sexta-feira, 9 de julho de 2010

BOM DIA PESSOAL...





 Olá…bom dia! Está com bom aspecto! Está sereno, calmo…está cansadito, não está? Não precisa de responder. Bem vejo que sim. Aliás, até adivinho a razão dessa fadiga. Ontem acompanhou a imagem da Rainha Santa na procissão, desde o Convento de Santa Clara-a-Nova até à igreja da Graça…foi isso não foi. Calma! Não faça essa cara que eu não vou “xingá-lo” –como diz o brasileiro- por causa disso. Homem, devemos fazer o que nos põe bem connosco e com os outros. Se você se sente bem e, acredito que sim, se essa caminhada lhe traz uma paz interior, faz muito bem.
Não queria aqui cair num certo paternalismo bacoco. Afinal quem sou eu –interroga você e muito bem!- para estar para aqui a “botar faladura” como se eu fosse um conhecedor profundo da teologia. Claro que não sou –e você sabe que eu sei muito pouco, admito com toda a humildade. Gosto de escrever…porque penso. E a melhor forma de desenvolver o pensamento é mesmo passar à folha aquilo que nos vai dentro e surge aos arremedos, em relâmpagos de pequenos nexos. Portanto, já viu, hoje, tentando passar por humilde, até estou a entrar num caminho de grande seriedade. Porque afinal tudo cai no respeito pelo próximo. Todos sabemos que a arrogância é o denominador comum entre crentes e não crentes. Os primeiros, com grande intolerância, acham que os segundos são ignorantes, materialistas, e pouco abertos à verdade e à realidade da Natureza. Os segundos –no qual me incluo-, os descrentes, olham para os primeiros com alguma mal disfarçada condescendência, como se, pragmaticamente no acto, disséssemos “coitados, são curtos de alcance. É o medo que os faz acreditar!”. No fundo, como se nós, os sem fé, fossemos superiores, intelectualmente mais esclarecidos, mais corajosos, como se, batendo no peito com o punho fechado, sem o dizer, apregoássemos. “a mim ninguém me engana!”. No fundo, bem no fundo, todos sabemos que somos todos feitos da mesma massa. Somos todos ignorantes. Temos os mesmos medos, as mesmas inquietações.
 Ser ou não ser crente não é uma opção de vida. É simplesmente o sentir, ou não sentir, o sentimento do acreditar na convicção sem questionar. Estou convencido que para o crente é mais fácil, no sentido do acomodar, aceitar o dogma de fé do que o contrário. Quem não crê, interiormente é mais conflituoso, questiona-se muito mais, interroga-se continuamente sobre o bem e o mal, a justiça e a injustiça. Contrariamente ao que se pensa, o herege busca profundamente muito mais a verdade existencial.
 As religiões, apesar de serem extrínsecas ao ser pessoa –não se nasce religioso-, no geral, existem porque o homem, literalmente falando, precisa delas. Precisa de acreditar numa força que transcende a sua humanidade finita e previsível. No “re-ligare”, entre o homem terreno -imperfeito, bipolar, dividido entre os maiores feitos de alteridade e os maiores extermínios da humanidade- e o “Ser” transcendente –embora feito à imagem do próprio homem- perfeito, feito de benignidade, omnipresente e omnipotente,  o que prevalece é a fé e a esperança de uma solução, muitas vezes, para casos sem esperança e sem termo à vista. E este comportamento antropológico, do ponto de vista social, é mau? Traz algum prejuízo à sociedadade? Não, claro que não. É apenas uma manifestação íntima e do foro pessoal.
Claro que sabemos que todas as imensas religiões por esse mundo fora se aproveitam, usando e abusando, desta necessidade intrínseca à condição humana. Algumas, quando toca o fanatismo, com fins bem dramáticos para as comunidades em que se inserem, e nem vale a pena enunciá-las.
Apesar de grandes desaires na História Clássica -e lembro as cruzadas e a Inquisição- se calhar, comparativamente com outras, o movimento Católico-Apostólico-Romano nem será a que tenha desencadeado maiores processos apocalípticos. Também é uma igreja recente, com pouco mais de dois mil anos. É preciso ter em conta que, embora se desconheça, o homem é um ser eminentemente religioso desde os primórdios da humanidade, há milhões de anos.
A História Contemporânea, com outras religiões e outro tipo de religiosidade, está prenha de luto e morte, e, creio, o pior ainda estará para vir. O fanatismo religioso, como vírus "pandémico", anda a instalar-se progressivamente em toda a Europa.
 Voltando à procissão de ontem, da Rainha Santa Isabel, padroeira de Coimbra, embora se deva respeitar do ponto de vista sagrado, não podemos nem devemos esquecer que é um acto profundamente pagão, assente no mito dos santos, na idolatria secular, herdada da história antiga, e no calculismo individual. É uma alegoria ritualista de tradição que versa o simbolismo na ligação humano/metafísico, muitas vezes, sem grandes resultados práticos para além do turismo religioso.
Mas mesmo assim, com virtudes e defeitos –como todas as coisas- toque a banda, abençoe-se o povo, prossiga a procissão…

1 comentário:

Anónimo disse...

Bom texto Luís.Estou de acordo consigo e conseguiu resumir as principais caracteristicas de crentes e não crentes.Revejo-me no texto, e por vezes dou por mim a pensar como gostaria de ser um crente,será que isso me ia ajudar a ultrapassar e a encarar certos problemas?Mas a crença não é uma questão de opção,ou se acredita ou não.Quando refere que nós(não crentes)temos um sentimento de superioridade intelectual,está a generalizar é claro,é verdade,e eu pessoalmente não gosto da forma como alguns se manifestam e querem impõr as suas ideias.Chegam mesmo a ofender aqueles que acreditam em Deus,Alá ou seja o que fôr.Resumindo,este é um tema que tem pano para mangas,mas reforço gostei bastante do texto.
Marco
P.S.:A religião é um assunto que me interessa,por isso tenho pesquisado um pouco.Preocupa-me muito o aproveitamento que algumas seitas estão a fazer da fé das pessoas.Nos EUA é assustador a pressão sobre os crentes(radios e televisões),no Brasil o mesmo,e por cá a acalmia é aparente,eles andam aí.A situação económica e social actual é propicia ao crescimento destas «igrejas».