Então como é vai isso? Hoje está assim assim! Que é como quem diz mais ou menos. Ou nem por isso, antes pelo contrário. Eu vejo no seu rosto. Mas faça o favor de ter calma. Hoje até nem está tanto calor, embora a procissão ainda vá no adro. Bem sei que você se sente amarrado…sem amarras. É como se estivesse preso a qualquer a qualquer coisa com fios invisíveis. É isso não é? É assim uma angustiazita que o mina por dentro. Eu sei o que isso é. Também sinto a mesma coisa. É como se olhássemos para trás e não víssemos o resultado de tantas canseiras, de tantas noites mal dormidas. É como se o caminho percorrido, como nuvem passageira, se esfumasse quando olhamos para a retaguarda. É a sensação de termos passado por uma vereda escabrosa cujas escarpas nos rasgaram a alma, deixando marcas vincadas a sangue, no entanto, parece que tudo foi em vão. É como se tudo tivesse sido construído em areia. Veio a chuva, veio o vento, vem agora o calor e, na nossa frente, vemos as imagens da nossa vida recente a esboroar-se lentamente e nada podemos fazer para o evitar. Numa palavra só: estamos infelizes. Alguma coisa falhou nas nossas perspectivas. Alguém nos vendeu gato por lebre. Ou fomos nós que, apesar da nossa grande experiência empírica, nos deixámos embalar no canto da sereia e comprámos tudo sem questionar a garantia de futuro?
Uma coisa tenho a certeza é preciso reformar o estado deste Estado. É necessário chamarmos este sistema a juízo. Penso que já esgotou o prazo de validade. Foi bom enquanto durou, e durou muito. Este estado providência foi providencial –passando a redundância- para equilibrar uma sociedade profundamente assimétrica provinda do Estado Novo. O problema, quanto a mim, é que a determinado ponto, por volta e a partir de 1995, este sistema torna-se autofágico, começa a consumir-se a si próprio. Ou seja, a excepção torna-se regra. Deixa de se ter em conta que acima de tudo, como premissa master, um Estado não pode dar nada gratuitamente sem receber algo em troca. A redistribuição –que deve ser organizada com justiça, retirando, através de impostos, a quem mais tem e repartindo com os mais carenciados- transforma-se numa distribuição viciada e sem critério. Como esta máquina, cada vez mais sôfrega, precisa de se alimentar para conseguir dar o que não tem, de uma forma quase selvagem, vai onerando ao absurdo quem trabalha, quem produz riqueza e quem a detém. Num aparente laxismo mina à esquerda e à direita. Ou seja, através da sobrecarga de impostos a quem labora, produz e cria emprego, desincentiva o investimento e provoca a anemia na economia nacional. Ao fazer uma distribuição de riqueza, usurpada, quase com meios coercivos, e desregulada, aos poucos, foi criando uma massa disforme de desempregados e inadaptados para a produção individual, para o trabalho a que cada um está obrigado em prol da fazenda nacional.
Porque é que no início da década de 1970 haviam imensas famílias com 4, 5 e 8 filhos que viviam, embora com carências, sem subsídios do Estado, e com um único ordenado conseguiam sobreviver e hoje, a maioria, sem filhos e sem cadilhos –porque, ainda pior, este Estado desenvolve e estimula a não procriação- apregoa viver mal? Pura e simplesmente, porque se habituaram a mamar na teta universal e não precisam de desenvolver qualquer esforço físico ou mental para desenrascarem a sua própria sobrevivência.
Então, neste sistema injusto e discriminatório, hoje o Estado está dividido em duas classes: “nós” –a geração de 1940/50/60/70- e os “outros” –a estirpe ascensional posteror. “Nós”, que sempre trabalhámos e descontamos, há trinta, quarenta anos, para termos uma reforma justa e legítima, por causa deste gastar à “tripa forra”, tudo indica que, em duplo castigo, não iremos usufruir de uma aposentação.
Talvez por isso, enquanto escrevo, estou a ler uma crónica no Jornal da Mealhada (JM), de Emídio dos Santos, com o título: “Terá valido a pena ter nascido português?”. Esta é uma interrogação que faço todos os dias, e, provavelmente, todos os nascidos nas décadas que apontei em cima. Já agora, cito uma passagem do articulista do JM, ele mesmo nomeando outro grande poeta da corrente da “Geração de 70”, de 1870, Guerra Junqueiro, que dizia que “o português é um povo imbecilizado, humilde e macambúzio, fatalista e sonâmbulo, burro de carga, besta de nora, aguentando pauladas, sacos de vergonhas, feixes de misérias, sem uma rebelião, um mostrar de dentes, a energia de um coice, pois que nem já com as orelhas é capaz de sacudir as moscas…”.
Faz muito bem o novo líder do PSD, Pedro Passos Coelho, em querer reformar este Estado caduco e pacóvio que, no mínimo, só servirá alguns. Seja lá em nome de um “neoliberalismo”, seja lá em nome de “passismo” ou de um “coelhismo”, é preciso arredar este sistema invasor de uma economia que se quer flexível. O desenvolvimento deve assentar nos privados e não no Estado. Só em casos excepcionais deverá acontecer, nomeadamente em caso de cataclismo económico-social. Em nome de um país moderno, o Estado não pode continuar a intrometer-se na Economia –os exemplos de despautério são imensos, TAP, ANA, RTP, CP, REFER, EDP, as imensas Empresas Municipais, etc,.
Em nome de um Portugal do século XXI, o Estado não pode continuar a querer meter o bedelho em tudo, criando códigos legislativos, como se a sociedade fosse aquela que Guerra Junqueiro alude e não soubesse verdadeiramente o que quer. Em nome do futuro das cidades, vilas e aldeias, deve com urgência flexibilizar o arrendamento urbano, deixando às partes as premissas contratuais.
Em nome de uma economia desenvolvida, para manter os burocratas em empregos de coisa nenhuma, não pode, por um lado, flexibilizar a constituição de empresas em cima da hora, por outro, depois de constituídas, serem confrontadas com exigências “kafkianas”, onde o absurdo impera e desmotiva a continuação na vida empresarial.
2 comentários:
Voto em ti :)´
P.S. Eu necessito urgentemente de um tacho e se forem 2 melhor, que isto tá apertadito. Não tens por aí uns conhecimentozitos que desenrasques a coisa. Pode ser mesmo na PT que aquilo está por dias, cus Espanhóis andam a atacar, mas enquanto o pau vai e volta, ganho uns cobres :)´ Os Espanhóis e não só, que isto de privatizar o que é do Estado (nosso portanto(ou nem por isso)) tem destas coisas. Incrível é ninguém lançar uma OPA ao nosso governo. Há coisas fantásticas, não há
Não votas em mim porque eu não sou candidato. Ou, no limite, podendo sê-lo será a desgraçadinho e pobre diabo. Portanto, a ser assim, vamos lá embaralhar e dar de novo na esperança...
Abraço
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