segunda-feira, 6 de junho de 2011

GIRA A RODA E NOVA VIAGEM

(IMAGEM DA WEB)



 “Rei deposto, rei posto”, diz o povo naqueles aforismos que, como Bíblia Sagrada, tentam responder a tudo o que há-de vir.
Hoje, nas voltas que o tempo dá, começou uma nova era. Acabou o “Socratismo” e nasceu o “Coelhismo”. O primeiro já a cair de velho, porque seis anos de política em Portugal são uma eternidade, escancarou-se e desfez-se em mil fragmentos de poeira, como a mostrar que o princípio de Lavoisier, apesar de ter sido escrito há mais de dois séculos, continua certinho como um relógio suíço. Há verdades incontestáveis, axiomas, que ninguém ousa colocar em dúvida. O segundo, o “Coelhismo”, a nova vaga, a onda de esperança que varre o povo de cá do burgo, seguindo as pisadas do seu antecessor, durante dois meses irá ter direito a passadeira vermelha. Até aquele trejeito que faz ao rosto quando fala, neste prazo, terá graça. Após este tempo de iluminura que se concedem a todos os santos após a canonização, como tambor de máquina de lavar a rodar ao contrário, tudo será inimigo dele. A camisa, a gravata, os sapatos, a mulher, o risco ao meio que de repente lhe fica muito mal. O seu sorriso sarcástico que faz lembrar o outro, o Sócrates, que agora só quer ser feliz.
A imprensa, seguindo as pisadas dos antecessores, tentará entrar na sua alma por todos os meios. Tentará descobrir com quantos anos perdeu a virgindade, e se a Etelvina, aquela rapariga boazona que morava  no 31 da rua do volta atrás ainda está casada com o mesmo homem. Tentarão arranjar-lhe um caso de infidelidade, ou talvez uma fuga aos impostos numa casa que comprou lá na aldeia da Beira.
Após os dois mezinhos de indulgência recomeçarão as greves a toda a força. Já ninguém se lembrará das bandeiras hasteadas esta noite, gritando e tocando buzinas nas ruas da cidade, e das muitas lágrimas choradas em contentamento. Lá recomeçarão os ovos a serem arremessados e um exército de guarda-costas a proteger o agora “bem-amado”.

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