sábado, 27 de dezembro de 2008

A ACIC E A APROVAÇÃO DA MEDIA MARKT NA BAIXA




Segundo o Diário de Coimbra de ontem, “(…)na reunião da Comissão Regional que aprova os licenciamentos (que integra a Direcção Regional de Economia, a Câmara Municipal de Coimbra e a ACIC, Associação Comercial e Industrial de Coimbra, entre outros), (…) foi dada luz verde à instalação da Media Markt na Avenida Fernão de Magalhães, nas instalações hoje ocupadas pela Auto-Industrial. (…) Este processo teve o voto negativo da ACIC. Aquela associação representativa dos comerciantes da cidade tem assumido a necessidade de se efectuarem estudos de mercado para se saber da real necessidade de colocar grandes unidades comerciais nos centros urbanos, pelo que enquanto este tipo de processos não for acompanhados de estudos justificativos, o seu voto será negativo em defesa do comércio tradicional”.
Tenho de abrir com uma conclusão interrogativa: porque será que os sindicatos e associações patronais em Portugal pararam no tempo? Agem sempre com o mesmo discurso: ou seja, a defesa intrínseca dos seus associados, que, aliás, era o mesmo tipo laudatório há cerca de dois anos. Acontece que de há um ano para cá, na economia, muita coisa mudou para pior, e, assim sendo, seria previsível que estas instituições tivessem uma dissertação de acordo com os ventos que correm. O que se lhes pede é que percam a sua forma estática e petrificada e, aqui sim, no verdadeiro interesse dos seus associados, saiam das suas secretárias e se tornem mais flexíveis. O que se lhes é solicitado nem é muito, é apenas que mudem o seu ponto de observação, desçam à terra, e defendam não a ortodoxia dos discursos anteriores, tipo cassete, em que já ninguém acredita, mas sim o verdadeiro interesse colectivo e nomeadamente dos seus filiados.
Voltando à posição da ACIC e ao seu veto na Direcção Regional, parece que esta associação não anda por aqui. Parece uma entidade nefelibata, que anda nas nuvens, e ignora o verdadeiro estado do comércio na Baixa.
Há um ano para cá encerraram largas dezenas de lojas, entre elas algumas com histórias de quase um século de vida comercial. Hoje, em consequência destes encerramentos, está a assistir-se à desertificação de várias ruas e praças na zona histórica. Há artérias que quase já não têm movimento pedonal pela falta de estabelecimentos comerciais. E mais: como a partir do cair da noite começam a ser frequentadas por prostitutas e toxicodependentes, os poucos comerciantes resistentes estão a encerrar as suas lojas às 18 horas com receio do que lhes possa acontecer.
Se até há um ano atrás faria algum sentido empregar a velha máxima, em representação mental, de que era preciso salvar o comércio de rua para manter e, do mesmo modo, salvar a Baixa, hoje, em face dos encerramentos consumados e que se avizinham, contrariamente, faz perfeito sentido mudar o conceito: neste momento é preciso salvar a Baixa para preservar e defender, os que vão tentando aguentar-se. E é aqui, escolhendo o mal maior, que a posição da ACIC é errada. Até porque, no caso do Media Markt, sendo de componentes electrónicos e electrodomésticos, não vem prejudicar o ramo congénere. E porquê? Porque simplesmente este tipo de loja desapareceu nos últimos anos. Tendo em conta que ainda existem alguns, poucos estabelecimentos na Baixa, aceitar aquela média-superfície, enquanto pólo dinamizador, olhando o futuro colectivo, é escolher o mal menor.
Além de mais, esta zona monumental precisa de lojas-âncora, que para além de estarem abertas até quase à meia-noite, contribuindo para a segurança nocturna, tragam pessoas para esta parte velha da cidade. Ao que parece o centro comercial aprovado para as instalações da antiga Triunfo está em “banho-maria”. Para este empreendimento, para além de lojas, estavam planeados cinemas interactivos e outros projectos lúdicos. Ora, é o que a Baixa precisa e é uma pena se não for concretizado.
Ninguém pense que a luta contra os grandes centros comerciais instalados na periferia da cidade pode ser feito, "taco-a-taco", pelo comércio de rua. Nem pensar! Nem com milagres de S. António. O consumidor, abstractamente, é um “ser” frio, sem coração, que age apenas pelo seu comodismo e interesse. Pouco se importa se consome estrangeiro ou nacional, o que lhe interessa é o preço mais barato. Para se combater estas mega-superfícies, desviando os consumidores, só utilizando a sabedoria popular de que “mordedura de cão se cura com pêlo de cão”. Ou seja, é preciso abrir nos centros históricos médias superfícies para desviar os consumidores das suas semelhantes da periferia da cidade e, naturalmente, por inerência, trará uma nova vida ao centro e aos comerciantes que resistirem. Segundo alguns estudos económicos, as mega-estruturas comerciais, no país –exceptuando Lisboa- atingiram o pico máximo de exploração, estando já algumas em declínio e saturação -como é o caso das de Coimbra- o que quer dizer que basta uma estratégia inteligente para que a médio prazo as grandes marcas retornem aos centros históricos.

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