Há uma semana, no programa “Palavras Soltas”, da Rádio Regional do Centro, em que estou presente juntamente com o Mário Martins e o José Cardoso, em debate sobre a actuação da APBC, Agência para a Promoção da Baixa de Coimbra, no espectro comercial, dizia este último, eufemísticamente, que o modo de actuar desta agremiação era completamente amador e sem planeamento prévio.
Falávamos do programa apresentado para o “dia de namorados”, do passado dia 14. Refutei dizendo não ser totalmente verdade. Se por um lado a programação não era profissional, tal, deve-se à constante falta de dinheiro de que enfermam as associações de todo o país. Ou seja, o Estado nas verbas atribuídas não paga atempadamente e faz com que o endividamento seja constante. Por outro lado, referi que fazia todo o sentido o trabalho desenvolvido até agora. Mais, era graças à carolice dos seus membros, também comerciantes, que, deixando as suas lojas, se empenhavam o mais que podiam nos eventos que criavam.
E VEIO O DIA DE NAMORADOS
Então, passada uma semana, depois do evento, acontece uma coisa engraçada: o João Cardoso, hoje, achará que eu tinha razão e, da mesma forma, eu tenho a certeza que ele também estava carregado de certeza.
E por que é acontece esta reviravolta? Porque, para quem está de fora, a festa foi um total êxito. Para mim, que estou cá, não me pareceu um sucesso tão retumbante assim.
Para o visitante da Baixa e para quem não pensar muito, não há dúvida, foi cem por cento. Até as televisões falaram várias vezes no facto do músico João Torres andar a cantar serenatas a quem as solicitou. Ora a televisão é como a política: o que parece é…mesmo sem nunca o vir a ser. Isto é, por outras palavras, hoje a televisão fala de qualquer coisa desde que seja original e diferente. Contrariamente a Lisboa e Porto, se houver em Coimbra um incêndio num qualquer prédio não se falará dele a nível nacional, mas se o fumo saído for às cores é mais que certo que as tv’s estarão cá todas em bloco. O que quero dizer com isto é que no caso das serenatas, porque era um projecto simples mas original, vieram todas e, pegando no assunto, passaram a ideia ao país de que Coimbra a nível comercial está mesmo a mexer. Infelizmente não é verdade. Esta iniciativa, meritória, sem dúvida, como outras anteriores também bem sucedidas, não passam de tiros de pólvora seca. Passa o dia e, no seguinte, continuamos na mesma.
QUEM TRABALHOU ARDUAMENTE NA RUA?
A APBC tem vários directores e duas funcionárias. Quem se viu a correr de um lado para o outro, distribuindo chocolates nas lojas, a atenderem telefonemas de comerciantes insatisfeitos com pequenas minudências, foram as duas trabalhadoras. Uma delas, para que nada faltasse, recorreu, inclusive, à ajuda do seu marido e do filho.
A direcção, constituída por vários entes, repito, pouco se viu na rua a ajudar as funcionárias.
Por exemplo, o músico João Torres, ao percorrer vários locais do Centro Histórico, incluindo alguns restaurantes e lojas comerciais, deveria ter andado acompanhado com um director para explicar às pessoas o que se estava a passar e, ao mesmo tempo que referia o patrocínio da APBC, convidava estes frequentadores, ocasionais ou não, a voltarem à Baixa. Isto é política elementar.
NÃO PERGUNTES À AGÊNCIA O QUE PODE FAZER POR TI…
Salvo raríssimas excepções a classe comercial é profundamente egoísta. Não move uma palha seja para o que for. Pedir a um comerciante para participar num qualquer evento, onde tenha de haver deslocação, é contar com as desculpas mais esfarrapadas que há: “tenho uma empregada de férias”, “o meu neto faz hoje anos”, “já tenho um compromisso”, “não posso, porque morreu um amigo meu”.
Nesta classe, não movendo um músculo para mudar seja o que for, é normal acusar as instituições de nada fazerem por ela. Para além de haver uma falta de reconhecimento total no que é feito. É certo que, para além destas festas de revitalização da Baixa, na defesa intrínseca da estrutura comercial e dos seus problemas, os comerciantes não têm uma organização que os defenda já há muitos anos. Claro que poderemos sempre interrogar, se, não colaborando, não terão eles, profissionais do comércio, apenas o que merecem?!
Continuando no meu raciocínio, então, como é uma classe acomodada, habituada a não dar nada e sempre a exigir, passa-se um fenómeno engraçado. Para lhes cair nas boas graças ou não -e aqui refiro a APBC que, nos últimos anos, é a única entidade que vai fazendo alguma coisa-, numa espécie de garantismo absoluto, sem obrigações, estão sempre a receber. Pode ser chocolates como agora, pode ser os espectáculos que custam uma fortuna. Mas nunca estão satisfeitos. Continuam sempre a reclamar. E a Agência, na tentativa de os calar e tentar reanimar o Centro Histórico, vai dando, dando, até ficar exangue.
Acontece que os recursos que são dispendidos nestes programas são pagos pelo erário público, o que quer dizer que será por todos nós. Assim sendo, a meu ver –correndo o risco de estar a ser injusto-, está errado continuar a distribuir sem exigir a contrapartida por parte dos comerciantes. E digo isto, porquê? Porque até o pedir para estarem abertos até mais tarde, que é o mínimo, nem nestas alturas de festas é cumprido. Então volto a interrogar: estará certo continuar a dar, dar, e voltar a dar, sem exigir algo em troca?
SERÁ QUE SE ESTÁ A APROVEITAR OS RECURSOS NATURAIS?
Na Baixa há cerca de 600 estabelecimentos. Logo, multiplicando, dará para ver que trabalham aqui vários milhares de pessoas. Já foi feito alguma coisa pela APBC para convidar estes trabalhadores, entre patrões e empregados, a formarem grupos de cultura, como exemplo, teatro, música, folclore e outros que poderiam ser aproveitados sem custos, ou pelo menos muito reduzidos, na própria revitalização da zona? –Aqui saliento essa tentativa pelo comandante dos bombeiros Voluntários, João Silva. Não sei se foi bem sucedido.
Saberá a agência que o Rancho de Coimbra tem um grupo de folclore de qualidade acima da média e que, segundo Carlos Clemente, director daquela centenária colectividade, está inactivo por falta de verbas para pagar a músicos de foles, concertinas?
O que me dá a parecer –e falo por experiência própria, ou pelo menos é o que tenho intuído- é que se aparecer alguém a oferecer-se é olhado com alguma desconfiança –aliás, normal em todo o lado e tão próprio deste povo à beira-mar plantado. Olhando os olhos destas pessoas, quase que se consegue ler: “o que te move? O que te fez vir oferecer os teus serviços gratuitamente? Hum…às tantas queres é vir ocupar o meu lugar! Sei lá, deves ser comunista…se calhar fascista, para vires assim, só podes ser!”.
Bom, mas viva o velho. Alonguei-me, como sempre, mas é numa tentativa de fazer pensar. Bem sei que vai ser entendido assim: “PRONTO, LÁ ESTÁ ELE A PÔR ABAIXO!”
1 comentário:
Foi um exito para o "publico" e segundo sei só não deu barraca devido ás duas funcionárias da APBC, mas esta informação fica a nivel interno.
APBC e não só devia agradecer ao amigo Luis Quintas todo o seu empenho nestas actividades.
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