quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

UMA FOLHA CAÍDA NO NATAL



É Dezembro…
uma folha cai…lentamente…
ziguezagueia por entre a amálgama de gente,
gente apressada, escrava do tempo,
insatisfeita, faces duras sem contento,
pisam a folha, alinhados em parada, com tacões,
ecoam na calçada…como centuriões;
As pedras vibram, com tanta precisão,
uma pedrinha solta-se na multidão,
alguém a pontapeia, ao acaso, em estopada,
ela rolando, por ali, vai sendo pontapeada;
O vento sopra, cortante, e a folha voa,
e de cima, olha para baixo, vê à toa,
este exército mal ordenado,
como se estivesse condenado,
a andar, andar, sem se render,
mesmo sabendo que vai morrer;
E de novo a folha cai…lentamente…
Um louco ri sozinho…desalmadamente,
pega na folha, com carinho, o anormal,
afaga-a com a mão, como se fosse um pardal,
faz caretas, gesticula, dança ao vento com nobreza,
embala a folha, dá-lhe beijos, filha da natureza,
nem o frio, a refrear o ímpeto, lhe faz mal;
Ele sabe que é festa, não sabe que é natal,
não sente a solidão, não conhece abraços,
não sabe a razão de tantos laços,
tantos sacos e sacas enfeitadas,
tantas almas embrulhadas,
tanto amor materializado,
tanto calor humano…desperdiçado;
Entre o dever e o ser,
não é gente sem…o ter;
E a folha…lentamente,
nos braços de um demente,
sorri…para a turba disforme,
e pensa a folha, se eu falasse…uma frase conforme,
mesmo com a voz do tonto rouco,
gritaria em altos berros: AFINAL QUEM É O LOUCO??!

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