sexta-feira, 12 de agosto de 2022

MEALHADA: RETALHOS DA ÚLTIMA REUNIÃO DA CÂMARA MUNICIPAL

(Imagem do jornal Bairrada Informação)



A sessão começou por, em silêncio e em canal aberto durante cerca de dez minutos, se aguardar pela entrada online do vereador do Partido Socialista e ex-pretor urbano, Rui Marqueiro. Houve tempo para apreciar cada ruga mais ou menos profunda em rostos que envelhecem, cada cabelo branco a mais nas senhoras e a menos nos homens.

Era Terça-feira, dia de sapateiro, teria, porventura, pensado Marcelo Rebelo de Sousa, para com seus botões e no meio de um sorrir a meio-sorrir por cima, na parede, no plano superior de António Jorge Franco, o presidente de todos os Mealhadenses.

E chegou o “bom dia a todos” ditado pelo mestre-de-cerimónias como que a dizer que estava aberto o Período de Antes da Ordem do Dia e com o desejo de que a sessão que se abria fosse profícua, proveitosa, para todos, ou pelo menos sem contratempos de maior.

As expectativas estavam altas. Três dias antes a Concelhia local do PS, através da sua página no Facebook, dera à estampa a insatisfação do gerente do conhecido e popular restaurante Rei dos Leitões, acerca desta empresa não financiar o festival Mea Jazz, que se vai realizar nos primeiros dias de Setembro no Luso. Afirmava o expositor que, nos últimos cinco anos, fora o principal mecenas.

A maioria de apostadores jogavam no que parecia certo: Marqueiro, colocando-se ao lado do operador, iria ter ali um plano completo, como se fosse um ringue, para mostrar tudo o que valia no campo da argumentação.


II


Mas as coisas não estavam a correr bem para quem tinha apostado tudo num bom combate. Quando se esperava um campeão de pesos-pesados, um “touro enraivecido”, um Jake LaMotta no popular filme de Scorcese, de 1980, a mostrar os bíceps musculados, eis que surge um jóquei, um montador de cavalos, delicado e sereno, incarnado no corpo de Marqueiro e a repetir a pergunta já tantas vezes formulada: “a obra do mercado já está acabada?

E com um Franco, meio-melaço, a responder o que já fizera antes: “não, não está acabada!

E com Marqueiro a devolver: “eu tenho aqui um e-mail do construtor a dizer que sim.

E novamente Franco a passar ao opositor: “o auto de recepção ainda não foi feito pela Câmara.”


III


E veio o período reservado ao público.

Interveio um reconhecido pampilhosense de nome Mário Rui Cunha. O munícipe lembrou os 140 anos da Linha da Beira Alta. Lembrou também o executivo pela saída da BA 61, a histórica locomotiva a vapor, para o Museu do Entroncamento. E defendeu: “a Pampilhosa não pode deixar sair a BA da Pampilhosa. (…) O restauro da BA andará por volta de 50… 60 mil euros. Não é nada do outro mundo.”

Respondeu Franco: “ainda bem que fala da BA. Iremos desenvolver esforços junto do IP, Infraestruturas de Portugal, para que ela não saia da Pampilhosa.


IV


E entra-se na Ordem do Dia.

Mas entrou-se mal, talvez com o pé esquerdo, já que a E-Redes, empresa responsável pela manutenção da Rede Eléctrica Nacional, decidiu imiscuir-se no andamento dos trabalhos e, volta e meia, por motivos de força-maior, não havia electricidade.

Como o primeiro ponto é sempre a aprovação da acta anterior, Marqueiro pediu para ser alterado o teor referente ao anteriormente por si afirmado sobre o vencimento do presidente da Fundação Mata do Bussaco.


Embora a Lei 75/2013 não seja clara, pelos superiores interesses dos princípios da transparência e da segurança jurídica, é de admitir que o que foi dito, de facto, numa sessão não pode nem deve ser, de modo algum, alterado na seguinte. Salvo melhor entendimento, a passagem para a reunião seguinte da acta pressupõe a rectificação de gralhas, de conteúdo diferente do que foi dito pelo orador e jamais modificações de discurso. É a segunda vez que, na bancada do PS, assisto à colagem posterior de novo texto. Por que uma coisa são minudências de “lana caprina” cuja substituição não se preveja dolosa, outra coisa é quando a correcção visa subtilmente “recolher a mão que atirou a pedra” e que, pela afirmação positivada, possa lesar interesses de terceiros. Os vereadores, naturalmente, podem enganar-se como outro cidadão qualquer, estão é obrigados a pedir desculpa como qualquer outro.


Ponto 2, “Comissão da Capela da Silvã – Pedido de apoio para aquisição de andores”, sem explicação, foi laconicamente retirado por Franco. Fiquei com a sensação que a crónica que escrevi há dias ajudou a repensar o acto. Embora já saiba antecipadamente que vou ser excomungado, e ainda que muita gente não goste da reflexão sobre a laicidade do Estado, fico contente. Por muito que custe, quem quer praticar uma religião ou goste e colabore pelo lado profano – e seja ela qual for – tem de participar monetariamente nos restauros do templo e artefactos. As autarquias, câmaras e juntas de freguesias, para não serem considerados populistas, por regra fixa, não devem ir além dos apoios em espécie.


No ponto 3, sobre a construção do novo edifício camarário, que está em marcha, foi dito por Franco que, devido à inflação crescente e preços galopantes dos materiais, vai custar aos cofres camarários 20 mil euros por ano a mais.


No Ponto 4, foi dito pelo prefeito que vai ser intentada pela Câmara uma providência cautelar por incumprimento contra o vencedor do concurso do Bar da Alameda.


No ponto 18, no tocante à votação do Pedido de Informação Prévia (PIP) sobre o Aldi, e que foi aprovado por maioria, em que escrevi uma crónica em separado, diria Filomena Pinheiro, vice-presidente, a terminar a sessão:


em boa hora aparecem pessoas para dar vida à Mealhada. Devemos agilizar os procedimentos para que os promotores não fujam. A Mealhada tem capacidade para ser mais do que é.”

 

2 comentários:

Mário Rui Cunha disse...

Meu caro Luís Quintans, em primeiro lugar quero lhe dizer que acompanho, aprecio e comungo de muitas das suas opiniões sobre o “estado da arte” no nosso concelho. A minha intervenção não podia deixar de acontecer, pois era a primeira reunião da câmara após a data de 03-08-2022, data em que se comemoram 140 anos da inauguração da linha da Beira Alta, e que na minha modesta opinião, deveria merecer da parte do município e das freguesias atravessadas por este corredor internacional (Pampilhosa, Vacariça e Luso), um conjunto de iniciativas, colocando em destaque a importância da linha da Beira Alta no desenvolvimento do concelho e da região. As questões apontadas na minha intervenção, poderiam de certo modo, a serem resolvidas, ser a forma minimalista de assinalar a efeméride, com acções que venham a:
- Garantir a permanência da BA 61 na Pampilhosa depois de restaurada e negociar rapidamente com a IP, o local da sua exposição no espaço ferroviário da estação da Pampilhosa.
- Impedir qualquer intervenção da IP na estação da Pampilhosa, que ponha em causa a actual arquitectura do edifício, e reposição dos azulejos que ornamentavam as paredes, retirados no final da década de ‘80 do século passado.
- Providenciar para que sejam colocados rapidamente pela IP, os abrigos que estavam previstos para os passageiros, nos locais de acesso ao transporte alternativo durante as obras na linha da BA.
Cordiais saudações
Mário Rui Cunha

LUIS FERNANDES disse...

Muito obrigado, Senhor Mário Rui Cunha.
Disponha sempre.
Luis Quintans