quinta-feira, 11 de agosto de 2022

COIMBRA: FALECEU O PINTOR SANTANA ALHO





De doença súbita, no passado Sábado, 6 do corrente, faleceu no Brasil Manuel Santana Alho, natural de Portela, Tentúgal, de 74 anos de idade.

Manuel Santana Alho viveu muitas e muitas décadas na Baixa. Na Rua Direita, por entre tintas, pincéis e relógios mecânicos, viu crescer as suas duas filhas. Por entre um intervalo de um verso, em reverso, de uma ilusão de vida, numa estrofe bem conseguida, “Manel”, como era carinhosamente conhecido no Centro Histórico, foi vendo passar a sombra dos dias. Santana, para além de ser um bom relojoeiro com aprendizagem na Casa Pia, era um homem cheio de sensibilidade. Ele tratava as artes plásticas por tu; ele lavrava as palavras tão bem quanto o agricultor apalpa a terra com as duas mãos; com o mesmo carinho semeava as frases e, em verso, fez estrofes de amor e ternura que mais ninguém compôs. Alho tem vários livros de poesia publicados.

Santana Alho foi em vida um grande artista. As suas obras, escritas e pinceladas, vão ficar perpetuadas para todo o sempre. Nas telas expressava toda a impressionabilidade da sua alma em turbilhão, tanto quanto um criador é um marinheiro de águas revoltas num oceano de acasos.

Quem o puxou para as lides plásticas foi Alberto Hébil, um outro grande pintor de Portugal e do Mundo, já falecido há cerca de uma vintena de anos – mais um artista das artes plásticas que, por não não ser do regime, a autarquia nunca reconheceu como excepcional.

Manuel Santana Alho, por caminhos e atalhos do destino, tomou tardiamente o avião em direcção ao Brasil, apenas em 2010. Mais que certo, se o tivesse feito antes e vivesse num outro qualquer país, pelo talento imanente que lhe era peculiar, seria um grande senhor das artes e reconhecido internacionalmente. Como era um homem simples, que sempre viveu até há uma dúzia de anos em Coimbra, uma cidade madrasta para os seus filhos, nunca passou de mais um grande artista entre os muitos bons que por cá passaram e deixaram a sua obra imortalizada em painéis de azulejos públicos ou nas muitas telas e aguarelas. A cidade, seguindo as pisadas do país, só dá valor ao que vem de fora, ou então passado um século da existência do criador. Só se pode entender isto num certo sentimento de "revanche", um distúrbio emocional, talvez expressando nos outros a mesma mediocridade que cada um de nós sente e transporta. É como se cada um pensasse “se eu não consigo ir além, porque razão haverás tu de conseguir?". Então a melhor forma de obstaculizar o sucesso é dizer mal dele ou ignorá-lo. Coimbra, neste tratamento, é uma cidade criativa neste costume e de negação cultural.

Em 2010, quando partiu para terras de Vera Cruz, envolvido num abraço de afeição, enfatizou: “Vou embora na altura certa, antes que seja tarde. Tenho pena, acredita. Aqui, nesta cidade que nos marca a ferros, fica a minha alma cortada em pedaços de saudade”, diz-me o Alho numa expressão facial dividida entre a emoção contida e a constatação de facto.


Em nome da Baixa da cidade, em nome de Coimbra que o deveria ter reconhecido em vida, à família enlutada os nossos sentidos pêsames.

Descansa em paz, meu amigo.

Até sempre.


A pensar nas muitas dezenas de amigos do nosso pintor, no próximo Sábado, 3 de Agosto, pelas 17h00, a pedido das suas filhas, vai realizar-se uma missa de Sétimo Dia, de homenagem, na Igreja de Santa Cruz, em Coimbra.




UM POUCO DA BIOGRAFIA DO MANUEL SANTANA ALHO


Manuel Santana Alho nasceu a 10 de Outubro de 1947, no lugar da Portela, freguesia de Tentúgal, concelho de Montemor-o-Velho.
Desde criança desenha, escreve poesia e dedica todo o tempo que pode à leitura.
Nos últimos anos escreveu histórias de ficção, que aguardam a oportunidade de serem editadas.
Também o teatro o seduziu e, junto com alguns amigos, fundou o GCAP (Grupo Cénico Amador da Portela), do qual foi encenador.
A procura de mais saber levou a ler bons livros, desde o romance à poesia, da ficção aos culturais e técnicos. Foi nestes que descobriu as técnicas de pintura, que vieram despertar a sua vocação latente.
Resid
iu em Coimbra desde 1971 até 2010, onde e quando se começou a interessar pelo mundo das Artes. Após várias experiências bem sucedidas, abraçou a pintura como parte importante da sua vida.
Foi associado, foi Director do MAC (Movimento Artístico de Coimbra).
Exp
ôs regularmente desde 1991, contando com mais de 150 exposições, entre elas, 36 individuais.
Está representado em várias colecções particulares no país e no estrangeiro (França, Brasil, entre outros).



 

1 comentário:

Anónimo disse...

Hj que fiquei a saber de sua morte obrigada por sua amizade