(FOTO DE LEONARDO BRAGA PINHEIRO)
Olá, camaradas de luta –interessante, de repente, lembrei-me como antigamente esta expressão tinha um significado completamente diferente. Os mais velhos, como eu, saberão que significava abraçar uma causa ideológica. Ou seja aspirar a uma vida melhor através da reformulação de um sistema. Hoje as ideologias morreram e o que persiste em sua substituição é o materialismo. É como se em vez de nos preocuparmos com um futuro melhor, unicamente nos preocupássemos com o dia de hoje para conseguirmos chegar até amanhã. Por outro lado, a nossa inquietação passou a ser o medo de perdermos o que conseguimos nas últimas décadas de ouro deste capitalismo, que, apesar de nos estar agora a enviar a factura do exacerbado crescimento económico mundial, foi de facto uma época extraordinária. Com todos os vícios desviantes do sistema, estou convencido que jamais voltaremos a ter um tempo igual.
Pode argumentar-se que todos vivemos acima das nossas posses. Sim, é capaz de ter sido isso. Quisemos todos agarrar o mundo com uma mão. Achámos que, perante a nossa indomável vontade, ninguém nos pararia. Sonhámos em ter um castelo, um monte no Alentejo, quiçá, uma quinta no Douro com cavalos. Mas depois, sobretudo, no virar do milénio, fosse por isto ou por aquilo, depressa constatámos que, contrariamente ao aforismo popular “querer é poder”, afinal não se chegará a Marte unicamente pela vontade. É preciso ter meios. É necessário usar de uma racionalidade que se perdeu nas últimas décadas. As gerações futuras, se por um lado sempre foram olhadas com desconfiança e descrença pela presente, sempre se consideraram superiores, sobretudo intelectualmente, perante os ascendentes. E, de facto, são mesmo. Puderam estudar, possuem meios de informação quase gratuitos que os nossos pais e nós, destas gerações de 1940/50, não tivemos. Primeiro, porque eram extremamente caros, segundo, porque a maioria dos cidadãos não sabia ler.
Felizmente que o acesso às letras universalizou-se, e hoje temos uns escassos 8 por cento de iliteracia pura. Claro que passámos a ter outro tipo de iliteracia disfuncional, mas não vou entrar por aí.
O que quero dizer é que, apesar de todas as quedas e “escorreganços” na calçada do tempo, comparativamente e apesar desta angústia diária, vivemos melhor do que há três décadas atrás. Claro que, se calhar, no meio está a virtude, seria necessário termos outras preocupações sociais. Ou seja, fomos do oito ao oitenta. Como loucos a correrem em direcção ao paraíso, largámos tudo pelo nosso conforto físico. Esquecemos até que, tantas vezes, essa preocupação em ajudar alguém ou obter uma pequena vitória, nos faz tão bem à alma. Sem qualquer preocupação religiosa, tenho a certeza que, como boa sementeira em terra árida pode trazer bons frutos, distribuindo o bem, naturalmente, ao constatar a felicidade num rosto de alguém a quem ajudámos, essa boa-vontade será ampliada e gerará mais bem. Cada um de nós, individualmente, perante a sociedade homogénea, será sempre um representante de um meio, de uma classe, de uma cidade, de um país. E é com o nosso exemplo que o “outro” fará comparações e se tornará melhor…ou pior.
Numa frase só: comportamento gera comportamento. E assim sendo, por que não tentar olhar para o lado, para quem nos rodeia, em vez de olharmos permanentemente para o nosso umbigo?
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