segunda-feira, 1 de setembro de 2008

AS TERMAS DE LUSO



Apesar de ser nascido e criado na freguesia de Luso, nunca tinha frequentado ou entrado nas suas termas. Este ano, sem necessidades especiais de saúde, simplesmente para descansar, decidimos ir uma semana “para banhos”, como se diz na gíria burriqueira Lusense. Depois de uma semana, ficámos francamente satisfeitos. Sentimo-nos como um velho pneu, depois de muito rodar, já velho e cansado, ao qual foi aplicada uma recauchutagem a quente. Uma semana maravilhosa muito bem acompanhados e “assessorados” por pessoal, que, para além de simpático, de sorriso sempre nos lábios, demonstraram serem muito responsáveis profissionalmente.  Num ambiente retro, arte nova, onde o tempo parece ter parado no princípio do século XX, como se fizéssemos uma viagem ao passado, onde a qualquer momento esperamos ver entrar uma dama dos “loucos anos vinte”, com grande chapéu e plumas. O silêncio impera nos corredores, revestidos de mobiliário art deco, onde, em sombras do passado, parece fazer sentir-se o espírito das águas, que, em fluidos, libertando-se do âmago da terra, parece, tal como nós, sentir-se ali muito bem. As funcionárias, como “anjos”, vestidos de branco, em ninfas materializadas da mitologia grega, deslizam suavemente ao longo do edifício. Os seus passos suaves e compassados, como retirados de uma pauta musical, a certos momentos, têm o som aveludado de uma flauta dos Andes. Os termalistas, numa mimética continuada, fundada no respeito pelo próximo e pela ambiência calma e relaxante, com os pés, “vestidos” nuns chinelos estandardizados, mal se ouvem. Ao fundo, num grande hall, a menina esbelta com a taça nos lábios, em pedra negra, parece convidar a beber água pura, como se dissesse: “bebam desta água e ficarão esbeltos como eu e jamais sofrerão de pedra nos rins”. A missão de “aguadeira” foi delegada numa simpática senhora de 36 anos ao contrário (63), como costuma dizer de sorriso nos lábios. É a Dona Angélica Aguiar, funcionária da casa há 43 anos. Não se sabe se a sua constante simpatia será resultado do intenso contacto com a finíssima água de Luso ou se, pelo contrário, já teria nascido com um imenso sorriso nos lábios. É um mistério. Quando lhe pedia “um copinho da reserva especial”, partia-se toda a rir e exclamava: “você nem parece de Barrô!”. Acabei por nunca perceber se seria um elogio ou o contrário, mas isso também, naquele ambiente paradisíaco, pouco importava. Enquanto saboreava aquela “reserva especial”, as despedidas, dos que partiam eram constantes: “até para o ano, Dona Angélica, saímos daqui como novos, vamos sentir a falta desta água tão especial”. Até para o ano senhor engenheiro Joaquim e Dona Gertrudes. Boa viagem até Setúbal. Para o ano cá vos espero!”, rematava a simpática senhora, embalada num sorriso generoso de orelha a orelha. No canto esquerdo, à nossa espera, estava o senhor Rui Fernandes, com o seu ar de menino tímido. Massagista com muitos anos de experiência, como qualquer acupunctor sabe os pontos-chave do corpo humano, também o Rui, com mãos de artista, sabe o que fazer para aliviar as dores stressantes de um ano de trabalho e distender qualquer nervo mais renitente. Através dos banhos Vichy, com jactos de água e cremes revigorantes, remodela a nossa espinha dorsal, e, como santo milagreiro, revitalizando todos os músculos periféricos, saímos do seu tratamento como se tivéssemos menos vinte anos. Do nosso lado direito, a Dona Francelina Mira, com a sua simplicidade e simpatia, chama-nos para o Emanatório, onde o borbulhar da milagrosa água de nascente nos acalma e, juntamente com os aerossóis sónicos, irão prevenir futuras sinusites. De palavra fácil, responde a qualquer pergunta. Então se disser respeito ao “seu” Luso – “a mais linda terra do mundo”, como costuma dizer- sabe tudo, embalada numa voz embargada de emoção. Na piscina, de transparentes águas aquecidas, sob o controle da senhora Conceição Taveira e as terapeutas Manuela Milheiro e Helena Caria, de “braço acima, perna abaixo, roda a cabeça para a direita”, ao fim de meia-hora largamos os exercícios meios cansados mas, psiquicamente, muito bem. Ao fim de uma semana, que passou demasiado rápido, sentimos vontade de reiniciar. Numa nuvem de expectativa, (dá para perceber), todos esperam que o novo adquirente accionista maioritário, Paulo Maló, traga uma revitalização desejada às termas. Que não lhe retire a atmosfera familiar, tão sui generis, mas esperam, sobretudo, um investimento em “marketing”, que leve a uma internacionalização e uma aposta forte em publicidade nacional. É preciso levar ao conhecimento geral que, contrariamente ao que se pensa, o termalismo não se destina unicamente a pessoas doentes nem idosas. As Termas de Luso sempre foram e serão o catalizador, o reagente impulsionador de toda a actividade turística de uma região que tem tudo para fazer feliz qualquer visitante. Precisa é de uma convergência de todas as suas sinergias. O Luso não é apenas a água que se bebe. Para além dela, que é riquíssima em pureza, há mais mundo que é preciso dar a conhecer.

2 comentários:

Anónimo disse...

Desde que nasci que passo férias no Luso e já lá vão 35 anos. Nos últimos 15 / 16 anos comecei a frequentar as termas, pelo que todas as pessoas que falas me são conhecidas. Adorei as tuas palavras porque tb eu partilho um carinho muito grande pelo Luso e pelas suas termas. Espero que o Maló venha trazer alguma inovação que está faltando no Luso mas que respeito a tradição do espaço criado à muitos anos, assim como as pessoas que o fazem o que é hoje.

LUIS FERNANDES disse...

Obrigada pelo teu comentário.
Somos dois a gostar muito do Luso.
Adoro aquela Vila, infelizmente meio esquecida pelos poderes autárquico e governamental.
Esperemos que esta situação mude.