quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

DEPOIS DO FALHANÇO DE FRIEDMAN, KEYNES SERÁ RESSUSCITADO?




Antes de começar este texto, como declaração de interesses, ressalvo que não percebo nada de economia. Claro que você pode interrogar-se: “e quem percebe?”. Então e eu sei lá?! Quanto a responder por mim isso posso: tento compreender, investigando, mas não sei nada. Claro que pode voltar a interrogar: mas se não percebe porque escreve? Olhe, porque tenho de escrever alguma coisa e, afinal, se outros, que dizem perceber, não acertam “uma para a caixa”, quem sabe se eu não percebendo mesmo nada, numa espécie de lotaria, possa acertar em qualquer coisa? No mínimo vou voando sobre o ninho da economia.
Claro que você já está a perguntar-se: mas afinal o que quer este tipo? Calma!, eu vou já directo ao assunto que me trouxe até aqui.
Ontem o Jornal Público publicava um a longa carta, com data de 20 de Novembro, de Paul Krugman, prémio Nobel da Economia 2008. O que achei mais interessante foi a sua acérrima defesa das teorias de John Maynard Keynes. Como se sabe este brilhante economista inglês (1883-1946) esteve por detrás da recuperação económica dos Estados Unidos, aquando da “grande depressão” de 1929, através de uma série de programas económicos (New Deal –Novo Acordo) entre 1933 e 1937. Contrário às teorias de “laissez faire, laissez passez” (deixai fazer, deixai passar), de Adam Smith e David Ricardo, que defendiam a auto-regulação do mercado pelo próprio mercado e a favor do mercado livre nas trocas comerciais e contra o proteccionismo, ou seja, as bases do liberalismo económico, Keynes defendia a intervenção do Estado no relançamento da economia, através de grandes obras públicas, com implicações directas no emprego (Teoria Geral do Emprego, juro e moeda, de 1936).
Voltando ao Público de ontem e a Krugman, dizia então o laureado pelo Nobel de 2008 que “o que o mundo precisa neste momento é de uma operação de salvamento. (…) e para conseguir isto, os decisores políticos à volta do globo têm de fazer duas coisas: colocar de novo o crédito a circular e estimular o consumo. (…) o que está por trás das restrições ao crédito é uma combinação de pouca confiança e capital pulverizado nas instituições financeiras. As pessoas e as instituições, incluindo as financeiras, só querem lidar com quem tenha um capital substancial para garantir os seus compromissos, mas a crise esgotou o capital em toda a parte. A solução óbvia é injectar mais capital. (…) em 1933, a administração Roosevelt usou a companhia de Reconstrução Financeira para recapitalizar os bancos, comprando acções preferenciais (…). Em todos estes casos a cedência de capital ajudou a restaurar a capacidade dos bancos para efectuar empréstimos e desbloqueou os mercados de crédito.”
Continuando a citar Krugman, “(...) O próximo plano deve concentrar-se em manter e expandir os gastos governamentais –manter através de ajudas às administrações locais e estatais, expandir com gastos em estradas, pontes e outros tipos de infra-estruturas. (…) Se a despesa pública for estimulada a uma velocidade razoável, deverá chegar muito a tempo de ajudar –e tem duas grandes vantagens relativamente a benefícios fiscais. Por um lado, o dinheiro seria efectivamente gasto; por outro, algo de valor (por exemplo, pontes que não caiam) seria criado. (…) A fase definidora da economia é suposto ser “Não há almoços grátis “; quer dizer que os recursos são limitados, que para termos mais de uma coisa temos de aceitar menos de outra, que não há ganho sem sofrimento. No entanto, a economia de depressão é o estudo de situações em que existe um almoço grátis, se conseguirmos perceber como pôr as mãos em cima dele, porque existem recursos ainda não utilizados que podem ser postos em acção. A verdadeira pobreza no mundo de Keynes –e no nosso- era assim, não de recursos, ou mesmo de virtudes, mas sim de compreensão. (…) Há quem diga que os nossos problemas económicos são estruturais, sem possível cura rápida; mas eu acredito que os únicos obstáculos estruturais importantes para a prosperidade mundial são obsoletas doutrinas que confundem as mentes dos homens”.
Certamente já viu porque publiquei extractos da carta do grande economista. Como sabe esta é a teoria económica defendida pelo Primeiro-Ministro José Sócrates para o nosso país, isto é, relançar a economia através de grandes obras públicas, tais como o TGV, o aeroporto, construção de novas auto-estradas e também o relançamento do consumo pelas famílias –que, a propósito, não se sente- com o apoio aos bancos em grandes operações financeiras.
Depois de ouvirmos Medina Carreira, no programa da SIC Notícias, dizer que ressuscitar as teorias económicas de Keynes em Portugal era um verdadeiro disparate, tendo em conta que somos um país que se abastece no estrangeiro e que não é auto-sustentável. Disse ainda (com muita lógica) que se se relançar o consumo das famílias através da injecção de crédito, para além da inflação disparar, a receita gerada vai direitinha para os nossos fornecedores além-fronteiras.
Depois da “morte” recente e enterrada das teorias económicas neo-liberais de Milton Friedman, quem tem razão? Eu cá não sei. Limitei-me a transcrever as opiniões de quem diz saber, porque, se calhar, você está tão perdido nestes labirintos como eu. Apenas tentei acender um fósforo nesta noite escura.

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