("O MOMENTO DA VERDADE-DIZER A VERDADE...COMPENSA")
“O momento da verdade”, a actual concurso da SIC, é um dos mais repelentes espectáculos televisivos apresentados nos últimos tempos. Num dos últimos concursos, entre várias perguntas ao concorrente, uma delas era se o “concursante” já tinha sido infiel. Ao que parece, como estão ligados a um polígrafo ou detector de mentiras não lhes resta outra alternativa que dizer a verdade. O polígrafo é um aparelho que mede e grava registos de várias variáveis fisiológicas enquanto uma série de questões são formuladas. Se o examinando “aldrabar”, o registo magnético indica linhas variáveis, interrompendo, assim, uma linha contínua.
Como o concorrente respondeu que, sim senhor, já tinha sido infiel, resultado: O casal em questão separou-se.
Esta semana, e ainda segundo a publicidade do canal independente, a pergunta é: “se ganhar o Euro-milhões troca a sua mulher por outra?”. Sinceramente, é uma pergunta muito parva para ser compreendida, mesmo à luz de concursos televisivos de entretenimento. Só pode ser entendida num cenário terceiro- mundista, em que vale tudo. Onde a ética ou moral são cactos desprezíveis num jardim pouco cuidado. Para conseguir dinheiro vale tudo? É evidente que aqui não há inocentes. Somos todos culpados. É o canal, por apresentar um “pacote” tão repelente. São os concorrentes porque, a troco de “cinco reis de mel colado”, se expõem e, num espectáculo indecoroso, destroem a sua vida familiar e somos todos nós, como voyeurs indecentes, a contribuir para o descalabro social. O que me provoca “frisson” é que, em princípio, qualquer programa deve ser proactivo, criando positividade e boa disposição, elevando o lado bom que existe dentro de cada um. Neste caso, e contrariamente ao que se espera, este absurdo concurso salienta o pior que existe dentro de um humano e provoca a destruição moral e material.
É interessante como passados mais de dois mil anos, ainda que numa nova embalagem, a filosofia animalesca e grotesca do Circo Romano volte a estar presente, agora dentro das nossas casas. Não há dúvida nenhuma que o tempo passado, que medeia o Coliseu de Roma e os nossos dias, nada se alterou, pouco trouxe de novo à sociedade. O homem, na sua essência, nada mudou. Continua igual a si mesmo. Ou seja, é um animal vestido de racionalidade mas continua a matar, a prejudicar, a roubar, a invejar, tal-qualmente como o mais primata irracional do universo. Se atentarmos, o que mudou foi o ambiente exógeno que o rodeia. Continuamos todos a ser uns carroceiros rústicos, bem aparentados, vestidos com boas maneiras, bem apessoados no trato. A única coisa que substituímos, para além da vestimenta, foi o cavalo pelo bólide.
Voltando ao programa “Momento da verdade”, e sem me querer armar em moralista, se posso pedir alguma coisa, é que não vejam esta porcaria atentatória aos princípios de alguma decência que deve existir dentro de nós.
1 comentário:
Oh Luis Fernandes, cada um vê o que quer e o que gosta. Isto é como a pornografia, cada um vê se quer. Se tem de existir ? Sim claro !
Acho um programa "interessante" e onde as pessoas mostram o que tentam esconder na vida real.
Aqui não há esconderijos e falsos testemunhos como na vida normal. Aqui vê-se tudo como a agua cristalina.
Como a pergunta da traição:
"Se traisse o seu marido contava-lhe ?"
Aqui quantas mulheres responderam "Sim claro" na entrevista de rua ?
Bastantes !
E nós sabemos bem que no poligrafo era o contrario !!
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