quarta-feira, 17 de dezembro de 2008
O PAÍS DA NÃO-INSCRIÇÃO
Se o ridículo desse felicidade, hoje em Coimbra andávamos todos felizes. Refiro-me, obviamente, à notícia do Diário de Coimbra (DC) em título de última página: “adiada abertura do Mosteiro de santa Clara-a-Velha”.
Prosseguindo a prosa do DC, “A falta de disponibilidade de agenda das individualidades ditou o adiamento da inauguração oficial do “novo” Mosteiro de Santa Clara-a-Velha para Janeiro ou Fevereiro de 2009”.
"(…) Contactado pelo DC, o director regional da Cultura, António Pedro Pita, justificou que a abertura ao público deste sítio arqueológico “está a preparar-se com muito cuidado” tendo em vista a “reabertura protocolar, que poderá ocorrer em Janeiro. “Precisamos de uma avaliação geral da situação e achou-se que era preferível, só isso”, limitou-se a dizer António Pedro Pita”.
Continuando a citar o DC, “À semelhança do Mosteiro de Santa Clara-a-Velha, também o Criptopórtico do Museu Nacional Machado de Castro tem a sua inauguração adiada, neste caso para Janeiro de 2009, “em data a anunciar”.
Nestas questões de inaugurações, e transversalmente a todos os partidos no poder, já vimos de tudo. Já vimos inaugurar edifícios sem estarem acabados, outros sem estarem começados; já vimos inaugurar troços de estrada sem ligações intercalares a outras vias; já vimos também obras concluídas com inaugurações adiadas “sine die” à espera de período de eleições; já vimos também inaugurar uma obra que já há muito estava a ser utilizada. O que nunca tínhamos visto é ser anunciadas duas inaugurações e na véspera cancelar a alegoria por falta de oportunidade protocolar. Tanto é que a maioria dos jornais nacionais publicitam a abertura dos dois espaços museológicos.
Perante este facto, no mínimo caricato, vem-me à memória o filósofo José Gil e “o país da não-inscrição”, de 2005, quando lançou no prelo o “Portugal Hoje, o medo de existir”. Ou seja, com este acto de “não-inscrição”, Coimbra mostra ao restante país que realmente fazemos história não fazendo, ou melhor, fazemos a notícia, mas… logo a seguir desfazemos. E como reagimos perante este não-acontecimento? Quanto muito perante esta falta de respeito pelos conimbricenses limitamo-nos à exclamação do apresentador do telejornal: “É a vida!”, mostrando a resignação e a desvalorização cultural empírica, perante actos atentatórios da razão, mas consumados de uma forma ligeira e irresponsável, e no qual o filósofo se amparava para mostrar a nossa vencida forma de estar e de existir.
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