quarta-feira, 1 de junho de 2011

UM COMENTÁRIO RECEBIDO (SOBRE...)




Anónimo deixou um novo comentário na sua mensagem "É PRECISO NÃO DORMIR NA NOITE BRANCA": 


 Gostava de saber que tipo de espectáculos é que os comerciantes querem que se realizem nas ruelas da Baixa. Têm de compreender que as ruas são muitos estreitas e nem sequer há espaço para colocar umas bancas para uma feira/mercado típico. Por isso é natural que os eventos na Baixa sejam sempre nas ruas e praças maiores, onde naturalmente há mais espaço. 
Os comerciantes em vez de estarem sempre a criticar deviam procurar soluções e arranjar ideias inovadoras para a dinamização do comercio da Baixa, sem estarem sempre à espera que a CMC, Câmara Municipal de Coimbra, faça tudo. 
A CMC criou as noites brancas que levam muita gente à Baixa e são um sucesso, agora é altura dos comerciantes chamarem as pessoas da rua para as lojas.


NOTA DO EDITOR:

 Mesmo sendo anónimo entendi relevante e pertinente a sua observação e, como tal, começo por agradecer-lhe esta contribuição.
Não sei se conseguirei esclarecer todas as suas dúvidas, no entanto, vou tentar. Antecipo que, no texto que escrevi, as declarações entre comas são de comerciantes. É evidente que as partilho completamente, mas não as manipulei. Fica o esclarecimento.
A seguir, ponto por ponto, em opinião subjectiva, tentarei dar resposta às suas questões.

1 –“Gostava de saber que tipo de espectáculos é que os comerciantes querem que se realizem nas ruelas da Baixa.”

R. –O que inferi da maioria destes profissionais com quem falei, e que já há muito tempo venho aqui a defender, pugnam por pequenos eventos distribuídos por todo o perímetro da Baixa – como sabe este perímetro está balizado entre o Largo da Portagem, Avenida Fernão de Magalhães, Rua da Sofia, Praça 8 de Maio e Ruas Visconde da Luz e Ferreira Borges. Este é o contorno normalmente anunciado, naturalmente com todas as ruas e ruelas interiores. Ultimamente a zona de Quebra Costas tem pedido para ser incluída nesta circunferência. Quanto a mim, faz todo o sentido.
Mas, afinal, que tipo de espectáculos querem os comerciantes? Olhe, por exemplo, nesta última semana, na Figueira da Foz os comerciantes foram convidados a colocarem à frente das suas lojas umas pequenas bancas de venda. Segundo li num jornal –que já nem sei qual- foi um sucesso. Isto é, sem gastar muito dinheiro, com imaginação, fez-se um mercado de rua. A meu ver, uma ideia a seguir.
Vamos a outra possibilidade. Como sabe a feira de velharias está “cintada” na Praça do comércio. Porque conheço bem a área e sei do que escrevo, posso dizer-lhe que alguns vendedores deixaram de vir para Coimbra pela dificuldade em ter lugar. Então qual seria a solução? Fazer o mesmo que em Aveiro. Isto é, distribuir os vendedores em desenho oval, desde o Largo da Portagem, Rua de sargento-mor, Praça do Comércio, Adelino Veiga até ao largo do Saul Morgado, Rua Paço do Conde, Rua das Padeiras, todas as pracetas e largos da Rua Eduardo Coelho. No Largo da Freiria está um estabelecimento de velharias que seria convidado a enriquecer o largo com uma banca. Largo do Poço, Rua do Corvo, onde estivesse uma casa encerrada seria colocado um vendedor, assim como a Rua da Louça. Na praça 8 de Maio seriam colocados alguns vendedores. Assim como na Rua da Sofia e átrio da Câmara Municipal. Prosseguiria pela Ruas Visconde da Luz e Ferreira Borges, sem esquecer a ligação à Praça do Comércio pelas Escadas de Santiago. Mais ainda, todos os vendedores locais de antiguidades e velharias deveriam ser convidados a participarem com uma banca.
Esta irregularíssima circunferência valeria para todos os eventos que têm sido realizados nas ruas da calçada. Festa da Flor, as Maias Doces e outros. Incluindo a feira das Cebolas que, todos os anos, agoniza na Praça do Comércio.
Ainda lhe digo mais, a feira do livro e do artesanato deveriam ser realizadas nestas ruas com umas pequenas tendas simples. O dinheiro que, nos últimos anos se tem gasto em montagens de tendas gigantes e agora em madeira no Parque Verde é qualquer coisa de surreal. Quando a solução está mesmo à frente dos nossos olhos parece impossível como é que se não vê.
Não sei se consegui ser claro, mas a ideia é deslocalizar as pessoas de um único espaço residual para um mais alargado.

2-“Tem de compreender que as ruas são muito estreitas e nem sequer há espaço para colocar umas bancas para feira/mercado típico.”

R. –É verdade que as ruas são estreitas, mas aí reside o seu encanto. Desloque-se à feira de velharias de Aveiro, ao quarto domingo, e verá que as ruas do seu centro histórico são muito parecidas com o nosso. Verificará que algumas lojas comerciais, pelo movimento das velharias, estão abertas mesmo sendo domingo. Digo-lhe também que, anualmente se realiza uma feira antiga em Oliveira de Azeméis que envolve todo o Centro Histórico.
O facto de as ruas serem pouco largas não impede que não se coloquem espectáculos ou bancas nos seus pequenos largos ou em frente a lojas encerradas. Infelizmente, lojas fechadas, não há uma única artéria que não tenha várias.

3- “Os comerciantes em vez de estarem sempre a criticar deviam procurar soluções e arranjar ideias inovadoras para a dinamização do comércio da Baixa, sem estarem sempre à espera que a CMC faça tudo.” 

R. –Bem sei que –isto é cultural- a crítica é sempre malvista, mesmo até por aqueles a quem se dirige a benfeitoria, mas, meu amigo, sabe muito bem que é da crítica, do dissenso, da discórdia, que se chega a uma solução convergente, em que é possível harmonizar todos os interesses, beneficiando a maioria e causando o menos prejuízo. É lógico que jamais se atingirá o ideal, mas chegando ao possível já é uma vitória.
As soluções estão todas criadas. É verdade. Estão todas criadas. Não é preciso inventar nada. O problema, meu caro, sem criticar por criticar, é que ninguém dá ouvidos a ninguém. Vou ser mais claro. O pelouro da Cultura realiza os seus eventos e não passa cartuxo nem à APBC, Agência para a Promoção da Baixa de Coimbra, nem à Junta de Freguesia de São Bartolomeu. Resultado: no mesmo dia e à mesma hora chegam a haver espectáculos a concorrer entre si. Mais ainda, naturalmente que a junta de freguesia e a APBC também querem apresentar trabalho aos seus fregueses e associados, o problema é que o que transparece é que são vários galos a lutar pelo maior protagonismo. Ora, diga-me, não caberia ao pelouro da Cultura sentar todos a uma mesa e fazer um planeamento atempado de todos os eventos, envolvendo todas as forças e, ao mesmo tempo, para a realização convidar comerciantes ou residentes para ajudar?
As pessoas como eu e muitos outros estamos à espera da autarquia porque esta não nos ouve. Nunca nos convidou para debater a nossa opinião. Não é porque não saiba. Já escrevi muito sobre este assunto e envio sempre para o pelouro da Cultura. E não é só de agora. Já no tempo de Mário Nunes, o anterior vereador, o fazia. Com este meu amigo, que conheço há muitos anos, ainda falava comigo, batia-me nas costas e com o seu sorriso rasgado lá argumentava que assim e assado. E tudo ficava na mesma. Com esta senhora vereadora, Maria José, nunca se dignou responder aos vários e-mails que lhe enviei.
Claro, meu amigo, que não tenha ilusões, a junta de freguesia de São Bartolomeu e a APBC, apesar de eu ser amigo dos presidentes, procedem do mesmo modo. E porquê? Porque ninguém quer que se lá meta a colher… lá caímos novamente no factor cultural. Quem vem de fora é sempre olhado de soslaio e com desconfiança, mesmo que seja conhecido. É uma espécie de fado. Aqui já entende porque razão as coisas continuam eternamente iguais.
Ainda lhe digo mais, em 2003 Coimbra foi a Capital da Cultura. Foi um exemplo para se seguir na descentralização de pequenos eventos. Foram realizados vários espectáculos de teatro em larguinhos e praças das ruas estreitas. Foi um sucesso estrondoso. É preciso muito dinheiro para fazer isto? Sabendo que no comércio há vários talentos, na música, no teatro, na poesia, na arte, porque não se convidam estas pessoas para contribuir para a revitalização do Centro Histórico? Quer que eu responda? Porque quem decide tem uma visão de quinteiro. Só ele decide, só ele manda. E isso, para mim, é o cancro de tudo.
Ainda vou mais longe em relação à Câmara Municipal: porque razões não são os funcionários adstritos a estas realizações, de tempos a tempos, substituídos por outros? Porque é que continuam há vários anos nos mesmos lugares e encarregues sempre do mesmo programa e a cumprir a mesma função?

4- “A CMC criou as noites brancas que levam muita gente à Baixa e são um sucesso, agora é altura dos comerciantes chamarem as pessoas da rua para as lojas.”

R.- A Câmara Municipal não criou as “noites brancas”. Este conceito foi “importado” pela APBC de vários países europeus com o mesmo problema nas zonas velhas como nós. Trata-se de, através de uma jornada de trabalho pela noite fora e muita imaginação, tentar atrair pessoas a estes perímetros desertificados. É como se, com este acto de quebrar a rotina, se elevasse uma bandeira no ar e se gritasse: “venham cá, nós precisamos de vocês, consumidores, se nos esquecerem desapareceremos todos a curto prazo”.


(ESTE TEXTO FOI LEVADO PARA CONHECIMENTO DA SENHORA VEREADORA DA CULTURA DA CÂMARA MUNICIPAL DE COIMBRA)

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