segunda-feira, 8 de agosto de 2022

CARTA DE DESPEDIDA DE UM PAI QUE FOI MUITO AMADO

 





Meus queridos amigos e adorados filhos:


Conforme é já do vosso conhecimento, deixei hoje, 8 de Agosto de 2022, a fraterna convivência que, durante mais de 95 anos, gozei entre vós, convosco, na maior alegria e contentamento que um homem simples e humilde pode ambicionar. Por outras palavras, parto sereno neste dia, quente e soalheiro, para não mais voltar ao reino dos vivos.

Foi longa a minha história, eu sei, mas, como homem, como cidadão, como pai, entre defeitos e virtudes, cumpri integralmente a minha missão.

Vivi até que Deus quis, sim, mas, através da minha vontade, praticamente, fui até onde queria ir. Vejam bem que, agora, em fim de vida, apesar dos médicos desaconselharem a intervenção cirúrgica à minha maleita, bati o pé para ser operado. E fui. Tinha muita vontade de viver e fazer o que não consegui. Infelizmente as coisas não correram da melhor maneira, mas a culpa, a existir, não é de ninguém. Vou tranquilo. Facilmente consigo perceber que a minha hora tinha chegado, e ponto final e parágrafo.

Poucos, como eu, terão a sorte de deixar isto escrito assim: fui um pai babado pelo carinho de quem levo no coração. Se calhar vão achar desadequado, mas talvez dê para rir, levo comigo uma uma saudade: gostava de ter atravessado a Ponte 25 de Abril e não o fiz – no princípio da década de 1960, como operário, andei por lá a partir pedra à força de braços. Mas paciência, não é grave.

Bem sei que todos estão tristes e, sobretudo os meus filhos, estão em grande sofrimento. Vejo ali o meu “Quim”, o meu filho-varão, como se um homem nunca chorasse, a fazer um enorme esforço para conter o pranto e tentar evitar que este se solte pelo seu rosto acinzentado envolvido pela dor. Ali no canto, juntas, estão a minhas filhas, a “Lila”, a “Anita”, a “Lena” e a Lurdes, acompanhada pelo marido, o “”. Para ti, meu amigo inesquecível, um terno abraço pelo que, juntamente com a tua mulher, fizeste por mim nos últimos tempos. Sem esquecer também os restantes genros e nora que nunca me abandonaram.

Uma palavra de amor para os meus netos e bisnetos. Um grande beijinho de enternecimento. Levo-vos a todos no coração.

Sem grande esforço, consigo aperceber-me da sombra de desânimo que vos envolve. Mas, como eleito neste dia, se posso deixar um último conselho: não lamentem a minha última viagem. Vou completamente despreocupado. Como até agora, e para o futuro, sejam sempre muito amigos uns dos outros. Esqueçam as coisinhas, tudo o que possa provocar e causar irritação. Perdoai-vos uns aos outros.

Vós sois o meu orgulho, meus amados filhos.


José Domingos Torres

Vale da Torre

Lardosa – Castelo Branco


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