sexta-feira, 12 de setembro de 2008

O MEU LARGO





Vou falar de um recanto encantador,
desenhado no estreito de ruas pequenas
por arquitecto que sabia dar valor,
no coração da velha cidade Lusa Atenas,
descrevo-vos o meu largo com amor;
Ao fundo tem um café “popular”,
noutro lado, duas sapatarias,
em frente, tem um pronto-a-mudar,
tem uma loja de memórias, de velharias,
o meu largo tem alma, espírito de animar;
Aqui reina a paz e a concordata,
por entre a lamúria do ceguinho,
o apelo gemido da cigana timorata,
a lengalenga do aleijadinho,
aqui também há uma bela mulata;
No meu largo nunca se fala em demasia,
fala o Adelino, o camarada comunista,
contra tudo, contra a Social-democracia,
cala-se o “Manel” porque é centrista,
eu faço a ponte entre toda a ideologia;
Lá no canto, espreita o Sérgio, comodista,
conta os trocos, aponta os calotes,
olha para todos com olhar de artista,
fala sozinho, inventaria os dotes,
atura bêbados como malabarista;
É fenomenal esta praceta de antanho,
dizem que aqui morreu freira de alegria,
contam tanta coisa que nem estranho,
se disserem que Camões aqui escreveu com empenho,
é tão belo, entre os mais belos, o Largo da Freiria.

2 comentários:

Anónimo disse...

Desculpe intrometer-me mas acompanho-o nesta sua Ode ao Largo da Freiria, porque aí viveram familiares bem lá no cocuruto da então popular padaria, e conheci o Sérgio, então lá para as bandas das Nogueiras, como quem vai a caminho da Beira, onde com companheiros de outros anos, tinha também casa fina e bem aboletada porque marisqueira e piano-bar.

LUIS FERNANDES disse...

Muito obrigado por ter comentado.
Exactamente. Este Sérgio de que falo é o mesmo do piano-bar.
Bom vizinho. Boa pessoa.