terça-feira, 24 de maio de 2011

UM LIBERAL À RASCA. PORQUE NOS MENTEM?




 Como ressalva, começo por dizer que sou liberal –“doutrina” baseada na liberdade individual em todas as áreas, desde o económico, político, religioso até ao intelectual. Onde o Estado, para os cidadãos, tem uma função reguladora, de árbitro justo e equitativo, o mesmo que um bom chefe de família com uma dúzia de filhos. Este moderador de conflitos terá em conta as diferenças de forças entre o descendente mais velho e o mais novo. Respeitará a ideologia do primogénito, que é conservador exacerbado, agarrado a tradições e seguidor da religião, e a do mais novo da prole, em antítese com o primeiro, que é progressista, sonhador, racionalista e ateu.
Como se sabe o Liberalismo começou muito antes da Revolução Francesa, em 1789, com o Iluminismo no século XVII. Ainda que se confunda Iluminismo com Liberalismo, pelo seu atomismo de o homem ser dono de si próprio, da sua liberdade de escolha, livre de jugos, assente na razão, se estarão sempre associados, a verdade é que o segundo será uma subsequência do primeiro. Digamos que o Iluminismo será a acendalha cultural para a revolução e o Liberalismo será o movimento que viria a redundar na democracia hodierna.
Como se sabe, em Portugal teria o seu início em 1820, fruto da instabilidade política causada pelas invasões francesas, mas também pelos ventos de liberdade saídos da revolução de 1789.
E estou com esta resenha histórica para dizer que, embora hoje, na actualidade e pela crise que estamos a viver, o liberalismo –ou neoliberalismo- seja apedrejado todos os dias e inculpado pela queda do sistema económico e financeiro mundial, não poderemos esquecer que Karl Marx  (1818-1883) -e Engels-, fundador da teoria comunista, veio aqui beber a sua doutrina. O que quero dizer é que, sem os movimentos liberais em toda a Europa, durante os séculos XVIII e XIX, provavelmente o grande mestre não teria evoluído para uma nova ideologia sem classes.
Quero dizer também que se o MARXISMO, enquanto movimento e pensamento filosófico, nasceu para combater os excessos do LIBERALISMO, também é certo que o NEOLIBERALISMO, nascido em 1938, com Lippmann e Rostow, seguindo as influências económicas neoclássicas do final do século XIX, surgiu para fazer frente ao MARXISMO-LENINISMO –sistema económico implantado na Rússia em 1917 por Lenine, depois de adoptar as teorias de Marx e Engels- que, na década de 1930, estava em franca expansão na Europa.
Cheguei então até aqui para dizer o quê? Que como liberal me sinto completamente perdido nesta selva de informação. Primeiro começou pelo Estado –falando de Portugal. A partir do início de 1990, progressivamente, foi fazendo o mesmo que o Estado Novo, ou seja, foi dando de barato e entregando sectores estratégicos da nossa economia a grandes grupos económicos. Como álibi, para melhor justificação perante os cidadãos, o argumento empregue era de que a isso estava obrigado pelas directivas comunitárias –que proibiam monopólios de concentração-, e, assim, paulatinamente, foi desnacionalizando grandes empresas até aí em poder estatal. Mais uma vez, para nos convencerem de que se estaria a ir no caminho certo, era a fundamentação de que, entregando sectores essenciais aos privados, desencadeava a oferta, aumentava a concorrência e os preços desciam.
Por parte do Estado, para defender os consumidores, para acompanhar os possíveis desvios foi criada em 2003 a Autoridade da Concorrência.
A partir daí, fomos assistindo a duas verdades nunca antes confessadas: os preços nunca mais pararam de subir –só para lembrar, as telecomunicações, a electricidade e os combustíveis- e, por sua vez, a Autoridade da Concorrência nunca evitou abusos por parte de grandes grupos económicos. Por várias razões, estruturalmente, as finanças públicas e dos particulares foram ficando cada vez mais débeis e fomos todos constatando as assimetrias brutais entre novos ricos e muitos mais pobres.
Além Europa, pelo meio, em 2008, tivemos a falência do maior banco de investimentos Lehman Brothers -consequência da crise do “subprime”, que já vinha de 2006-, contagiou todo o sistema financeiro mundial, a partir dos Estados Unidos, e chegou ao nosso país.
Aparecem em cena as agências de notação financeira e, com os juros a aumentar a pagar a quem nos emprestava dinheiro, a dívida pública disparou. E chegámos à beira da banca rota. Entre o “vem que não vem e vem” chega o FMI, em forma de triunvirato… para nos “ajudar”, segundo a versão corrente dos políticos e acompanhados pelos economistas optimistas.
Mais uma vez empregando o termo “negociar”, o CDS/PP, o PSD e o PS, começaram as conversações com o Fundo Monetário Internacional, o Banco Central Europeu e União Europeia.
Pelos vistos negociaram as condições… menos a taxa de juro a aplicar ao empréstimo, que só seria conhecida mais tarde. Aqui já se pode interrogar que espécie de negociação é esta quando a parte mais fraca, o “pedinte”, fica completamente nas mãos do emprestador? Mais ainda, desde quando qualquer um de nós vai pedir um empréstimo e aceita subscrever o contrato de crédito, assinando de cruz, sem saber qual é a taxa de juro?
E agora, novamente perdidos na informação, assistimos a uma luta de galos entre os economistas optimistas, conotados com a direita e o poder político presente e futuro, e os economistas pessimistas ligados aos sem poder, à esquerda. Os primeiros bradam aos sete ventos que “não tínhamos outra hipótese, senão aceitar as condições impostas… mas que iremos pagar. “Reestruturar” (renegociar) as condições de pagamento nem pensar”, invocam.
Os segundos, os economistas sem poder, afirmam preto no branco que nos vai acontecer pior que à Grécia, que, com esta baixa produtividade e inflação galopante, jamais iremos conseguir cumprir e só nos resta a renegociação da taxa de juro. 
Também o Nobel de economia, de 2008, Paul Krugman, afirmou ontem que "está claro que Grécia, Irlanda e Portugal não podem e não poderão pagar as suas dívidas."
Como é que vamos descalçar esta bota? Acreditamos em quem?

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