terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

EDITORIAL: COMÉRCIO TRADICIONAL, UNS ESFORÇAM-SE E OUTROS OBSERVAM




 Quem é meu “cliente” aqui no blogue, isto é, faz o favor de ler o que escrevo, sabe que tenho muito cuidado com o que afloro. É lógico que é a minha obrigação. Mesmo em textos opinativos, sei, devo ser sério e versar temas sobre pessoas ou instituições com seriedade. Ou seja, não cair no facilitismo de disparar em todas as direcções e sem fundamentação. Dizer mal quando se deve e escrever o bem quando se entendo que se fez bem feito. E é isso mesmo que faço. Como se tivesse uma linha editorial, tento não me deixar levar por partidarismo, inimizade, revanchismo, ou mesmo ser do contra sistematicamente. Tenho a certeza de que não me perco nesses trilhos labirínticos.
E comecei este texto com esta introdução longa, porquê? Porque hoje, mais uma vez, a APBC, Agência para a Promoção da Baixa de Coimbra, apresentou uma conferência de imprensa, onde estiveram presentes vários membros da direcção, para apresentação de mais uma iniciativa no sentido de revitalizar o tecido comercial da Baixa. Como disse Isabel Campante, membro da direcção da APBC, “esta iniciativa, como outras que se seguirão, são pretextos para motivar os seus agentes económicos e trazer pessoas à Baixa”.
Ora, caminhando devagar no meu pensamento e em direcção ao que me levou a escrever, começo por dizer que as pessoas da direcção da Agência que estiveram presentes no hotel Oslo foram agentes comerciais, um industrial de hotelaria, um membro da junta de freguesia de São Bartolomeu, e um, neste caso uma senhora, adstrita à cultura. Aparentemente estará tudo bem, pensará o leitor, e que, chegado aqui, já se interroga onde raio quero eu chegar. Mas, com calma, se me der tempo, vou explicar-me. Então é assim, A APBC é uma associação sem fins lucrativos. O seu capital social está distribuído por entre as juntas de freguesia de São Bartolomeu e de Santa Cruz; a ACIC, Associação Comercial e Industrial de Coimbra; a Associação de Panificação; a Caixa Geral de Depósitos e a Câmara Municipal de Coimbra. Esta última entidade detém a parte de leão no capital.
Voltemos à conferência de imprensa de hoje e lembremos que só estiveram presentes comerciantes, um membro de uma junta de freguesia, um dos sócios de um café da Baixa e uma senhora directora de teatro. Por esta composição, e tendo em conta todos os associados no capital, já vemos que faltam muitos interessados no progresso desta associação. De alguns, nomeadamente da Caixa Geral de Depósitos, até se entende, porque esta entidade bancária, quando se comprometeu foi numa lógica de ajuda financeira, ainda que, naturalmente, vislumbrasse negócio. Mas e os outros? Onde está a junta de freguesia de Santa Cruz? Onde está a ACIC? Onde está a Associação de Panificação? Onde está a Câmara Municipal? Bem sei que até se poderá dizer que, por exemplo, Isabel Campante e outros membros foram nomeados em representação da autarquia, mas, para mim, não chega. Sempre que houvesse um anúncio de um novo projecto de reanimação, a Câmara Municipal –cujo agora presidente Barbosa de Melo é o presidente da Assembleia Geral da APBC e o seu assessor Miguel Pignatelli é o tesoureiro- deveria estar representada. E porquê? Porque seria um acto de elementar política. Seria uma forma de a edilidade, com a sua representação, dizer aos comerciantes “meus senhores, nós estamos nesta luta convosco. Nós queremos revitalizar o Centro Histórico. Contem connosco!”. Ora, não estando, em silogismo, poderemos retirar pelo menos duas ilações: ou o executivo camarário não percebe até onde deve chegar o braço político, enquanto representante da polis ou, então, está pura e simplesmente a marimbar-se para a reanimação da Baixa.
Bem sei que estou a ser um pouco duro, mas tenho os meus motivos para acreditar que nos últimos anos, o executivo camarário tem agido com completa displicência e apatia em relação ao que se passa por aqui. A política não é só pragmatismo também é aparência. E na última década, quanto a mim, a Coligação por Coimbra tem sido de uma aselhice a todos os níveis. Não lembro apenas o licenciamento de grandes áreas comerciais, mas sobretudo o mostrar preocupação com a situação de completo empobrecimento dos comerciantes. Da Câmara Municipal nunca se ouviu, para além de pequenos desabafos de circunstância, uma palavra forte de apoio aos profissionais do comércio e preocupação séria pelo estado decrépito a que chegou esta zona velha. Claro que, no limite, até poderemos dizer que esse papel não lhe cabe por inteiro –seria, por exemplo, à ACIC. Está bem, mas os comerciantes são munícipes, não são? Ou, apesar de andarem pelas ruas da amargura financeira, continua-se a olhar para esta classe como representantes do grande capital? Se calhar…
E ainda não disse tudo. É certo que o novo presidente Barbosa de Melo ainda não fez mossa na cadeira presidencial –está lá há menos de dois meses- e, por isso mesmo, legitimamente, temos de lhe dar tempo e o direito à dúvida de que vai ser melhor do que o seu antecessor, Carlos Encarnação. Estou convencido que para ser melhor do que o seu anterior nem precisa de se esforçar muito. Basta apenas um bocadinho. Quanto a mim, Encarnação, para a Baixa, foi um vento suave, uma brisa que embora fresca na esperança, desapareceu no horizonte e não deixou história. Admito que não esteja a ser justo, mas é o que sinto.
Ora, se eu estivesse no lugar de Barbosa de Melo, é evidente, faria um corte com o passado. Este economista, pessoalmente, não assumiu qualquer compromisso nem com o seu antecessor nem com o eleitorado. Logo, penso, está de mãos-livres para mostrar e fazer melhor. E, neste mês e pouco de vigência, está a mostrar ser melhor? Não! Até agora, em relação ao comércio tradicional e às suas entidades representativas, está a fazer o mesmo que fazia o anterior presidente da Câmara Municipal. E para melhor consubstanciar o que escrevo, lembro que a direcção da APBC pediu-lhe uma audiência em 5 de Janeiro, para tratar de vários pontos importantíssimos para o sector, e só vai ser recebida no próximo dia 17. É certo, diga-se em abono da verdade, que esta reunião esteve marcada para meados de Janeiro e, por causa do Metro e da ida a Lisboa, foi adiada. Mas, mesmo assim, não se pode compreender que um presidente de uma autarquia demore quase mês e meio para receber uma direcção…da qual, pela responsabilidade social, financeira e política, também faz parte. Há aqui qualquer coisa que não bate certo. De uma vez por todas, a edilidade, na acção e na aparência, tem de mostrar que não é um mero espectador. Tem obrigação de, deixando cair as barreiras de poder, mostrar a estes “carolas” -que trabalham por amor à camisola-, que está de mãos dadas e, todos juntos, pronta a ajudar a recuperar e revitalizar o centro da cidade.

3 comentários:

Anónimo disse...

Exmº Senhor gostaria que junto dos associados da ACIC fizessem pressão para ajudarem os funcionários da mesma, para começarem a receber os seus ordenados para poderem ter alguma qualidade de vida, à já quem tenha o azar de provavelmente ver o seu ordenado penhorado, o que para além de não receber ainda tem que ser falados por não conseguirem cumprir com os seus compromissos só porque a ACIC deixou de cumprir a sua parte. Só não se compreende para onde foi e continua a ir tanto dinheiro que entra nessa instituição. O que é certo é que já lá vão alguns meses de incumprimento perante os funcionários e nada se vê e com tendências para piorar continua-se sem ver a luz ao fundo do tunel. Pedia a quem tem poder para ajudar os funcionários da Acic que os ajude pois qualquer dia a precentagem do desemprego vai aumentar.

LUIS FERNANDES disse...

Margarida deixou um novo comentário na sua mensagem "EDITORIAL: COMÉRCIO TRADICIONAL, UNS ESFORÇAM-SE E...":

Exmos. Senhores

Peço desculpa de usar este espaço para fazer uma reclamação. Tomei conhecimento através deste texto da APBC e era a essa associação que queria dirigir-me. Penso que comerciantes como a empresa (…) deveriam ser banidos da Baixa de Coimbra e ser-lhes retirado o dístico que têm à porta sobre o comércio na Baixa. Esta empresa tem cerca de uma dezena de processos na Deco e no Julgado de Paz sobre queixas de pessoas que têm sido burladas e nas quais me incluo.
Penso que a Associação ou qualquer outra entidade que tenha responsabilidade sobre o comércio da Baixa deveria tomar medidas para que um estabelecimento destes não esteja aberto.
Obrigada

Margarida Figueired (mmf@eq.uc.pt)

LUIS FERNANDES disse...

NOTA DO EDITOR:

Começo por lhe agradecer, Margarida, o facto de ter comentado e aflorado tão importante tema.
A seguir peço-lhe desculpa por ter amputado o seu texto. Mas, em minha defesa, imploro-lhe que compreenda a minha posição. Se eu publicasse aqui o nome da firma em questão, sem a ouvir -e mesmo fazendo-o-, em minha opinião, não estaria a prestar um serviço social. Legalmente -e moralmente, porque esta parte, para mim, é muito importante- só devo fazê-lo depois de transitado em julgado. Ora, como sabe, segundo a sua carta, o que há são muitas queixas, mas, aparentemente sem deliberação. E isto, considere, não desvaloriza o seu queixume. Fá-lo, e muito bem, porque se sente lesada. Mas, mais uma vez rogo-lhe que me entenda, não tenho competência para ser juiz e, com as informações de que disponho, devo fugir a sê-lo.
Muito obrigada e disponha deste espaço sempre que entenda necessário.
Deixo-lhe os contactos da Agência para a Promoção da Baixa de Coimbra:
Telef: 239 842 164
Fax: 239 842 164
E-mail: apbccoimbra@gmail.com