quarta-feira, 18 de maio de 2011

A MAESTRINA TURÍSTICA





 Devagarinho, vindos da praça do pelourinho e percorrendo a rua estreita, aproximam-se do largo. Vêm em grupo. Serão cerca de duas dúzias. Pela pronúncia parecem italianos. À sua frente a guia, como maestrina pronta a reclamar concentração à orquestra, levanta a batuta em forma de guarda-chuva.
Em cerca de cinco minutos, como pássaro esvoaçante e em voo rasante, traça um pouco da existência da pequena praceta. Os turistas, como instrumentistas, focam a mulher e ouvem atentamente as suas palavras.
Em fila, como rebanho comandado pela pastora, seguem em frente e cortam à direita, para a Rua do Corvo, em direcção à Praça 8 de Maio. Em frente à vetusta igreja de Santa Cruz, mais uma vez em retrato sumário, a comandante deste pelotão, percorre, em poucos minutos, novecentos anos de história de Portugal e conta que ali, naquele outrora mosteiro, em túmulo sepultado, está o pai da Nação e filho que bateu na mãe. E, como súbditos crentes na história de um povo agora endividado, são engolidos pela catedral Panteão Nacional.
É sempre assim. Como corrente de água que, em propulsão, desce da montanha em direcção ao mar sem se debruçar muito nas margens que acompanham o percurso, segue em direcção ao horizonte idealizado.
Já há cinco meses, mais propriamente em Janeiro último, aqui, escrevi que era preciso repensar o fluxo de turistas na cidade. Há qualquer coisa que não bate certo. É urgente aproveitar esta riqueza que passa à nossa porta e, perante os nossos olhos, se esvai por entre os dedos. O que parece é que apenas o património público estará a ser aproveitado para estes turistas que nos visitam. Então e o privado? Porque não se levam estes grupos ao interior dos estabelecimentos, sobretudo aos mais antigos, e lhes contam os seus anos de vida? A opção de comprar, ou não, ficará ao arbítrio de cada um dos estrangeiros.
Até vou mais longe: para que os trajectos fossem equitativos, seria obrigação de qualquer guia turístico, antes de iniciar uma visita à cidade, contactar uma entidade designada pela autarquia, e, ao mesmo tempo, receber desta uma recomendação dos estabelecimentos a visitar nessa área escolhida. Os percursos turísticos na cidade andam como o país: ao deus dará. A escolha de estabelecimentos a visitar estão simplesmente na vontade do grupo, da entidade que os acolhe e o guia. Ora, num tempo em que tudo deve ser planeado e planificado ao pormenor, numa actividade económica que é fundamental para uma cidade, este deixa-correr não pode nem deve continuar. Dizer, como é costume, que os grupos já saem abastecidos dos hotéis onde se alojam e que não precisam de comprar nada é uma falácia completa. Quem está à frente deste sector, saberá melhor do que eu, certamente terá noção de que é preciso desencadear a compra por impulso. Está de ver que, para isso, é preciso impulsionar visitas a estabelecimentos comerciais.
Há quatro anos fui em excursão à Madeira. Fiquei completamente surpreendido pelo profissionalismo da guia. Todas as visitas que o grupo fez na ilha obedeciam a um rigoroso critério prévio de escolha. Admito que as visitas que o conjunto fez a vários estabelecimentos hoteleiros pudessem não estar em perfeita igualdade com os demais, mas uma coisa sei, vim da terra de João Jardim com uma impressão que não tinha até aí.
Será que não valerá a pena a Empresa Municipal Turismo de Coimbra debruçar-se sobre esta questão? Afinal um guia turístico –como constatei na Madeira-, se for um excelente vendedor, está a promover os produtos endógenos da terra, a contribuir para as depauperadas finanças locais, e, acima de tudo, a mostrar a quem nos visita que é uma terra que vale a pena acreditar.

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