UM SONHO SELVAGEM...AMESTRADO...

Especulando um pouco, poderemos considerar que todos os sonhos, enquanto estádio sem controlo racional, no seu divagar na mente adormecida, em bruto, serão todos selvagens. Só se tornarão sociáveis depois de domesticados. Isto é quando os transformamos em realidade tangível. E quanto vale um sonho bruto, que durante noites e noites, de uma forma bravia nos martelou o sono, na hora da realização? Só quem passou por isso sabe aquele gostinho especial em que se transforma a alegria. É uma mistura de sentimentos. Ora apetece rir desenfreadamente, ora apetece chorar. É um momento único na vida de qualquer pessoa que do sonho passou à obra realizada.

Isso mesmo deverão estar a sentir a Isilda Veigas e a Fátima Madeira. Depois de muitos anos empregadas em várias firmas, e de tantas noites em claro, certamente, a pensarem todos os dias que a sua vez chegaria. Hoje abriram uma bonita loja de pronto-a-vestir para homem e senhora na Rua Eduardo Coelho e com o nome de “Sonhos Selvagens”.

A decoração está simplesmente sublime. Com cores sensitivas, tudo indica que já aí é uma aposta ganha. Pelas pessoas que, apesar de hoje ser o primeiro do resto das suas vidas –que faço votos para que seja longo-, já estavam a comprar, é de ver que os seus artigos serão bons, de grande qualidade e melhor preço.

Mas, deixemo-nos de divagações, vamos lá saber o que leva duas lindas mulheres de meia-idade –devem ser, se não se tomar em conta o aspecto…de “teen agers”- a enveredar pela vida empresarial. Sobretudo num momento caótico da nossa economia. Como um dueto a uma só voz respondem: “é um sonho antigo. É uma aventura. Partimos de peito cheio de vontade, força e confiança. Bem sabemos que, tendo em conta o momento que atravessamos, parece quase atrevimento irresponsável. Mas afinal a vida não é feita de rebeldias? E quanto vale a realização de um sonho? Pode até ser efémero, como são todos os sonhos, mas que importa isso? Tudo na vida assim é.

Se, ao menos, estivéssemos bem e não precisássemos de arriscar, até se entenderia este acto como veleidade, mas acontece que não era assim e este sonho antigo, fogoso e selvagem, corroía-nos a alma. Não pretendemos enriquecer. O que queremos é tão somente caminharmos –como sempre fizemos- de cabeça erguida e lutarmos com todas as nossas forças para vencer. Renegamos a vida fácil de viver à custa do Estado. Sabe, os nossos pais é que são os culpados: habituaram-nos a trabalhar sempre…”