sexta-feira, 22 de novembro de 2013

LEIA O DESPERTAR...



LEIA AQUI O DESPERTAR DESTA SEMANA 

Para além  do texto "A BAIXA À PROCURA DA MAGIA PERDIDA DO NATAL", deixo também a crónica "SANTOS E PECADORES"


A BAIXA À PROCURA DA MAGIA PERDIDA DO NATAL

 Estamos a cerca de um mês do Natal. Como prisioneiros que esperam a hora da execução, os comerciantes da Baixa, enrolados num manto sorumbático, olhando a porta de entrada à espera do cliente-surpresa que lhe safe o mês, veem o fim cada vez mais próximo –este início de texto é desgraçado e apocalíptico? É, sim senhor! Mas fique o senhor leitor a saber que é a verdade. Este é o ambiente que se vive atualmente no Centro Histórico. Escamotear esta veracidade é negar a própria vida e fazer de conta que tudo vai bem. Felizes daqueles que, extasiados num amanhã que nunca chega, se negam a aceitarem esta certeza. No conjunto, os comerciantes mais antigos estão velhos pela idade e os mais novos, recém-chegados, estão envelhecidos pela frustração de verem os seus sonhos, carregados de otimismo utópico agora realizados, serem esmagados pela brutalidade da realidade.
Se o desanimar é o verbo, a esperança numa época de vendas como era o Natal já foi. Para aumentar o desalento crescem interrogações. Por exemplo, este ano vai haver iluminações nas ruas? Tendo em conta o antecedente na última década, pode até parecer uma pergunta estúpida, mas se explicar os fundamentos deixa de o ser. Até 2001, altura em que Manuel Machado, do PS, presidente da Câmara Municipal de Coimbra (CMC), cedeu o lugar a Carlos Encarnação, as ornamentações natalícias eram pagas pelos comerciantes. Com o PSD no poder a despesa das luzinhas passou a ser elencada nos custos de exercício da autarquia. Agora que os sociais-democratas se foram quem paga as iluminações? Uma coisa é certa, os comerciantes, com o grau de endividamento geral que sofrem, dificilmente chamarão a si este encargo. Quanto muito, por questões de afirmação e bairrismo, duas ou três ruas farão o impossível para continuar a tradição.
Para complicar ainda mais as coisas, a APBC, Agência para a Promoção da Baixa de Coimbra, mantém uma direção de prorrogação. O seu mandato extinguiu-se em Junho. Deveriam ter sido convocadas eleições, mas com a proximidade do sufrágio autárquico entendeu-se –e muito bem- prolongar a representação até se avistar fumo branco no palácio da Praça 8 de Maio. Acontece que, naturalmente, com os novos locatários na edilidade a situação relacional ainda não está definida –lembro que a CMC é o maior associado fundador na agência, seguindo-se a ACIC, Associação Comercial e Industrial de Coimbra, a Associação de Panificação do Centro e as juntas de Freguesia de Santa Cruz e São Bartolomeu.
Para aumentar a incerteza de quem labora comercialmente nesta zona antiga, a ACIC foi declarada insolvente e nada se sabe do que aconteceu na última Assembleia Geral Ordinária realizada no passado dia 13. Ou seja, aparentemente, neste momento os lojistas não têm um órgão associativo que os defenda institucionalmente e estão entregues à sua sorte. O que leva a especular que os estatutos da APBC pedem uma urgente reformulação de competências, passando não só da localizada “promoção e modernização da zona da baixa de Coimbra, visando a requalificação daquela zona e o desenvolvimento da gestão unitária e integrada de serviços de interesse comum” para uma jurídica e institucional associação de representação geográfica alargada a todos comerciantes da cidade. É óbvio que esta alteração implica o corte umbilical com a edilidade. Ora, acontecendo esta secessão, como é que consegue sobreviver?
Demasiadas questões para centralizar numa resposta objetiva. Uma coisa é certa: a Baixa, neste Natal, está entalada entre um presente cheio de incógnitas e um futuro que, infelizmente, cada vez mais se augura pouco auspicioso.


SANTOS E PECADORES

 Todos sabem que sempre que há um evento público na cidade, cortejo de estudantes, prova de atletismo, procissão ou outra qualquer manifestação, o trânsito automóvel é cortado sem planos prévios e de modo a colmatar os menores transtornos de todos, e a urbe transforma-se num labirinto de saídas impossíveis. Sobretudo sem levar em conta os prejuízos económicos que podem advir para os automobilistas. Em decisão sem ponderação equitativa e tendo em conta as partes em confronto de interesses, é como se quem decide na secretaria tenha um apriorismo de que quem circula na estrada anda sistematicamente a passear de popó e os outros, os tomadores do asfalto pela reivindicação, cívica ou cultural, sem discussão, sejam os abençoados mensageiros da causa de todas as causas nobres. Por isso mesmo, em completo desrespeito pelos primeiros, os condutores, os segundos, de forma abusiva, arbitrária e discriminatória, ocupam o espaço público que é de todos. Nem vou contar as experiências em que tenho sido interveniente. Qualquer um de nós que conduza viatura já provou na carne estas decisões pouco ortodoxas e que nos fazem eriçar a pele pela injustiça latente. É como se sentíssemos que a cidade se coloca de cócoras perante o invasor.
E comecei a escrever esta crónica em face da indignação de Ermelinda Adelino, uma nossa munícipe da Baixa, por causa de um acontecimento recente e relacionado. Vamos ouvi-la: “no dia do último Cortejo da Latada, realizado em 22 do mês passado, terça-feira, entre a parte Alta e a Baixa da Cidade, excetuando o transporte público, o trânsito automóvel particular foi interrompido na zona do Largo da Portagem e estava a ser desviado para a Ponte de Santa Clara. Eram cerca de 17h00. Como o transporte coletivo de passageiros estivesse a tardar, já que começava a fazer-se tarde para eu recolher o meu neto no colégio, em São José, tomei um táxi junto à Estação Nova e dei anotação ao motorista para seguir para a zona do Estádio. Seguíamos atrás de um autocarro. Para minha surpresa, nos semáforos da Portagem, sobre indicações de um agente da PSP, o veículo camarário seguiu e o carro de aluguer onde era transportada foi obrigado a cortar para a ponte sobre o Mondego. Acontece que, por acaso, só levava 5 euros. Ora em face das voltas que o automóvel de passageiros iria dar vi logo que iria ficar num mar de problemas e mandei encostar o táxi. Indaguei junto do cívico da razão de não podermos prosseguir a marcha atrás do autocarro. O agente, nitidamente agastado, sublinhou que por ali o táxi não passava. Tentei explicar a razão da minha pressa e de ter tomado aquele transporte pela necessidade. Perante a minha falta de paciência notada, o homem da farda replicou que eu fosse a pé. Voltei para a paragem de autocarros e, apesar da ansiedade e muita irritação, esperei. No autobus, enquanto percorria a distância que me separava do meu neto, comecei a interrogar-me se os táxis não seriam também considerados transportes públicos. Peguei no meu menino e, como passava ao lado da Esquadra da PSP, junto à Elísio de Moura, interroguei um agente: diga-me, que tipo de transporte é considerado um táxi? Ele respondeu: “transporte público!”.
Em juízo de valor e considerando as declarações desta cidadã, talvez o senhor Comandante da PSP de Coimbra devesse ponderar no sentido de informar os seus comandados na destrinça entre serviço público e privado e, já agora, sempre que houver interrupções de trânsito na cidade, também pensar na harmonização de interesses e de modo a escolher o mal menor para todos e não apenas para alguns.

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