LEIA AQUI O DESPERTAR DESTA SEMANA
Para além do texto "A BAIXA À PROCURA DA MAGIA PERDIDA DO NATAL", deixo também a crónica "SANTOS E PECADORES"
A BAIXA À PROCURA DA MAGIA PERDIDA DO NATAL
Estamos a cerca de um mês do Natal. Como prisioneiros que
esperam a hora da execução, os comerciantes da Baixa, enrolados num manto
sorumbático, olhando a porta de entrada à espera do cliente-surpresa que lhe safe
o mês, veem o fim cada vez mais próximo –este início de texto é desgraçado e
apocalíptico? É, sim senhor! Mas fique o senhor leitor a saber que é a verdade.
Este é o ambiente que se vive atualmente no Centro Histórico. Escamotear esta veracidade
é negar a própria vida e fazer de conta que tudo vai bem. Felizes daqueles que,
extasiados num amanhã que nunca chega, se negam a aceitarem esta certeza. No
conjunto, os comerciantes mais antigos estão velhos pela idade e os mais novos,
recém-chegados, estão envelhecidos pela frustração de verem os seus sonhos,
carregados de otimismo utópico agora realizados, serem esmagados pela
brutalidade da realidade.
Se o desanimar é o verbo, a
esperança numa época de vendas como era o Natal já foi. Para aumentar o
desalento crescem interrogações. Por exemplo, este ano vai haver iluminações
nas ruas? Tendo em conta o antecedente na última década, pode até parecer uma
pergunta estúpida, mas se explicar os fundamentos deixa de o ser. Até 2001,
altura em que Manuel Machado, do PS, presidente da Câmara Municipal de Coimbra
(CMC), cedeu o lugar a Carlos Encarnação, as ornamentações natalícias eram
pagas pelos comerciantes. Com o PSD no poder a despesa das luzinhas passou a
ser elencada nos custos de exercício da autarquia. Agora que os
sociais-democratas se foram quem paga as iluminações? Uma coisa é certa, os
comerciantes, com o grau de endividamento geral que sofrem, dificilmente
chamarão a si este encargo. Quanto muito, por questões de afirmação e bairrismo,
duas ou três ruas farão o impossível para continuar a tradição.
Para complicar ainda mais as
coisas, a APBC, Agência para a Promoção da Baixa de Coimbra, mantém uma direção de prorrogação. O seu mandato
extinguiu-se em Junho. Deveriam ter sido convocadas eleições, mas com a proximidade
do sufrágio autárquico entendeu-se –e muito bem- prolongar a representação até
se avistar fumo branco no palácio da Praça 8 de Maio. Acontece que,
naturalmente, com os novos locatários na edilidade a situação relacional ainda
não está definida –lembro que a CMC é o maior associado fundador na agência,
seguindo-se a ACIC, Associação Comercial e Industrial de Coimbra, a Associação
de Panificação do Centro e as juntas de Freguesia de Santa Cruz e São
Bartolomeu.
Para aumentar a incerteza de quem
labora comercialmente nesta zona antiga, a ACIC foi declarada insolvente e nada
se sabe do que aconteceu na última Assembleia Geral Ordinária realizada no
passado dia 13. Ou seja, aparentemente, neste momento os lojistas não têm um
órgão associativo que os defenda institucionalmente e estão entregues à sua
sorte. O que leva a especular que os estatutos da APBC pedem uma urgente
reformulação de competências, passando não só da localizada “promoção e modernização da zona da baixa de
Coimbra, visando a requalificação daquela zona e o desenvolvimento da gestão
unitária e integrada de serviços de interesse comum” para uma jurídica e
institucional associação de representação geográfica alargada a todos
comerciantes da cidade. É óbvio que esta alteração implica o corte umbilical
com a edilidade. Ora, acontecendo esta secessão, como é que consegue
sobreviver?
Demasiadas questões para centralizar
numa resposta objetiva. Uma coisa é certa: a Baixa, neste Natal, está entalada
entre um presente cheio de incógnitas e um futuro que, infelizmente, cada vez
mais se augura pouco auspicioso.
SANTOS E PECADORES
Todos sabem que sempre que há um evento público na cidade,
cortejo de estudantes, prova de atletismo, procissão ou outra qualquer
manifestação, o trânsito automóvel é cortado sem planos prévios e de modo a
colmatar os menores transtornos de todos, e a urbe transforma-se num labirinto
de saídas impossíveis. Sobretudo sem levar em conta os prejuízos económicos que
podem advir para os automobilistas. Em decisão sem ponderação equitativa e
tendo em conta as partes em confronto de interesses, é como se quem decide na
secretaria tenha um apriorismo de que quem circula na estrada anda
sistematicamente a passear de popó e os outros, os tomadores do asfalto pela
reivindicação, cívica ou cultural, sem discussão, sejam os abençoados
mensageiros da causa de todas as causas nobres. Por isso mesmo, em completo
desrespeito pelos primeiros, os condutores, os segundos, de forma abusiva,
arbitrária e discriminatória, ocupam o espaço público que é de todos. Nem vou
contar as experiências em que tenho sido interveniente. Qualquer um de nós que
conduza viatura já provou na carne estas decisões pouco ortodoxas e que nos
fazem eriçar a pele pela injustiça latente. É como se sentíssemos que a cidade
se coloca de cócoras perante o invasor.
E comecei a escrever esta crónica em face da
indignação de Ermelinda Adelino, uma nossa munícipe da Baixa, por causa de um
acontecimento recente e relacionado. Vamos ouvi-la:
“no dia do último Cortejo da Latada,
realizado em 22 do mês passado, terça-feira, entre a parte Alta e a Baixa da
Cidade, excetuando o transporte público, o trânsito automóvel particular foi
interrompido na zona do Largo da Portagem e estava a ser desviado para a Ponte
de Santa Clara. Eram cerca de 17h00. Como o transporte coletivo de passageiros estivesse
a tardar, já que começava a fazer-se tarde para eu recolher o meu neto no
colégio, em São José, tomei um táxi junto à Estação Nova e dei anotação ao
motorista para seguir para a zona do Estádio. Seguíamos atrás de um autocarro.
Para minha surpresa, nos semáforos da Portagem, sobre indicações de um agente
da PSP, o veículo camarário seguiu e o carro de aluguer onde era transportada
foi obrigado a cortar para a ponte sobre o Mondego. Acontece que, por acaso, só
levava 5 euros. Ora em face das voltas que o automóvel de passageiros iria dar
vi logo que iria ficar num mar de problemas e mandei encostar o táxi. Indaguei
junto do cívico da razão de não podermos prosseguir a marcha atrás do
autocarro. O agente, nitidamente agastado, sublinhou que por ali o táxi não
passava. Tentei explicar a razão da minha pressa e de ter tomado aquele
transporte pela necessidade. Perante a minha falta de paciência notada, o homem
da farda replicou que eu fosse a pé. Voltei para a paragem de autocarros e,
apesar da ansiedade e muita irritação, esperei. No autobus, enquanto percorria
a distância que me separava do meu neto, comecei a interrogar-me se os táxis
não seriam também considerados transportes públicos. Peguei no meu menino e,
como passava ao lado da Esquadra da PSP, junto à Elísio de Moura, interroguei
um agente: diga-me, que tipo de transporte é considerado um táxi? Ele
respondeu: “transporte público!”.
Em juízo de valor e considerando as
declarações desta cidadã, talvez o senhor Comandante da PSP de Coimbra devesse
ponderar no sentido de informar os seus comandados na destrinça entre serviço
público e privado e, já agora, sempre que houver interrupções de trânsito na
cidade, também pensar na harmonização de interesses e de modo a escolher o mal
menor para todos e não apenas para alguns.
Sem comentários:
Enviar um comentário