sábado, 3 de dezembro de 2011

"NÓS, OS BONS, E OUTROS FILHOS DE MÃE"

(IMAGEM DA WEB)


 O que se passou hoje no Congresso Nacional das Freguesias, em que o ministro Miguel Relvas, para além de ser vaiado, foi presenteado com o abandono da sala por parte de metade dos delegados ao congresso, foi simplesmente um acto indecoroso e que deveria envergonhar quem lá esteve e tem obrigação de primar pelo respeito, como será o caso destes autarcas politicamente eleitos.
Goste-se ou não do género de Relvas –eu pessoalmente não gosto, mas não implica que só por isso vá embarcar na contestação fácil e pueril de um grupo que quer ser intocável-, o que se passou é inclassificável do ponto de vista do bem-receber. O ministro, estou certo, foi convidado para se deslocar ao convénio, ora, tendo em conta o que aconteceu, dá para ver, que estamos perante um grupo que não prima pela assertividade democrática e muito menos quer ser escrutinado no desempenho da utilidade pública.
Do ponto de vista de análise social não deixa de ser curiosa esta manifestação dos edis de freguesias. Até há pouco, aparentemente, todos estavam de acordo de que terá de haver redução da despesa com a representação partidária. O problema começa a surgir quando os interesses individuais são tocados. Ou seja, tudo estaria bem –para estes presidentes de junta- se o corte se circunscrevesse apenas à Assembleia da República e se o numero de deputados passasse para 180, como será previsível que assim acontecerá. Quando começa a tocar nas freguesias ou nos concelhos, ai Jesus, nossa Senhora! É assim uma espécie de catalogação interna: “Nós e os outros”. “Nós”, os edis das freguesias, serão os bons. Os maus são os outros.
Terão estes senhores alguma razão? Poderão ter, sobretudo em algumas freguesias no interior do país, cuja representatividade, em alguns casos, não se contesta. Já no que toca ao litoral, metade dos 308 concelhos e, provavelmente, metade das cerca de 4260 freguesias (Continente e Ilhas) terão de desaparecer. É o bom senso que obriga. Faz algum sentido, por exemplo, Coimbra cidade ter uma série de juntas coladas umas às outras, algumas, com centenas de eleitores? Mesmo municípios, fará sentido o distrito ter, salvo erro, 17 câmaras? Faz sentido se for para continuar a garantir uma série de mordomias individuais –e, por favor, não venham cá com o argumento de que alguns presidentes de junta só ganham 200 euros. Esse argumento não cola. O problema é o que vai atrás.
Haja bom senso e mais respeito por este ministro Relvas ou outro qualquer –que aliás este tipo de manifestação gratuita só vem dar-lhes razão e acentuar que estamos perante uma medida interesseira de uma classe ou grupo.
Vamos lá deixar de embandeirar em arco. Este governo, a meu ver, não será o ideal –nunca o alcançaremos-, mas também não estará só a fazer asneias como muitas vezes nos querem fazer crer. 

2 comentários:

Jorge Neves disse...

Esta medida da amordaçar a democracia local não vem inscrita na troika da forma que este desgoverno a quer aplicar.
Os exemplos têm de começar de cima, se querem reduzir o número de freguesias então comecem por reduzir o número de câmaras municipais
Uma freguesia pequena/ média tem uma despesa mensal os 800 euros, caso fundam duas ou três por acaso sabem qual vai ser a sua despesa mensal? Vamos passar de cerca de 670 euros mensais a dividir pelos três membros do executivo para um vencimento superior a 1500 só para o Presidente da Junta.

JPG disse...

O exemplo veio realmente de cima, com o corte no número de ministros, secretários de estado e assessores.

Alguns municípios podia ser fundidos e as regras para redução do número de freguesias não pode ser ditada a "regra e esquadro" de um qualquer gabinete.

Mas o que se passou foi vergonhoso e as faixas e tarjas que estavam previamente preparadas, não são de quem devia ser o garante da democracia e muitos autarcas estão mais preocupados com as centenas de euros que irão deixar de receber do que com os seus conterrâneos (penso eu de que...)

As inúmeras reuniões da ANAFRE onde somos nós a suportar as despesas, as senhas de presença em assembleias municipais e de freguesias, não deviam ser reduzidas numa altura de crise?

Quem realmente gosta de fazer o bem à sua freguesia (e eu acredito que a maior parte assim seja), não poderá abdicar de uma parte do que recebe?

Há tantas entidades (teatro, rancho, futebol, etc...) onde as pessoas se deslocam, vão a reuniões e não ganham um cêntimo, porque amam o que fazem.

Também há Instituições de Solidariedade Social e outras formas de fazer voluntariado, onde as pessoas dão de si sem qualquer ajuda de custo (bem pelo contrário), porque sentem que estão a ser úteis à sociedade.

Julgo que o reconhecimento social já é um "prémio" para os elementos das Juntas de Freguesia (exceptuando os que são profissionais).

Pegando no exemplo acima (confesso que não conheço os valores), 3 freguesias a 800€ mensais, correspondiam a 2400€, Se ficarem fundidas, poupa-se 900€/mês (só em vencimentos de autarcas...).

Alguns "feudos" irão terminar e não há medidas de fundo em que não se cometam injustiças, vamos ver se conseguem chegar a um entendimento e cortar onde realmente é possível.

Cumprimentos!