Nas últimas semanas o país esteve preso a um tabu: o de saber se haveria ou não acordo entre os dois maiores partidos. Depois de “cai, não cai”, finalmente há fumo branco por entre os cabelos esbranquiçados de Eduardo Catroga e Teixeira dos Santos.
Hoje iniciou-se o debate parlamentar, na generalidade, na Assembleia da República.
Com a troca de acusações veladas entre o primeiro-ministro, José Sócrates, o líder parlamentar do PSD, Miguel Macedo, e Francisco Assis, líder parlamentar do PS, estalou a confusão.
Depois de algumas reuniões entre o actual ministro das finanças Teixeira dos Santos e Eduardo Catroga, ex-ministro da mesma pasta do tempo de Cavaco; depois de os dois homens fortes ratificarem o acordo, e apertarem as mãos, com imagens mostradas aos portugueses pelo telemóvel particular de Catroga; depois de Pedro Passos Coelho explicar no Facebook as razões porque se vai abster na votação, e com essa omissão permitir a sua viabilidade; eis que –retirado do JN- aparece no parlamento Sócrates a acusar os sociais-democratas sobre várias considerações. Afinal onde é que param as modas? Fará sentido este comportamento?
Diz o primeiro-ministro, tentando uma projecção presciente, que o PSD considera que “o melhor é aproveitarmos este momento, já que nas sondagens o Governo parece estar com a impopularidade própria das medidas, para fazermos uma crise política, abrir uma crise política que conduza a uma mudança de governo. Aqueles que pensam que tiram algum ganho eleitoral disso, pensem duas vezes, porque eu acho que aqueles mais maquiavélicos que só pensam em cenários políticos são sempre os mais ingénuos e aqueles que se enganam. Eu estou convencido e confio no julgamento dos portugueses”, extracto das declarações de Sócrates insertas no JN.
Para complicar ainda mais, Francisco Assis acusa Miguel Macedo de “infantilidade” e “má fé política”, depois deste ter responsabilizado totalmente o Governo pela actual situação do país. Isto dá para perceber alguma coisa? Então, primeiro ratificam o acordo de paz, apertam as mãos, e depois no grande teatro, que é a assembleia, passam à agressão em forma de discussão. Quem entende estes contendores? A menos que todos estejam a representar. O Governo quer a todo o custo justificar perante os eleitores as medidas draconianas tomadas. Ao mesmo tempo, parece que, através da verve belicosa, acusando o PSD, tenta salvar o opositor, na cobertura dada pelos sociais-democratas a um mau orçamento e, segundo declarações dos Sá-carneiristas, mesmo depois de negociado, continua a sê-lo. Se o era e continua a ser, o que fizeram? Onde está o resultado da sua negociação? Porque se vão abster? São interrogações que os cidadãos fazem sem obterem respostas claras.
Neste desempenho teatralizado, a sensação que dá é que, quer o Governo PS, quer a oposição PSD, ambos estão a representar, mas sem sequer tentarem fazer uma boa performance. Ou seja, nem sequer tentam convencer os espectadores. Ambos, numa mediocridade sem classificação, tentam fazer uma fogueira apenas com muito fumo para entediarem os cidadãos. A quem se destina este (mau) espectáculo?
Tentarão convencer quem?
1 comentário:
Leia este artigo no Jornal de Negócios: http://www.jornaldenegocios.pt/home.php?id=386210&template=SHOWNEWS_V2
Cumprimentos,
Nuno Antão.
Enviar um comentário