quinta-feira, 4 de setembro de 2008

A LEI DA VIDA



(FÁBRICA DESACTIVADA DE TELHA E TIJOLO EM VILA NOVA DE MONSARROS)

Enquanto fui nova, fui querida,
num tempo sem grande solução,
era possuída por alguns, acarinhada,
no meu ventre, como mãe que dava vida,
recebia o esperma em barro vermelhão,
em gravidezes, paria telhas, tijolos, era admirada,
dava trabalho a muitos filhos, numa sofreguidão sentida,
envelheci, os “meus amantes” largaram o meu coração,
vieram outras máquinas mais esbeltas, mais caprichadas,
faziam-lhes coisas, outros prazeres, eram mais sabidas,
aos poucos, fui ficando desleixada, sem comiseração,
de pouco valeu o grito das outras, como eu abandonadas,
fui perdendo a minha cobertura, agora tão desvalidas,
outrora garbosa, como cabelo, símbolo e orgulho da nação,
hoje sou a sombra de uma vida cheia, mas que não resta nada,
nem a história me lembra, nem a memória me convida,
só a lua, como companheira amiga, me projecta a solidão,
de mim já pouco existe, já nem sequer sou falada,
erecta, só me resta a chaminé, como símbolo fálico de vida.

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