sexta-feira, 12 de setembro de 2008

O PROFESSOR BAMBO EM COIMBRA



Segundo o Diário de Coimbra de hoje, em publicidade inserta na última página, o professor Bambo está em Coimbra.
No rectângulo de 1/9 de página, pode ler-se que o ilustríssimo (e ilustradíssimo) professor de ciências ocultas já ajudou milhares de pessoas com problemas. Para além disso, em currículo sucinto, pode ler-se que o mestre possui 28 anos de experiência a recuperar casamentos, amores, famílias, dinheiro, negócios, vítimas de trabalhos de magia, inveja, ciúme, maldade, etc.
Não lhe parece estranho a vinda, nesta altura, para Coimbra, do alto dignitário da cultura africana? Pois é, também a mim! Porque será, porque será…?
Hum!…deve ser coisa grande, comecei a pensar. E, de certeza absoluta, que deve ser algum casamento desfeito, falava eu, sozinho, com os meus botões. Certamente vocês já se viram numa coisa destas, ou seja, a gente está a ver a coisa, têm as premissas, arranha na cabeça, arranha, mas a conclusão não sai. Estão a ver, não estão? Pois é. É isso mesmo, é uma “ralação”, como diria a minha avó.
Vocês não me conhecem, mas eu, ainda que não pareça, sou igual aos outros, como quem diz, não gosto de perder nem a feijões. A talhe de foice, que me lembre, a única coisa que gostei de perder sabem o que foi? Pois é isso mesmo que estão a pensar. Vai daí, então, com uma ansiedade tremenda, fui para a rua investigar. Algo me dizia que a solução estava aqui na Baixa, e nestas coisas, passando a imodéstia, tenho boa intuição. Comecei por falar com a “menina” Lurdinhas –vocês não conhecem, mas, para já, ficam a saber que é uma velhota octogenária do “leva-e-traz”- que sabe tudo o que se passa por aqui. Quando a interroguei acerca da novidade, ficou atarantada e, como grafonola com disco riscado, só repetia: “o professor Bambo em Coimbra??!”
Resumindo, depois de uma hora perdida, acabei por vir sem nada. Fui então a casa da “menina” Ermelinda “Le future” (esteve muitos anos em Paris), que mora numa ruela estreita, aqui no centro histórico, rodeada de gatos esfaimados e uma cadela, a “Fifi”. Subi as escadas do 13, por entre o estalar da madeira decrépita, o miar de mais de uma dúzia de gatos, e o latir da “Fifi”, coitadinha. Bati à porta, veio a “menina” Ermelinda vestida com um robe estampado que já viu melhores dias. Mal abriu a porta, fui logo invadido por aquele fedor insuportável a gato, e, como se fosse pouco, levei logo com a gataria toda em cima. Comecei por lhe perguntar se sabia da novidade. “Qual novidade?”, interroga-me a menina Ermelinda.
Quando estava para responder, comecei a sentir um pé molhado. Olho para baixo e fiquei doido, então não é que o raio da cadela mijou-me no sapato? Fogo! Ai que vontade que tive de mandar um pontapé “à figo” no raio da “deslambida”. Mas vocês sabem, até os duros (como eu) se abatem. Engoli o sapo, como quem diz, fiquei com o pé molhado, fiz uma festa na cadela, apertei o nariz como se apertasse a borracha de uma corneta, e entrei na sala do aposento imundo da senhora “Le future”. O que uma pessoa sofre para chegar a uma informação.
Mandou-me sentar à volta da mesa redonda, onde estava a sua bola de cristal –eu já conhecia, já lá tinha estado-, concentrou-se, começou a rezar, entrou em êxtase, e numa voz gutural, saídas das profundezas da terra, interpelou-me: “o que queres meu irmão?”
Só queriam que vissem, os gatos começaram a miar assustados, em mil acordes desafinados, a cadela “Fifi”, tão sensível como é, não conseguindo aguentar as águas, coitadinha, mais uma vez se mijou toda. Vá lá que tive sorte, os meus sapatos estavam longe.
Eu, que até me julgo forte, nestas alturas, aqueles “instrumentos” que paradigmatizam os homens, caiem-me sempre ao chão, mas não me dei por achado e respondi que queria saber o motivo da vinda do professor Bambo para Coimbra. Foi então, para minha surpresa, naquele pequeno cubículo, senti-me um felizardo. Que me importava o fedor a gato, o ter um pé encharcado, perante a satisfação plena da minha curiosidade? Aquela voz cavernosa rugia assim: “O professor Bambo foi contratado pelo presidente da Câmara, Carlos Encarnação, para que aquele, com o seu intemporal poder dos búzios, tente consertar o “casamento” entre o chefe da autarquia e Horácio Pina Prata”.
Ainda perguntei ao espírito da senhora “Le future” se eles ainda se amavam mas fiquei sem resposta. Tinha acabado o transe e fiquei pendurado.

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