domingo, 11 de abril de 2010

COMÉRCIO: OS ÚLTIMOS RESISTENTES






 Na sexta-feira, dia 9, no restaurante Jardim da Manga, dos cerca de 500 estabelecimentos na Baixa, compareceram 56 comerciantes.
O convite partiu da ACIC, associação da classe, da APBC, Agência para a Promoção da Baixa de Coimbra e de alguns empresários independentes. Isto é, não associados nestas duas entidades, e sob o lema “COMÉRCIO INDEPENDENTE uma espécie em vias de extinção?”.
A primeira interrogação que surge, certamente, será porque apenas compareceram pouco mais de 10 por cento de profissionais do comércio?
Como não há estudo, pressupõe-se que a resposta assentará num única premissa com várias réplicas possíveis. A primeira: não foram porque não acreditam que seja possível fazer alguma coisa para evitar o encerramento do seu estabelecimento. A segunda: não acreditam nas pessoas que os convocaram para este debate. A terceira: não tinham 8 euros para o jantar. A quarta: não tinham roupa para vestir como deveria ser para jantar num restaurante daquela categoria. A quinta: tinham compromissos inadiáveis.
A segunda interrogação que surge, o que foram fazer os 56 que compareceram no jantar? Quem lá esteve facilmente responde a esta pergunta: querem poder continuar a trabalhar nas suas lojas na Baixa, e, se preciso for, estão dispostos a tudo. Mas o que poderão fazer, perante um centro histórico sem pessoas? Pois aí é que está o problema! Não há nenhuma varinha de condão que, rapidamente, possa inverter esta situação. A Baixa, hoje, está como o interior do país, a nossa aldeia. Vamos lá de vez em quando, e, em cada vez que repetimos a viagem, constatamos que há mais casas vazias, a mercearia do senhor “Manel da venda” e a taberna do “Toino dos copos” cerraram portas também. Momentaneamente somos assolados por uma ponta de tristeza. Afinal, foi por ali que crescemos e nos fizemos pessoas. Mas este sentimento passa rapidamente, e mais ainda esquecemos quando regressamos à cidade. O que sentimos pela Baixa é exactamente igual.
Perante esta minha especulação, é de supor que o processo de extinção será mesmo irreversível. Pois, infelizmente, não tenhamos ilusões: é mesmo!
Então e não haverá nada a fazer? Coitados! -já está você com uma lágrima a balouçar. Ora, para responder à pergunta, vamos por partes: primeiro, as formas de comercializar, os conceitos de compra por um consumidor mais exigente, mudaram. Contra isto não há argumentos. É mesmo uma constatação. O comércio de rua, na dinâmica natural dos costumes, foi preterido por estruturas mais bem organizadas em quanto classe empresarial, mais ágeis a negociar a compra de bens por grosso, e, fundamentalmente, com mais capital e mais racionalização de mão-de-obra. Para além disso, concentraram nas grandes áreas comerciais espaços lúdicos, como cinemas, livrarias, todas as mercearias da área numa só, lojas de bricolage, área de restauração de “fast-food”, enfim, quase tudo o que, outrora, existiu na cidade. E já agora uma pergunta mais, porque conseguem eles tudo isto, no fundo, copiando a cidade com as suas ruas e a animação, e a urbe, onde tudo isto germinou, não consegue? Por uma coisa: disciplina ditatorial na gestão do espaço. E então na cidade não será possível esta disciplina? Pois não, porque, enquanto propriedade, não é una, é divisível. Logo sujeita a só 10 por cento dos seus interessados comparecerem numa discussão em que estava em causa a sua própria sobrevivência.
E então não haverá nada a fazer? Creio que sim. Enquanto não mudarem novamente os hábitos dos consumidores –que provavelmente demorarão entre 5 a10 anos-, podem atenuar-se os efeitos de morte certa.
Localmente, se a autarquia de Coimbra aceitar mesmo que os comerciantes estão mesmo na falência quase total e considerar políticas de discriminação positiva, como por exemplo: temporariamente desonerar completamente as taxas de toldos e publicidade. Chamar a si a segurança nocturna ao centro histórico, através da PSP e da Polícia Municipal. Quebrar a barreira invisível que, gerando puro ódio e separando a Câmara Municipal dos comerciantes, leva a que estes desistam de lutar e não a considerem parceira interessada no desenvolvimento da Baixa, mas sim inimiga.
De âmbito nacional, cabe ao governo, perante a hecatombe visível a olho nu, flexibilizar o (Novo) Regime de Arrendamento Urbano –desobrigando o Estado de intervir numa mera relação contratual-, de modo a que o arrendamento se agilize. É preciso acabar com rendas de 5 euros. Que disponibilize uma linha de crédito bonificado aos proprietários cujo objecto dos edifícios seja o arrendamento.
É urgente desonerar de impostos a pequeníssima empresa familiar, estabelecendo um "plafond" de receita bruta, com uma, duas, três pessoas.
Se nada disto for feito, parafraseando Agostinho Lopes do PCP, em 2 de Maio de 2008, sobre as pequenas empresas e o comércio tradicional: “CHORAI, CROCODILOS, CHORAI!”.

3 comentários:

Anónimo disse...

Estou a tentar perceber porque os consumidores preferem o Forum ou o Dolce Vita ao Comércio Tradicional.Talvez me expliquem muito do que há a fazer. O que pensam os consumidores?

Anónimo disse...

No dia de ontem fiz uma hiperligação do artigo"Saber o que se quer sem saber como se lá chegar?” do Blogue Questões Nacionais no Facebook.
O primeiro comentário veio do Ricardo Castanheira;
“Jorge, li muito atentamente as tuas notas. Quem é o autor do texto "Saber o que se quer sem saber como se lá chegar"? Essa é uma das questões nucleares para Coimbra e diria mesmo para muitas cidades portuguesas.Já agora por que não começar por ouvir o que pensam os consumidores?Tentar perceber porque preferem o Fórum ou o Dolce Vita talvez explique muitos do que há a fazer”.
Aceitei o desafio, até nem sou comerciante, mas concordo com a sugestão do Ricardo Castanheira, coloquei a seguinte questão no Facebook;
Estou a tentar perceber porque os consumidores preferem o Fórum ou o Dolce Vita ao Comércio Tradicional. Talvez me expliquem muito do que há a fazer. O que pensam os consumidores?
Não tardou a chegar diversos comentários sobre a minha questão;
Ana Neto:
Noutro tempo, ir às compras era na Baixa, mas infelizmente o comércio tradicional tem vindo progressivamente a desaparecer no meu ponto de vista devido ao facto de não aguentar a concorrência dos centros comerciais, estes têm a grande vantagem de reunir no mesmo espaço um vasto leque de ofertas de serviços e aliado a isto o estacionamento gratuito e protegido dos factores atmosféricos. É claro que ainda há produtos que penso que a baixa tem mais variedade, as sapatarias é um exemplo disso. Outro factor que posso indicar é a aspecto das trocas e devoluções de alguns artigos, nas grandes superfícies há mais facilidade de trocar ou até mesmo devolver um artigo. Agora soluções acho que o estacionamento deve ser a principal prioridade assim como a dinamização, devolver á baixa a vida que lhe retiram, incentivar a habitação, são as pessoas que fazem a vida. A baixa a partir de uma certa hora fica deserta.
Criar espaços para eventos culturais de qualidade; música, teatros, moda etc.
Sérgio Almeida:
Afinal de contas o que é o comercio tradicional? Os bazares de chineses que proliferam pela baixa. Eu, por exemplo, optam pelas sapatarias da baixa. A baixa e seus comerciantes terão de inovar se não querem perder o comboio. Talvez o Metro de superfície ajude. O problema é os estacionamentos que deveriam ficar a cargo dos comerciantes da baixa.
Manuel António Mendes Martins:
Jorge, eu gosto muito do comércio tradicional, mas sabes também como eu que os produtos no comércio tradicional, são mais caros. Nós indo ao fórum, por exemplo, compramos mais barato e ao mesmo tempo passeamos com a família. Todos nós sabemos, que as chamadas marcas brancas, não tem a qualidade que os produtos tradicionais, mas o povo com a grave crise que ai está já não olha à qualidade, olha sim ao preço.
Mino Terreiros:
-Não tem jeito, uma pessoa ter que ir a vários sítios, comprar os seus itens, se pode adquirir num único sítio.
-Por exemplo na baixa de Coimbra - Estacionamento a pagar? Vou pagar não sei quanto se tiver que ir as compras?
-Isso são apenas duas, mas existira sempre mais...´
Narcisa Tejo:
Consumidores - consomem. Comércio tradicional não tem coisas inúteis.
Helena Neves Almeida:
Alguns factores têm algum peso nas escolhas dos consumidores: O horário de funcionamento, o parqueamento grátis, a concentração de serviços diversificados, num espaço reduzido e acrescento ao fórum a esplendorosa vista da cidade. Não é a qualidade, nem o preço. Se houvesse estacionamento livre durante, por exemplo 2 horas, e animação (música, durante o dia) a baixa era um ponto de encontro, distracção e de comércio. Lembro-me bem do movimento antes da abertura das grandes superfícies. Não tinham inventado os parqueamentos pagos, não havia tanta concorrência...agora terão que ser reinventados meios, a autarquia deveria investir na reabilitação e promoção do comércio da baixa, porque é uma pérola. Os comerciantes também não têm uma política colectiva e integrada de promoção dos seus produtos. Tem de haver uma lógica de empreendedorismo.

Anónimo disse...

Ana Neto
Outra ideia seria existir uma união entre os comerciantes, em vez de um fazer um grande investimento em peças de todos tamanhos e cores (um exemplo) uns especializarem-se mais nuns tamanhos outros noutros.

Outra ideia seria ,ao fim de cada época, em vez de cada um fazer saldos individualmente, porque não um outlet ,tipo feira do livro, onde se podia circular e escolher.

Nati Leppert

Bem eu não sou um exemplo, prefiro o comércio tradicional.mas acho que a baixa está assim, um pouco porque não é muito atractiva, muitas zonas estão muito degradadas e é preciso pagar o estacionamento.
As pessoas vão tb aos centros comerciais pq estão lá os hipers e aproveitam para fazer lá as compras todas. E depois é uma questão de moda.O Português é muito de modinhas