domingo, 7 de agosto de 2022

MEALHADA: O REI VAI NU?

 





Fez há pouco dois anos e meio que abracei o concelho da Mealhada para viver. Por ser nascido e criado até aos 10 anos nas cercanias da Serra do Bussaco, entendi que esta terra seria o remanso perfeito para acabar os meus dias. Como é lógico, estando fora mais de meio-século, agora, para apreender tudo o que se passa à minha volta e recuperar o que não sei, sou obrigado a ler muito para apanhar o que perdi. Mas como o exercício de leitura e escrita é um enorme e indescritível prazer, faço estes “trabalhos” sem acusar qualquer esforço. Pode parecer anedótico, mas, como foi o que sempre desejei para a minha velhice, posso passar um dia inteiro a ler e a escrever sem me cansar.

Claro que este atraso conjuntural, por não estar na posse de todos os dados, leva-me muitas vezes a elaborar erros na conclusão. Mas, em boa verdade, esses lapsos , por um lado, acabam por tornar o meu desempenho mais inocente e até, digo eu, coerente e gracioso, por outro, para alguns, sou tomado como tendencioso e à procura de um lugar ao Sol no universo local. E tanto faz dizer que, apesar da escrita de intervenção ser tudo menos a enseada de um calmo lago, só quero mesmo paz e descanso no resto minha vida como não. É o que eles pensam e mais nada! Pronto, se dá jeito acreditar, acreditem, mas não apostem na vossa intuição.

E comecei a escrever esta crónica porque desde há mais de um ano que, impreterivelmente, acompanho de perto todas as Reuniões da Câmara Municipal. Isto para dizer que, por várias vezes, assisti no plenário, pela boca de vários vereadores e incluindo o presidente António Jorge Franco, a vários elogios ao restaurante “Rei dos Leitões”.

Com o passar do tempo, fui interiorizando que a famosa e reputada casa era o “lar doce lar” do regime vigente. Cá com os meus botões, em solilóquio, pensei e fui dando como adquirido que, fizesse o que fizesse a gerência desta catedral pantagruélica, pelo estatuto conquistado, estaria sempre acima do comum- entenda-se, outros restaurantes do género. Afinal, porventura, seria a justa recompensa por, como calo encravado, ser Rei num sistema Republicano implantado há mais de um século.


II


Foi com espanto que, há poucas horas, quando, no meu passeio higiénico diário a pé, deambulava pelos sítios partidários, espreitei a página do PS/Mealhada no Facebook e dei de caras com um comunicado do citado restaurante “Rei dos Leitões”. Era assim uma espécie de “copy e paste”, copiar e colar, sem comentários do anfitrião.

Foi tal o sobressalto que até os “tintins” me iam caindo ao chão. Ainda os apanhei no meio entre as partes baixas e o chão.

Mas, então, o que dizia o comunicado? Tão só como isto:


em 2017, fomos mecenas da 1ª edição do MeaJazz e assim nos mantivemos até à última edição do festival de jazz da Mealhada. Este ano, soubemos pelos jornais, vai haver uma 5ª edição, pela 1ª vez sem mecenato cultural e pela 1ª vez num registo mais “caseiro”. (…) Apesar de ser um evento agora mais “modesto” e já sem o apoio do Rei, que desta vez não nos foi solicitado, queremos desejar as maiores felicidades e o maior êxito ao MeaJazz, um projeto cultural que nasceu e cresceu graças ao apoio financeiro e logístico do Rei…”


NO MEIO ESTÁ VERDADE. MAS QUAL MEIO? QUAL VERDADE?


Pedindo o anonimato, alguém que já anda por cá há muito e sabe muito bem as linhas com que se cose desafia o monarca do “Rei dos Leitões” a apresentar provas documentais do tal mecenato – que não existem, afirma. Alegadamente, consta-se que o que existe é uma doação anual de 5.000€ que não cumpre a lei, porque a Câmara Municipal não pode receber doações sem propósito definido. E mesmo que receba, a Lei do Mecenato obriga a ir a Reunião de Câmara Municipal, para ficar claro o seu propósito. “A verdade é que o acto de mecenato não aparece em nenhuma acta. Isto é tudo público e confirmável”, enfatizou a minha fonte anónima.

Outra fonte, que também pediu o anonimato, em defesa da tese da gerência do conhecido restaurante, disse o seguinte:

O Rei criou o MeaJazz e sustentou, se não a totalidade, muito perto do total dos custos do festival durante as primeiras edições. Daí para a frente foi o único patrocinador. Agora foi trocado por mais um ajuste directo à pessoa que fez a campanha do MMM. (…) O festival, a exposição das capelas no Cine-teatro, o programa de animação do Luso. (…) A empresa, julgo que nem é a mesma, mas a pessoa é.

(…) O Rei teve uma relação privilegiada com o anterior executivo. E digo privilegiada porque investiu muito, ajudou o Município a poupar umas massas com o que foi oferecendo e fortaleceu a sua imagem. Alguns restaurantes concorrentes, dois ou três, que nunca responderam aos pedidos de apoio da Câmara de forma gratuita como o Rei e porque acharam mais fácil atribuir o sucesso do Rei à Câmara do que ao trabalho, minaram a imagem do Rei junto do MMM. Só a título de exemplo: o palco do Festame enquanto teve o nome Rei dos Leitões, foi pago pelo Rei. Além do palco, os artistas iam comer de borla ao Rei. (…) Faço-o por elementar justiça, porque há dez anos (talvez menos) havia restaurantes com salários em atraso na Mealhada. O Rei cresceu e tem levado muitos atrás de si. Só não vê quem não quer.”


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