Chamou-me a atenção o policromado das louças na montra. Instintivamente desviei o olhar para o brilho que activou os meus sentidos. “Interessante, mas esta loja estava encerrada. Ainda há dias noticiei o seu fecho no blogue”, pensei para com os meus botões, num solilóquio acelerado.
Entrei. Cheirava a novo. As prateleiras, de um branco imaculado, completamente repletas de artigos, contrastam com a multiplicidade de cores provenientes da pictórica louça de Coimbra pintada à mão. Senti-me ser invadido por uma áurea de positividade. Experimentei uma sensação de calma e descontracção. Mal tinha poisado os olhos num pequeno vaso, espectacularmente pintado, fui “tocado” por uma voz cristalina, retocada de suave veludo, como só uma vendedora experiente sabe embalar a dicção: “posso ajudar em alguma coisa?”.
É a Isabel Silva que me dirige a palavra. Abriu esta loja, na Rua Ferreira Borges, há menos de uma semana. “É mais uma”, diz-me a sorrir. Para ela, e para o marido que, como sócios –cada um na sua, ele na fábrica ela nas lojas-, exploram uma fábrica de louça de Coimbra, este passo não é nada de novo. Ainda há um ano e pouco, lá mais para a frente, a cerca de vinte passos, no antigo “José Novais”, abriram outro estabelecimento. Ao todo já são quatro casas num raio de cem metros. A Casa-mãe foi aberta junto ao Arco de Almedina, há cerca de seis anos, no antigo espaço dos “Móveis Pereira”. A seguir abriu outra nas escadas de Quebra-Costas. Ao todo já são quatro estabelecimentos do mesmo género. “Se bem que -diz-me- cada loja tem seu “status”, sua própria personalidade. Apesar de serem louças variadas de Coimbra, Caldas e outro artesanato do país, tento que os artigos à venda sejam sempre diferentes em cada uma, quanto mais não seja na pintura decorativa”.
E faz sentido abrir quatro estabelecimentos uns juntos aos outros? Interrogo, quase em provocação. “Claro que faz! Repare que um cliente que entre na loja do arco e não compra –porque não gostou ou outro motivo qualquer-, ao passar aqui, nesta, entra e compra. Isto acontece muitas vezes”, responde a Isabel Silva. Isso quer dizer que está optimista e acredita no futuro da Baixa? Volto a perguntar. “Acredito sim! Acredito muito no que faço. Tenho a certeza que o futuro do país será o turismo. Não há que ter medo. Não quer dizer que não tenha consciência que o momento que vivemos é muito mau para investir. Mas, olhe, eu comecei do nada, e, portanto, se for preciso recuar, recuarei. Bem sei que esta minha aposta é…(como dizer-lhe?)…defender para a frente. Entende-me?”, enfatiza a Isabel.
Ao todo, nas quatro lojas, contando consigo, trabalham 10 pessoas. Com a abertura desta nova foram criados dois postos de trabalho.
“Trabalho muito, sabe? Estamos abertos, nas quatro lojas, todos os dias da semana, das 9 às 20 horas. Mas, deixe-me dizer-lhe, o comércio neste momento, se quer subsistir, só terá hipóteses se nos entregarmos de alma, coração e todo o esforço do mundo”, profetiza a Isabel.
1 comentário:
Haja esperança e mais gente assim com a alma grande e forte!!!
VIVAM!!!
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