sexta-feira, 2 de julho de 2010

BOM DIA PESSOAL...


(Esta é a prova que eu estive a falar com a Rainha Santa. É ou não é? Depois não digam que eu sou "rodelas"!)







 Então como é que vai isso? Hoje está com cara de poucos amigos…não é impressão minha, pois não? Deve ser do tempo. Hoje está uma manhã com pouca luz…mas é temporário, já se vê o sol a querer romper as nebulosas. Deixe lá que eu estou na mesma…assim um pouco como quem dormiu mal. É interessante, pelo menos para mim, como a luz tem extraordinariamente uma função fundamental no meu dia-a-dia. Durante os meses de Novembro a Março pareço uma andorinha de asas caídas, só recobro quando começam a surgir os primeiros sinais da Primavera. Se eu pudesse, durante este período, emigrava, viveria nos trópicos, e só regressava quando as árvores rebentassem de vida, mas infelizmente tenho de amargar por cá.
Bom, mas avaliando o meu estado apático e amorfo de hoje até tenho razões para isso. Ontem passei duas horas sentado na relva, junto ao Mosteiro de Santa Clara-a-Velha, para ver e ouvir o Rodrigo Leão e a sua banda. Estou aqui que nem posso. Juro-lhe pela minha saudinha que tenho uma dor no cocix que até a minha alma chora. Quer dizer, deve ser o cocix, esse ossinho no fundo das costas, que eu destas coisas de ortopedia não percebo nada. Também podem ser os ovários…ai isso não, até se me estava a varrer, é verdade, não tenho. Bom, mas é lá na região do fundo da espinhela. Mas isso não interessa mesmo nada. O que é uma dorzita, comparando com aquela musiquinha de embalar anjos do meu amigo Rodrigo? É certo que as condições acústicas, para um som daquela categoria, não eram as melhores, mas mesmo assim gostei de ver e ouvir o grupo. É pá, aquelas misturas com o som da Feira Popular é que me estava a irritar. De um lado o violino virtuoso da Viviena Topikova e do outro o Quim Barreiros, ou a voz do vendedor de bilhetes do carrossel roda gigante: “Obrigado! Entre na roda e vá até ao céu!”. Foi quando o homem falou no céu que eu me lembrei, eu seja ceguinho, foi como se uma luz acendesse cá na cachimónia, entrei em conflito comigo próprio, e, mentalmente, disse cá para mim: “ó toino, tem paciência, pá, mas esta bagunça não pode continuar. Já lá vai meia-hora, e já não se sabe se estamos na quinta do casal mais mediático de Coimbra ou no Choupalinho a comer uma sardinhada”. Então, depois de uma certa resistência do outro de mim, que faz parte da minha pessoa, puxei do telemóvel, disquei o número do céu, e, um bocado pr’o irritado, aguardei que alguém me atendesse do outro lado. O pequeno aparelho celular tocava, tocava, mas nada. Eu juro pelo São Sebastião, que tanto sofreu às mãos daqueles cabrões dos romanos e é o padroeiro lá da minha aldeia, que já deitava fumo por todos os buracos, incluindo aquele que está mais próximo do cocix. Foi então, quando eu parecia desesperar, que uma voz feminina, pachorrenta -assim para o arrastado-, e sonolenta me atendeu: “está lá? Quem é que me liga a esta hora da noite? Não tenho rosas e já há muito que não faço milagres!”.
Claro que eu, que sou um bocado p’ro medricas, mas, como todos os homens –como dizia aquele gajo da bigodaça, o Nietzsche, não sei se conhecem, eu não!-, gosto do perigo e do divertimento. Então, quando a Rainha atendeu, confesso, fiquei mesmo “assarampatado”, não sei se já passaram por isso, se calhar não, uma pessoa fica com a língua presa, assim como se tivesse comido laranjas verdes, assim um poucochinho para o entaramelado, não sei se estou a ser claro, se calhar não. Então, meio a gaguejar, parecia que estava a falar pessoalmente com o Mário Soares, lá fui dizendo, a titubear: “a Senhora… Dona… Isabel… desculpe, mas o… que se está a passar aqui no seu quintal, em frente… ao seu convento é uma vergonha…isto é …tudo ao molhe…e fé em Deus…no som…na mistura…isto é uma orgia de música destrambilhada…se a Senhora pudesse fazer…alguma coisa…”.
“O quê? –responde a Senhora Dona Isabel, assim meio estarrecida-, esses gajos da Empresa Municipal do Turismo de Coimbra não cuidaram de calar a feira popular enquanto dura o espectáculo do jogral Leão? Ai, isso não pode continuar. Claro que vou intervir e já, mas faça-me um favorzinho, não volte a ligar para cá que me pode acordar o meu Diniz…que tem um feitio desgraçado…”
A verdade é que passada meia-hora o ruído lá dos lados do rio tinham desaparecido e, então, já pude ouvir o concerto calmamente. O problema era a dor que eu sentia no cocix…


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