segunda-feira, 5 de abril de 2010
A BAIXA...DOS OUTLET'S
Do outro lado do telefone o meu amigo, com as palavras aos tropeções, retinia em forma de apelo: “ó Luís tens de escrever sobre o que se está a passar na Baixa…isto é uma vergonha! Como é que se pode fazer alguma coisa do centro histórico assim? Já viste?, andamos nós a puxar por isto, para cima, para estes fulanos estarem a vender ao desbarato, a fazerem uma espécie de lojas de saldos durante todo ano e com saída a qualquer custo? Nós precisamos de boas lojas, com boas marcas. Estabelecimentos que engrandeçam e dignifiquem toda esta zona!”.
O meu amigo é comerciante há muitas décadas na Baixa. Nos últimos tempos, tenho-me apercebido que anda muito nervoso. Esta insistência ao telefone, quase a gritar, é apenas um desabafo. Sei que o meu companheiro, de meia-idade, anda a dormir mal, algumas vezes já recorrendo a fármacos para conseguir “passar pelas brasas” algumas horas. De há uns tempos para cá tenho visto o seu envelhecimento acontecer precocemente, a galope num tempo ciclópico.
Gosto dele, é um bom homem, franco e leal. Trabalhou a vida inteira. Tal como muitos de nós, pensou que chegando aos cinquenta e poucos teria já um período de descanso. Engano total. O que tem em troca do sonho idealizado, são cheques a cair –que foram passados antecipadamente para pagar a mercadoria entretanto recebida- e preocupações de sobra.
Esta minha geração, de 1950/60, não merecia o que está a receber. É injusto. É imoral. É veramente inadmissível! Começámos a laborar ainda em crianças para os nossos pais. Ainda adolescentes, sem contemplações, fizemo-nos homens à força dura do trabalho. Para fugir à disciplina e ditadura dos nossos progenitores, casámo-nos mal atingimos a maioridade. Vieram os filhos, como galegos, trabalhamos noite e dia para lhes darmos uma vida melhor do que tivemos. E demos mesmo. Com eles realizámos os nossos desejos frustrados, para que se tornassem, alguém, reconhecidos na sociedade. Demos-lhe um curso superior, valorização que nos foi negada por impossibilidade financeira dos nossos tutores, pensando nós que, ao proporcionar-lhes mais ferramentas, assim estariam mais salvaguardados para um futuro que sempre adivinhámos difícil. Puro engano. Não só frustrámos as suas legítimas aspirações, como, para complicar ainda mais, agora, esgotados, estamos sem meios para lhes dar as asas que necessitam para voar. Não que sintamos que o tenhamos de fazer por obrigação, mas por que ver os filhos felizes é a nossa total satisfação. Eles são extensão de tudo o que existe em nós.
Chegados a 2010, fartos de uma vida de suores, canseiras e noites mal amanhadas no dormir, temos de cuidar dos nossos pais –que estão velhinhos- e, novamente, dos nossos filhos, que, embora já trintões, não podem planear a sua vida. Não podem pensar em sair de casa porque não têm estabilidade profissional e, consequentemente, emocional.
Estamos tramados! Até quando aguentamos?
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1 comentário:
Com a visão da maioria dos comerciantes da baixa, nem com Outlet se safam.E necessario empenho, determinação e bastante criatividade.
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