segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

"UMA HOMENAGEM À MULHER DE COIMBRA"





“Fazer justiça à memória da que foi uma figura emblemática de Coimbra, a tricana, recordando-a e doando-lhe a homenagem merecida, foi o que se propôs fazer a Junta de Freguesia de Almedina. O trabalho culminou ontem com a inauguração de uma estátua de bronze da autoria do escultor Alves André, colocada no Largo do Quebra-Costas, local onde diariamente passam turistas e onde, daqui para a frente, muitas fotos serão tiradas. “A tricana há-de correr o mundo”, garantiu Palmira Pedro, a orgulhosa presidente da junta “, in Diário de Coimbra de hoje.
Sem dúvida que a obra de arte está excelente e muito bem enquadrada na paisagem em redor, sem colidir com as escadas de Quebra-Costas em fundo e com todo o casario centenário em redor. Ao que parece, muito bem acolhida por comerciantes e moradores da zona. Segundo um comerciante, “ainda hoje veio aí um camião de mudanças, para transportar os haveres de alguém que mudou de residência, e, vai daí, ao carregarem o veículo, encostaram umas peças de mobiliário à estátua. Veio dali (apontando o dedo) uma velhinha moradora “ mandar vir “ com os carregadores e perguntar-lhes, aos gritos, “se não tinham vergonha de estarem a tapar “a nossa tricana “, que assim ninguém poderia tirar fotos”, rematou o comerciante, tentando demonstrar o quanto a estátua representativa da mulher de Coimbra já é acarinhada por todos.
Quanto a mim, esta representação de um ícone de Coimbra, peca por defeito. Como se sabe, historicamente, no nosso imaginário e sobejamente versejado através da canção coimbrã, a tricana não se concebe sem o estudante, que, como se sabe, numa lacuna sem precedentes –que poderia ter sido aqui preenchida- não tem nenhum monumento alegórico.
É evidente que é uma simples opinião, mas olhar esta bela obra sem o estudante é considerá-la uma amputação na história recente de Coimbra, pelo menos no último século e meio. A tricana foi sempre o mote, a representação gráfica, o paradigma, entre o excesso de oportunidades burguês e o residente esforçado e iletrado, o futrica. Representando a mulher bela e trabalhadora, mas, ao mesmo tempo, ignorante, fazendo parte da massa anónima do povo. Estou convencido que a Tricana, na sua simbologia, está para história de Coimbra como o povo, iletrado, esforçado e ignorante, está para o Estado Novo.
À história não lhe cabe fazer juízos de valor, comportamentais, políticos, religiosos ou outros, julgando os seus intervenientes em tribunais plenários, sem independência e carregados de subjectividade, mas apenas e só registar a sua passagem.

1 comentário:

Anónimo disse...

Não me parece pertinente a "amputação" da representação do monumento. Ao colocar a figura estudantil junto da tricana, esta ficaria em segundo plano, dado que é "sobejamente" conhecida a ligação de coimbra aos estudantes. Assim a TRICANA tem o protagonismo que só esta merece. E esta obra reflecte-o. Não se denota um ponto fraco nesta criação. Penso que a obra está excelentemente bem conseguida. Que todas as que existem em Coimbra tivessem a qualidade que está tem a todo o nível. Um bem Haja à autarquia e também ao Escultor Alves André, o qual possui um trabalho muito bom ao nivel escultórico. É o ESCULTOR do moderno e do histórico por excelencia. Afirmo com certeza, que é um dos escultores ou o escultor mais brilhante(s) da actualidade.

www.olhares.com\bneves