terça-feira, 19 de novembro de 2013

A BAIXA À PROCURA DA MAGIA PERDIDA DO NATAL






Estamos a cerca de um mês do Natal. Como prisioneiros que esperam a hora da execução, os comerciantes da Baixa, enrolados num manto sorumbático, olhando a porta de entrada à espera do cliente-surpresa que lhe safe o mês, vêem o fim cada vez mais próximo –este início de texto é desgraçado e apocalíptico? É, sim senhor! Mas fique o senhor leitor a saber que é a verdade. Este é o ambiente que se vive actualmente no Centro Histórico. Escamotear esta veracidade é negar a própria vida e fazer de conta que tudo vai bem. Felizes daqueles que, extasiados num amanhã que nunca chega, se negam a aceitarem esta certeza. No conjunto, os comerciantes mais antigos estão velhos pela idade e os mais novos, recém-chegados, estão envelhecidos pela frustração de verem os seus sonhos, carregados de optimismo utópico agora realizados, serem esmagados pela brutalidade da realidade.
Se o desanimar é o verbo, a esperança numa época de vendas como era o Natal já foi. Para aumentar o desalento crescem interrogações. Por exemplo, este ano vai haver iluminações nas ruas? Tendo em conta o antecedente na última década, pode até parecer uma pergunta estúpida, mas se explicar os fundamentos deixa de o ser. Até 2001, altura em que Manuel Machado, do PS, presidente da Câmara Municipal de Coimbra (CMC), cedeu o lugar a Carlos Encarnação, as ornamentações natalícias eram pagas pelos comerciantes. Com o PSD no poder a despesa das luzinhas passou a ser elencada nos custos de exercício da autarquia. Agora que os sociais-democratas se foram quem paga as iluminações? Uma coisa é certa, os comerciantes, com o grau de endividamento geral que sofrem, dificilmente chamarão a si este encargo. Quanto muito, por questões de afirmação e bairrismo, duas ou três ruas farão o impossível para continuar a tradição.
Para complicar ainda mais as coisas, a APBC, Agência para a Promoção da Baixa de Coimbra, mantém uma direcção de prorrogação. O seu mandato extinguiu-se em Junho. Deveriam ter sido convocadas eleições, mas com a proximidade do sufrágio autárquico entendeu-se –e muito bem- prolongar a representação até se avistar fumo branco no palácio da Praça 8 de Maio. Acontece que, naturalmente, com os novos locatários na edilidade a situação relacional ainda não está definida –lembro que a CMC é o maior associado fundador na agência, seguindo-se a ACIC, Associação Comercial e Industrial de Coimbra, a Associação de Panificação do Centro e as agora agregadas Juntas de Freguesia de Santa Cruz e São Bartolomeu.
Para aumentar a incerteza de quem labora comercialmente nesta zona antiga, a ACIC foi declarada insolvente e nada se sabe do que aconteceu na última Assembleia Geral Ordinária realizada no passado dia 13. Ou seja, aparentemente, neste momento os lojistas não têm um órgão associativo que os defenda institucionalmente e estão entregues à sua sorte. O que leva a especular que os estatutos da APBC pedem uma urgente reformulação de competências, passando não só da localizada “promoção e modernização da zona da baixa de Coimbra, visando a requalificação daquela zona e o desenvolvimento da gestão unitária e integrada de serviços de interesse comum” para uma jurídica e institucional associação de representação geográfica alargada a todos comerciantes da cidade. É óbvio que esta alteração implica o corte umbilical com a edilidade. Ora, acontecendo esta secessão, como é que consegue sobreviver?
Demasiadas questões para centralizar numa resposta objectiva. Uma coisa é certa: a Baixa, neste Natal, está entalada entre um presente cheio de incógnitas e um futuro que, infelizmente, cada vez mais se augura pouco auspicioso.

1 comentário:

Lurdes Pedroso disse...

E não se vislumbra nenhuma luz ao fundo do túnel!
Apostou-se nas grandes e médias superfícies! As lojas chinesas continuam a abrir e a dar algum movimento por ruas que praticamente estão desertas. A habitação está degradada e já poucos a habitam. As Instituições que deveriam ter alguma intervenção neste descalabro estão completamente moribundas. Resta somente a Universidade e os quartos (agora andares) para alugar!