segunda-feira, 1 de agosto de 2022

BARRÔ: PESSOAS CÉLEBRES QUE PISARAM ESTA TERRA (1)

 




ALEXANDRE ASSIS LEÃO



Fazendo jus à estrofe de Luiz de Camões ”E aqueles, que por obras valerosas se vão da lei da morte libertando”, a placa de toponímia, nome de um sítio, como sentinela alerta a receber os visitantes de braços abertos, mantém-se à entrada da povoação de Barrô: Largo Dr. Assis Leão. Mas se os topónimos indicativos se prolongam por tempo indeterminado, até quando o Homem quiser, para diferenciar um lugar habitado, o mesmo não se pode dizer da história que deu origem à celebridade do contemplado.

Neste caso em apreço, se perguntarmos quem foi Assis de Leão, estou certo, poucos ousarão saber responder na aldeia. Logo, por inerência, deixando uma chamada de atenção a quem detém o poder de decisão, seria de razoável bom-senso que no futuro, num apenso à placa, se colocasse uma síntese da passagem terrena do contemplado. Continuar a fazer o que se faz é amputar a narrativa do tempo e empobrecer a vivência de um lugar.


Mas, afinal, quem foi o ilustre personagem que, com a sua passagem efémera, enriqueceu o passado de Barrô?


Alexandre Assis de Leão, 1819 – 13-02-1910, formado em Direito pela Universidade de Coimbra, foi vereador e presidente da Câmara Municipal de Mealhada, Administrador do Concelho, Provedor da Santa Casa da Misericórdia da Mealhada, e um dos fundadores da Sociedade de Banhos Luso. Foi distinguido com a Comenda da Ordem de Nossa Senhora da Conceição” -in Mealhada, "Notáveis da minha terra", Arquivo Distrital de Aveiro.


Em 25 de Agosto de 1852, por iniciativa do Dr. António Augusto da Costa Simões, Dr. Francisco António Diniz e Dr. Alexandre Assis Leão, é fundada a “Sociedade para o Melhoramento dos Banhos de Luso”. A representar a Sociedade encontramos: “(…) – presidente, o sr. António Luiz de Sousa Henriques Secco – thesoureiro, o sr. Francisco José Gonçalves de Lemos – secretario, António Augusto da Costa Simões – directores, os snr. Francisco Antonio Diniz, Alexandre de Assis Leão, Gonçalo Tello e Basilio Botelho de Lacerda Lobo” – in Termas de Luso- História.


Uma questão se levanta: como é que uma figura grada e tão notável veio habitar no pequeno lugarejo de Barrô, que, há época e ao longo de todo o Século XIX o seu casario, na maioria pobre em conforto, presumivelmente, não iria muito além de uma vintena?

Por outro lado, embora sem dados precisos, tudo indica que Assis Leão não teria aqui ascendentes – nem deixou descendentes. E este facto ainda vem adensar mais o mistério.

Mas a razão pode estar na necessidade de curar uma doença de pele que ele e toda a família sofria, a psoríase, à época sem tratamento medicinal.

Quem nos oferece um pouco da resposta é as Termas de Luso – História: “O cirurgião Agostinho Dias da Graça, “(…) membro correspondente da Sociedade das Sciencias Medicas de Lisboa, académico honrário da Real Academia das Sciencias de Cadiz, do Logar e freguesia de Paradella…”, admirador incontestável das potencialidades terapêuticas da Água dos Banhos de Luso, propõe à Câmara Municipal da Mealhada, a construção de um edifício que ofereça melhores condições de higiene e funcionalidade dos Banhos de Luso: “(…) há mais de vinte anos, que eu tenho mandado para os banhos de Luso, no districto deste julgado, doentes com molestias de pelle, que tinham resistido a todos os remedios mais energicos, que a arte tem recomendado; e foram dos ditos banhos perfeitamente curados, sem que até agora tenham recaído”.


E quem nos deu certeza foi José Maria Cerveira, falecido em 2014, que tive a honra de conhecer e contar a sua história de vida. Disse o “Senhor José Maria”, como era respeitosamente tratado em Barrô:
“Nasci na Carreira, Lograssol, porque a minha mãe era da Carreira. O meu pai é que era de Barrô. Era família de um célebre advogado, doutor Alexandre Assis Leão, que foi um dos fundadores da Sociedade Águas de Luso. Teria sido por volta de 1900, creio. Em Barrô não ficaram descendentes porque a família tinha uma doença de pele que era transmissível –talvez a psoríase, não sei, a minha mãe é que contava.”


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