mesmo à senhora. E a funcionária,
muito simpática e prestável, atirou logo: “óptimo,
nesse caso o senhor só paga metade, mas tem de se dirigir ao outro extremo das cidade,
à sede das AC”. Regressei ao meu ninho e verifiquei que as facturas
referentes ao contrato em falta foram colocadas pelo carteiro numa caixa de
correio marginal. Verifiquei também que não havia lá nenhum aviso de corte, nem
nenhuma informação de que por lá passou um qualquer trabalhador das AC com
intenção de bloquear o contador e, por qualquer impossibilidade, não
conseguira.
Sendo assim, já que não me
restava outra hipótese e também porque,
apesar de ter mais defeitos que buracos numa rede, tenho pelo menos uma
qualidade: sou bem-mandado. E lá fui para a Rua da Alegria –quer dizer,
alegria só se for para as AC, que eu ando triste como a noite. E lá na casa do senhor de todas as águas de Coimbra,
mais uma vez, agora perante uma representante da empresa –que, por acaso até é
minha conhecida- lá expliquei o que tinha acontecido. Ou seja, não tive interrupção
de fornecimento nem qualquer comunicação prévia ou a posteriori a informar-me da impossibilidade de efectuar o
bloqueamento no contador –que está à vista e de aceso fácil. Diz-me a minha
conhecida aquilo que eu já sabia: “então
pagas só metade, 22,67 €”. Perante o meu descontentamento, ainda atirou: “bolas, pagas metade e ainda reclamas?”. Perante
a sua compreensão, ali à sua frente estava alguém que ela julgava conhecer mas
não passava de um sujeito mal-agradecido. Isto é, por um serviço que não me foi
prestado, de facto, eu deveria estar grato, pagar e não bufar. Mas eu não sou flor que se cheire, paguei mas bufei. E
lá ficou o registo no Livro de
Reclamações. Salvo melhor opinião, porque há outras naturalmente, no meu
entendimento bacoco, as AC não podem cobrar uma intenção. Podem exigir um
pagamento pelo cumprimento de uma prestação de facto e não por um propósito
pensado na secretaria. Mesmo se o funcionário se deslocou ao locado e não
cumpriu a obrigação –que não será o caso porque não foi deixada qualquer prova
da sua passagem. No meu sentido de
justiça, as AC só podem cobrar este serviço se efectivamente provarem que houve
impossibilidade de concretizar o acto. Sei por linhas travessas que as AC são
useiras e vezeiras a cobrar este género de serviço não consumado de facto e
partindo do intuito. Era bom que os senhores administradores, muito bem pagos -e
que lhes faça bom proveito que eu por cá, teso mas alegre, fico bem graças a
Deus-, descessem à terra e verificassem que os consumidores, como eu e mais
lisos que uma mó, não podem continuar a serem espoliados de uma maneira infame,
só com o argumento de que “é assim porque
tem de ser”. Não é não! Digo eu!
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