Pedro Tadeu, jornalista do DN
"NÃO TEMOS AUTORIDADE PARA CRITICAR OS POLÍCIAS
Cabeças que se orgulham de exibir
um carimbo de sensatez na testa têm anunciado o descalabro da autoridade, o fim
da solidez democrática, talvez mesmo o esboroamento da Pátria, a propósito da
manifestação de polícias da passada quinta-feira.
Recordo a evolução dos
acontecimentos: as grades que separavam 10 mil agentes da PSP dos elementos da
Unidade Especial de Polícia foram, a dada altura, levantadas. Um grupo de
manifestantes subiu a escadaria do Parlamento. A polícia de choque deixou seguir.
Os homens pararam antes das arcadas, gritaram palavras de ordem e, minutos
depois, voltaram a descer. Tudo em grande excitação mas em relativa paz - nem
um papel caído no mármore ficou a conspurcar o solo que pisam os deputados da
Nação.
Imagino a evolução aparentemente
esperada pelos que tanto se espantam: os manifestantes derrubavam as grades e
desatavam aos tiros para tentar invadir a Assembleia da República. A polícia de
choque avançava e desfazia a mole à bastonada e a gás lacrimogéneo. O sangue mancharia
a pedra branca da casa da democracia. Contavam-se os feridos e, talvez, os
mortos...
Não sei o que disse o ministro da
Administração Interna, Miguel Macedo, ao diretor nacional da PSP por causa do
que se passou, levando à demissão de Paulo Valente Gomes. Mas nem quero
imaginar o que ele teria de dizer se ocorresse uma batalha campal. Nesse caso
Paulo Valente Gomes não só era demitido como teria de responder em tribunal.
Era isso que queriam?
Dizem as tais vozes reclamantes
do bom senso terem os polícias fragilizado a sua imagem: "A próxima vez
que tiverem de expulsar manifestantes a tentar subir as escadarias de São
Bento, com que autoridade poderão fazê-lo?", perguntam.
Eu alvitro que a autoridade de
exercer a repressão em nome do Estado não se perde assim. Não estou a ver um
miúdo encoberto com um lenço palestiniano conseguir convencer o homem fardado
de capacete e escudo, a brandir o cassetete: "O senhor não tem autoridade
- ui! - para me impedir de subir estas escadas - ai! Pare lá com isso - bolas!
- então, está a bater em mim e - porra! - não bateu nos seus colegas? Não há
direito - chiça!... apre, que isso dói!"...
É mais séria aquela argumentação
apresentada pelos ditos sensatos deste país ou aquela que o louco que aqui
escreve vai agora expor - 787 euros era o salário mensal do soldado Bruno
Chainho, assassinado sábado, no Pinhal Novo, por um sequestrador. Enquanto este
País pagar desta forma miserável a quem, da PSP ou da GNR, aceita como missão
dar a vida por qualquer um de nós, ninguém tem autoridade para criticar
protestos tão cândidos como os de quinta-feira."
Sem comentários:
Enviar um comentário