sexta-feira, 19 de dezembro de 2008
AO QUE ISTO CHEGOU!!
A Lena é uma simpática mulher, viva, esforçada que, através do muito querer, torceu a sua própria vida e moldou o destino que lhe estava ensaiado para uma filha de mãe de uma dúzia de filhos criados na pobreza, nas ruas da amargura de uma cidade madrasta para os pobres. Claro que foi há mais de quarenta anos, num tempo em que não havia subsídios à pobreza e quem não tivesse e quisesse comer teria de pedir ou roubar. Tempos desgraçados que quem lá passou só lembrar deprime.
A Lena, habituada ao trabalho duro, instigada desde sempre pela matriarca da casa, a sua mãe, lutou sempre por uma vida melhor. É uma optimista. Quem frequenta a sua tabacaria na rua dos Oleiros sabe bem que não exagero se disser que a Lena que é mesmo uma pessoa especial. A Lena é daquelas pessoas que poderiam ser apelidadas de baterias de recarga anímica. Chegamos ao pé dela com cara carregada com um problemazito, mas quando vemos aquela mulher “mignon” quebrar o ambiente com um sorriso em estardalhaço, pensamos para nós se realmente teremos razão para andar tão tristes. Aquela mulher é uma luz na depressão colectiva que alastra nesta cidade.
Ultimamente anda muito triste. Parece um sol deprimido sem luz e a tremer de frio. Ou metaforicamente, um candeeiro à média luz, como se tivesse perdido aquela vontade férrea de levar tudo à frente.
Quando lhe pergunto a razão de tanta tristeza, como se estivesse à espera da pergunta, responde: “ olhe, já passei muito na vida, já comi o pão que o diabo amassou, mas nunca perdi a coragem, mas agora, perante o que se está a passar, não sei o que fazer: voltei a ser outra vez assaltada!”.
No dia 4 deste mês de Dezembro, durante a noite, a sua tabacaria foi assaltada e roubaram mais de mil euros em tabaco. Anteontem, de quarta para quinta-feira, passavam poucos minutos depois da meia-noite, voltaram a quebrar o vidro da porta e a forçar a entrada na tabacaria. Só não entraram porque um vizinho do mesmo prédio, apercebendo-se do barulho, acendeu todas as luzes e chamou o elevador. Perante o receio de serem descobertos os energúmenos fugiram. Embora não levassem nada materialmente da tabacaria, a verdade é que, com mais este golpe, parecem ter levado a alma da Lena. “começo a não ter forças para lutar contra estes bandidos. Valerá a pena lutar assim? “, interroga-me em súplica, enquanto uma lágrima balança no seu lindo rosto de mulher. “Veja ao que chegámos!, agora todos os dias arrumo tudo antes de ir embora e coloco este papel na porta”.
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