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Então, cavalheiros, senhoras, “monsieures et dames”, como é que estão? Pela cara, pelos vincos traçados, que mais parece a linha da Lousã esgravatada e sem carris, tudo indica que não está muito bem, pois não? Ou é impressão minha? Se calhar é só mesmo falsa intuição. Às tantas, esteve a ver ontem a final do mundial e, como torcia pela Holanda, acabou por ganhar a Espanha…foi isso? Você não ultrapassa o recalcamento histórico destes malvados nos terem delapidado o património e o juízo, há trezentos e tal anos…é não é? Deixe lá, ó tempo que isso lá vai. Ganharam ontem e muito bem, com alguma sorte à mistura, mas um jogo, seja ele qual for, é mesmo assim. Os factores sorte quase sempre são arbitrários e passam por cima do mérito. Quanto a mim, que não percebo grande coisa de bola, acho que ambos mereciam ganhar. Ganhou a Espanha, ainda bem, estou contente. Já o escrevi aqui várias vezes: gosto demais deste povo.
Se, pegando na premonição de Saramago –quando em 2007 profetizou que Portugal acabaria integrado com a vizinha Espanha- me propusessem uma união Ibérica, em união de facto com o nosso vizinho, e desde que tal “casamento” redundasse em melhor viver económico e que nos trouxesse transversalmente maior felicidade interna, eu, sem pestanejar, aceitaria. Bem sei que, ainda há pouco, numa sondagem, cerca de 64 por cento dos portugueses preferem continuar como estão e rejeitam o iberismo do Nobel da literatura.
Se, pegando na premonição de Saramago –quando em 2007 profetizou que Portugal acabaria integrado com a vizinha Espanha- me propusessem uma união Ibérica, em união de facto com o nosso vizinho, e desde que tal “casamento” redundasse em melhor viver económico e que nos trouxesse transversalmente maior felicidade interna, eu, sem pestanejar, aceitaria. Bem sei que, ainda há pouco, numa sondagem, cerca de 64 por cento dos portugueses preferem continuar como estão e rejeitam o iberismo do Nobel da literatura.
Pois eu não! Assumo que sou “traidor”! Renego esta Pátria que me causa desassossego e tristeza e me faz sentir todos os dias que cada vez mais escorrego para o cano de esgoto.
Este país, na forma como está a caminhar, não é para cidadãos nenhuns. A infelicidade que se vive arrasta nacionalistas e iberistas. Esta angústia com que temos de conviver em relação ao futuro não pode continuar. Ainda ontem o Diário de Notícias trazia à estampa a síndrome que perpassa o nosso país de lés-a-lés. Os consultórios de psicologia e psiquiatria estão cheios de empresários e trabalhadores a pedirem auxílio de psicoterapia. Segundo os técnicos entrevistados, havia vários casos de tentativas de suicídio. A angústia veio para ficar e tomar conta de nós. A cada dia que passa, envelhecemos precocemente e, neste oceano de preocupação, sentimo-nos morrer aos poucos paulatinamente. Cada manhã, quando nos levantamos, em vez de sermos tomados pela força revigorante de uma noite de sono, contrariamente, em desânimo, interrogamos para que vamos nós trabalhar? Para pagarmos cada vez mais impostos, liquidar a água, luz, telefone, internet e a prestação do último empréstimo? A nossa vida de “portuga” escanzelado está transformada em transportar o país às costas.
E, individualmente, fazemos alguma coisa para alterar este estado de pandemia social e nacional? É certo que poderemos interrogar: “e o que posso eu fazer para alterar este estado de tristeza e solidão?”. Objectivamente não poderemos fazer grandes coisas para alterar seja o que for. Ou seja, no imediato não possuímos grandes instrumentos de mudança. No entanto, creio, no mínimo, confessemos ao mundo esta solidão e desconforto psíquico que nos atrofia. Ora o que se vê à nossa volta é exactamente o contrário: a maioria tenta fingir que está tudo bem, fazendo tudo para mostrar que, numa mentira continuada, além de estarem felizes, financeiramente estão como sempre estiveram, isto é, muito bem. Aliás, ai de quem propague que essas pessoas estão a passar momentos de extremo afogo. Como já não enganam ninguém, tentam por todos os meios enganarem-se a si próprios. Então interrogo, se as pessoas, num teatro trágico-cómico, tentam trapacear quem os rodeia, como é que se pode mostrar a quem nos governa a nossa insatisfação colectiva? É evidente que há aqui um egocentrismo absoluto, onde o que conta verdadeiramente é o alimentar do ego e sem haver a mínima preocupação com os outros.
Voltando à nossa vizinha Espanha, é lógico que esta integração não deveria ser feita a qualquer custo –para lição já nos chega a adesão à Comunidade Europeia. Mas se, perante um Europa tecnocrata, que se está marimbar para os países mais pobres, e nos está a empurrar para o abismo, fosse necessária esta união ibérica para nos tornar mais fortes, estaria completamente de acordo.
Bem sei que os nossos vizinhos muito têm com que se preocupar nos próximos tempos. O separatismo do País Basco, da Catalunha e da Galiza já lhes dá água pela barba, quanto mais arrostarem com um povo pessimista, hipócrita e sem alma para lutar por uma vida melhor. Mas, sublinho com ênfase: Espanha me encanta…
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