quinta-feira, 29 de julho de 2010

CARTA A JOSÉ...


(FOTO DO DIÁRIO DE COIMBRA. LEIA AQUI O BRUTAL ACIDENTE)





 Escrevo-te esta carta, amigo, talvez no pior momento que estás a passar da tua vida. Provavelmente esta missiva não chegará nunca aos teus olhos. O teu filho morreu ontem de acidente, numa daquelas ocorrências estúpidas que pensamos apenas acontecer aos outros. Se calhar, José, nesta hora de angústia, de sofrimento, de aperto no coração, estarás a culpar-te, em exercício de balanço existencial. Provavelmente, como máquina de projectar slides, na tua mente, relembrando imagem a imagem, questionas tudo o que fizeste na relação com o João: o que deste, o que não deste e deverias ter dado.
Certamente, neste ribombar de tiro do canhão da sorte –má-sorte, sublinho-, questionas o motivo de teres sido sorteado nesta lotaria do destino. “Porquê eu…porquê a mim?”, pareço ouvir os teus pensamentos a martelarem a tua cabeça, como se de repente ganhassem animação, e como palavras se materializassem. E haverá resposta para essa questão? Se nem na nossa vida temos mão, como poderemos vigiar, amparar, a dos nossos filhos? Andaremos todos por cá até quando calhar. Como um livro, que tu tão bem conheces, como uma história de enredo previamente escrito por autor desconhecido, somos o personagem central que entra no primeiro capítulo, percorre toda a trama, e se não cairmos a meio por estranhos desígnios do escritor, no epílogo, no fim do romance, inevitavelmente, desaparecemos de cena. Não há mesmo nada a fazer. É a vida…que, sem que nada possamos fazer, se vai alimentando da própria morte. É como se a luz do Sol, para iluminar a humanidade, precisasse da noite escura. É a Natureza José…nada se pode fazer perante os seus supremos desígnios. Somos escolhidos. Não escolhemos o caminho a percorrer –que pode ser atapetado com pétalas de rosas, ou veredas estreitas, com escolhos lancinantes e emolduradas a tojeiros que nos picam continuamente ao longo do percurso.
É duro, José. Imagino a dor pesada, a mágoa sentida que te retalha a alma em picos de faca afiada, que deves estar a sentir neste momento. Ainda que solidário contigo neste momento de extremo luto, jamais conseguirei experimentar o abismo de solidão em quer te encontras. Só quem perde sabe, só quem sofre sente. É fácil de conjecturar o quanto deve ser penoso ter perdido um ente querido num estulto acidente de automóvel. Sobretudo porque, para além de ser carne da nossa carne, partiu com 21 anos, na flor da idade. E tu, sempre generoso para ajudar outros, aqui, como melodrama de fado negro, nada pudeste fazer. E isso, José, está a consumir-te o espírito, tenho a certeza, amigo.
Mas que se há-de fazer, José, perante uma fatalidade destas, senão, com o tempo, como um sonho ruim, tentar apagar da memória este triste acontecimento?!
Nesta manhã triste em que não te apeteceu acordar, recebe um abraço do tamanho do mundo. Os meus sentimentos amigo José Gomes.

3 comentários:

Jorge Neves disse...

Mesmo só conhecendo o José de nome, não posso deixar de lhe endereçar a ele e toda a familia, muita força e coragem para enfrentar o futuro.
Força!

Anónimo disse...

Não conheço o sr.José,mas sei o sofrimento que está a passar.Só quem perdeu alguém que ama pode dar valor a esta dor,por palavras é impossivel descrever este sentimento de perda.
Sr.José,força,muita força!
Marco

LUIS FERNANDES disse...

Em nome do José Gomes, nesta hora de sofrimento atroz, obrigado ao Jorge Neves e ao Marco Pinto pela solidariedade prestada.
Um grande abraço.