terça-feira, 30 de agosto de 2022

EDITORIAL: UM BATER DE PORTA TEMIDO

 

(imagem da Visão)


Hoje, com a anunciada demissão de Marta Temido, Ministra da Saúde, o país mediático pareceu ter sido varrido por um tremendo tremor de terra.

Custa a entender como alguma informação escrita e falada defendem que esta resignação era previsível, outra que peca por tardia.

Se assim fosse, dá para ver, não se constatava este choque colectivo que pareceu verificar-se na imprensa e a projectar-se no social.

Depois de quase quatro anos como responsável pela pasta da saúde nos Governos de António Costa – tomou posse em 18 de Outubro de 2018 - e de ter ultrapassado uma terrível pandemia como foi o Covid 19, Marta Temido, com uma simpatia conquistada entre um rosto duro de pulso firme e um sorriso de boneca “Barbie”, aparentemente segura de pedra e cal, parecia a dama de ferro.

Não deixa de ser curioso como é que depois de ultrapassar uma tempestade vem a cair numa queda provocada por uma “topada”, um pontapé numa pedra.

As razões desta saída brusca, como é natural, cada um terá uma explicação. E tanto mais entendível quanto se for próximo do Partido Socialista. Assim como o contrário, regendo-se pela hostilidade, se o analista for de um outro partido de oposição, à esquerda ou à direita do executivo governamental.

Se uns, os prosélitos, exageram na deificação, outros, os do contra por sistema, pecam por apontarem defeitos a torto e a direito.

Pegando objectivamente no que se tem passado nos últimos meses, sobretudo em alguns hospitais que praticam obstetrícia, a verdade é que tem havido mortes de bebés e das mães parturientes - e não é coisa de somenos.

Alegando falta de médicos, falta de enfermeiros e falta de meios instrumentais, estes falhanços na saúde acabam por envolver todo o Serviço Nacional de Saúde (SNS).

E há razões para tomar a parte pelo todo? A meu ver, não há. Não se pode tomar tudo por igual. O SNS, em metáfora, não é um continente uno e indivisível, mas sim um arquipélago com várias ilhas e ilhotas. Se é verdade que, pelo que se lê, no Sul, o Baixo-Alentejo, no interior Centro e Norte do país, a oferta de serviços médicos está longe do bom, também é verdade que na grande cidade capital de distrito a prestação de serviços de saúde, se não é, estará muito próxima do óptimo.

Estou convencido que a maioria dos cidadãos que critica e manda abaixo, como em quase tudo o que mexe, em muitos dos casos, por serem novos e de boa saúde, pouco recorrem a médicos para poderem aferir do bom e do mau com honestidade intelectual.

Falando no meu caso pessoal, se até aqui nunca tinha estado de baixa e muito menos a tomar medicamentos diários, desde que veio a pandemia, e também certamente por me tornar idoso, sexagenário, abruptamente tornei-me cliente do SNS – em Coimbra. Com conhecimento de causa, posso afirmar que quer a USF, Unidade de Saúde Familiar, quer os hospitais que passei a frequentar, são o melhor que se pode ter. Desde assistentes operacionais, enfermeiros, médicos e demais serviços como instalações são o melhor que posso contar.

É verdade que um ou outro exame pode durar vários meses para ser realizado, mas, como é óbvio, tenho de concordar e ser paciente, afinal saímos há pouco de um estado endémico e que desgastou meios humanos e instrumentais.

Nas vésperas das consultas recebo uma mensagem a lembrar-me que no dia seguinte devo comparecer na consulta de tal serviço.

Serei só eu que sou bafejado com esta sorte? Claro que não. Temos muita dificuldade em elogiar. E para pior, o dizer mal, como maleita pegajosa, propaga-se rapidamente e, num ápice, estamos a embrulhar tudo no mesmo saco.

O pior disto tudo é que, para além de estarmos a concorrer para a desvirtuação e o aniquilamento de um serviço público, somente pela poliquitice barata, estamos a ajudar a enterrar pessoas competentes, responsáveis e capazes.

É isto que queremos? Eu não!

Como tal, também subscrevo: Obrigada, Marta Temido.


Sem comentários: