quinta-feira, 5 de agosto de 2010

BOM DIA PESSOAL...


(FOTO DE LEONARDO BRAGA PINHEIRO)








 Ora vivam! Como é que estão passando, bem? Calma, não me venha com esse aforismo estafado de que “passou bem porque a água ia baixa”. Nada disso, eu quero saber se se sente bem, assim não completamente de alma cheia, mas, pelo menos a meio. Não sei se estou a ser claro. Se calhar não.
O que eu gostava mesmo era de escrever qualquer coisa com graça. Mas está mesmo difícil. Bem sei o que está a pensar, que ninguém pode dar o que não tem…bem lá isso é verdade. Se eu sou um bocado para o lerdo, enfezado e com artrite na mioleira, é evidente…mas calma…se a vida é mesmo uma passagem, quem sabe, talvez eu não esteja em fase de apuramento mental e na próxima reincarnação este meu arrastar possa dar um bom resultado?
Mas, em boa verdade, sejamos honestos, como é que eu posso escrever qualquer coisa com graça quando, ainda agora, estou a ler que o preço do pão aumenta para a próxima semana, devido à escalada do aumento do trigo nos mercados mundiais. Porra!, como é que pode acontecer uma coisa destas agora? Precisamente numa altura em que há pobreza e fome no país? Numa fase difícil em que há demasiado desemprego, e quem trabalha não vê aumentos há anos, e roga a todos os santinhos que a empresa se aguente?
Eu sou filho de agricultores -pobres, a propósito. Ora, rebobinando a minha existência, tenho gravado na minha memória quando, em criança, acompanhava os meus pais, mais ou menos por esta altura, com uma canícula de secar a alma, para cortar aveia e trigo nas terras altaneiras, áridas e barrentas da minha aldeia. Ainda hoje consigo reter na recordação a passagem por aqueles caminhos e veredas de pó que entravam em ebulição quando lhe passávamos por cima. Relembro o canto da cigarra, o grasnar do Gaio a observar num ramo de pinheiro, o arrastar da cobra, no seu saracotear por entre o cereal, por que viu o seu espaço invadido por estranhos ao seu meio ambiente natural.
Veio a adesão à Comunidade Europeia e, com o argumento de que éramos excedentários, a troco de subsídios, pagou-se para os trabalhadores do campo serem arrumados num qualquer escaparate em forma de taberna –no tempo em que ainda havia tabernas nas povoações, isto há mais de três décadas, porque hoje, praticamente, já não há quase nenhuma para amostra nas aldeias portuguesas.
Já se vê onde quero chegar. Isto é o quê? Bolas, eu acredito, tenho a certeza, que a política é a mais nobre arte e a única possível de, através da paz, atingir o maior estádio de desenvolvimento da humanidade. Mas, para se atingir essa meta, cada medida tomada terá de ser um degrau subido em direcção a um mundo melhor, ou, pelo menos, o possível. O que quero dizer é que cada decisão tomada terá de ser mais uma pedra para a construção do edifício que é a nossa convivência humana em comunidade. Ora, naquelas decisões tomadas, o que se verifica? Que parece um plano sórdido, urdido para nos tramar. É como aquela decisão de onerar uma transacção com apenas um cêntimo de juros ao dia…desde que, diariamente, seja sempre a multiplicar por dois. E os políticos da altura não viram isso? Por acaso, lembro-me bem, de alguns partidos políticos alertarem para este previsível desfecho. Refiro-me ao Partido Comunista Português, que ainda no tempo de Álvaro Cunhal chamava atenção para o extermínio que se estava a assistir na agricultura, e no perigo da então CEE. Bem sei que, nessa altura, por alturas de 1974/75, na vigência do PREC, Processo Revolucionário em Curso, em nome da Reforma Agrária, foram cometidos demasiados desmandos. Mas, mesmo assim, passados mais de dez anos, em 1986, não teria sido possível ter tomado atenção aos apelos do Partido Comunista?
Hoje assistimos a esta pouca-vergonha. Perante isto, como é que eu posso escrever alguma coisa que dê vontade de rir? Dá é vontade de chorar pela alma desta Pátria despedaçada. Ámen!

Sem comentários: