Hoje, impreterivelmente –que o senhor doutor juiz não alinha em quartos de hora académicos-, ao bater da segunda badalada na torre da igreja de Santa Cruz, deu-se início ao Julgamento Sumário do Dia.
Como sempre, este acto jurisprudencial de “cidadania activa dos cidadãos nos processos decisórios” –como dizia ontem Rui Alarcão na conferência sobre Justiça e Cidadania-, será supervisionado pelo pai da Nação, el-rei Dom Afonso Henriques, que -um dia bateu na mãe mas isso para aqui não conta nada-, aferirá a justeza da sentença e, perante o povo presente nesta Praça 8 de Maio, proclamou a tradicional frase: "está aberta audiência!"
Como habitualmente em anteriores pleitos, pelo meirinho deste tribunal, oficial de justiça senhor Mendes e mais conhecido por “Fura Mundos”, vai ser lida em voz alta a composição dos altos dignitários residentes e que, em nome do povo –neste caso, excepcionalmente, em nome dos comerciantes- irão fazer justiça.
Vamos tomar atenção ao senhor Mendes, que ele fala baixo:
Acusação em nome do interesse público (dos comerciantes): Senhor Procurador Doutor Adelino Paixão (aqui);
Processo 3/2010
RÉU: ACIC, Associação Comercial e Industrial de Coimbra;
Em grande pose teatral, a fazer lembrar os tempos de tribuno de António José de Almeida –não sei se se recordam, se calhar não!-, o Senhor Procurador Doutor Adelino Paixão começou por lavrar um panegírico à antiga União de Grémios de Lojistas de Coimbra –baptizada em 3 de Maio de 1974 de Associação Comercial e Industrial de Coimbra. Evocou os tempos áureos desta colectividade de interesse público no após 25 de Abril, sobretudo o reinado do senhor José da Costa, aquando do nascimento da CIC, Feira Comercial e Industrial, na extinta, desaparecida em combate, Praça Heróis do Ultramar.
Agora, mudando de atitude, isto é, enfiando a máscara de promotor do interesse dos comerciantes, com um esgar de antipatia, o Senhor Procurador começou por dizer que era ignóbil a notícia de hoje do Diário de Coimbra, em que se proclamava que esta quase agremiação bicentenária se prepara para levantar ferro da Avenida Sá da Bandeira em direcção à Relvinha e arrendar o prédio.
Dirigindo-se directamente ao juíz Almerindo Abrolhos, sublinhou mesmo com ênfase: “Meritíssimo, em nome dos comerciantes desta praça da Baixa, isto é um ultraje. Então anda a APBC, anda o Arménio Pratas (agora demissionário) a tentar que o tribunal da Sofia por lá se mantenha, anda o João Silva a querer manter o quartel dos Bombeiros no Centro Histórico, andam mais uns quantos a puxar serviços públicos para a Baixa e o comandante-em-chefe, senhor de todas as vendas ao balcão e viagens empresariais a Angola, dá à sola para os lados dos ciganos do Ingote? Senhor Doutor, isto é uma afronta aos velhos comerciantes que perderam tudo, desde o trespasse até à alma e passando pela vergonha. Por aqui já se vê porque é que a ACIC nunca tomou uma posição musculada perante a autarquia para resolver aquele constrangimento da venda ambulante no “Bota-abaixo”. A direcção desta associação está declaradamente e inalienável ao lado desta etnia como o Bloco de Esquerda. Não querem saber mais nada, senão defendê-los. Está mal, meritíssimo. É preciso harmonizar os interesses. Se a ACIC está nas lonas também todos os comerciantes estão na mesma. Isto não se faz, senhor Doutor!
É um mau exemplo para todos. Que culpa terão os associados se apenas quatro funcionários, alegadamente, levam mensalmente para casa quase 10 mil euros? Que culpa poderá ser acarretada aos comerciantes se, Pina Prata, por negócios mal conduzidos, deixou a ACIC em estado calamitoso e pelas avenidas da amargura? E mais: tendo já esta velha casa um advogado competente, com conhecimentos em todo o país, mas que, por guerrinhas de interesses, nunca foi aproveitado devidamente, porque razão, após a saída de Prata, e contra o que tinha sido prometido à direcção, foi contratado um novo advogado, e a ganhar mais do que o causídico “velho leão”?
Mais ainda: porque razão, depois do reinado de Paulo Canha, presidente eleito a seguir a Pina, mais uma vez, ficou outro funcionário no quadro e a ganhar mais do que qualquer um dos outros quatro?
Salvo melhor opinião, douto justo homem de leis, a ACIC deve ser condenada. Se não se optar pela prevenção imediata, e sabendo nós que os projectos europeus acabam em 2013, tudo indica que o futuro do edifício histórico onde Castro Matoso se dirigiu à assembleia geral –instrumento utilizado à revelia deste órgão nesta decisão de arrendamento- irá ser alienado”.
Em nome do povo, em nome dos comerciantes falidos e com o espírito hipotecado ao diabo, peço a condenação desta insigne casa de mesteres, que deveria dar o exemplo e não dá.
Testemunhas de defesa: Horácio Pina Prata, ex-presidente, (não compareceu); Paulo Canha, ex-presidente, (não compareceu); Paulo Mendes, actual presidente, (em virtude de estar a ponderar uma nova candidatura, não compareceu); Arménio Pratas, presidente do sector comercial, (que não se sabe se está demissionário ou não, não compareceu); Castro Matoso, ex-presidente deste antigo União de Grémio de Lojistas de Coimbra (não compareceu); Etelvino Metegraxa, comerciante na Baixa, que não gosta de ficar mal com ninguém e quando mete veneno é sempre em surdina, perante este vasto auditório, com grande veemência, defendeu a sua associação que até parecia coisa má.
Depois de rebatidos todos os quesitos, entre prós e contras, quer da defesa, quer da acusação, e após um período para ponderação no Café Santa Cruz e em que bebeu um café e apanhou um abraço de Carlos Encarnação, presidente da autarquia, é convicção profundíssima e imensíssima do Meritíssimo juiz Doutor Almerindo Abrolhos que a ACIC deve ser condenada.
Assim, nas prerrogativas deste Estado de justiça mal amanhado, e tendo em conta todas as atenuantes, que os agora comerciantes, aqui acusadores, pelo deixa-correr, de nunca se importarem com a sua associação, mais: muitos deles, como camaleões, sempre a tentarem esconder o sol com a peneira, deixaram arrastar isto a este estado de alegadamente falência técnica. Mais ainda: outros comerciantes com grandes responsabilidades, na última década, esconderam um gato mas deixaram um rabo de fora.
Assim, em conformidade, condeno a ré ACIC a desenrascar-se conjuntamente com os comerciantes dorminhocos e outros que acordados fizeram que estavam a dormir. Evitam de vir pedir-me um cêntimo, porque para esse peditório já dei, e confesso, não deveria dizer isto, mas estou ressabiado: vão-se lixar!
Está encerrada a sessão –segue-se a tradicional pancada do malho.
6 comentários:
Brilhante!
GRANDE JULGAMENTO.
SERÁ TEMPO DOS ASSOCIADOS DA ACIC SE UNIREM, PARA EVITAR ESTE ATENTADO A ESTA NOBRE INSTITUIÇÃO.
UMA VERGONHA. TÊM FALTA DE DINHEIRO, PORQUE ARRANJARAM TACHOS PARA ALGUNS AMIGOS, NÃO PENSANDO NOS PREJUÍZOS.
PORQUE NÃO SE PEDIR UMA AUDITORIA ÁS CONTAS DA ASSOCIAÇÃO?
PORQUE SE DEMITIU O ARMÉNIO (Presidente do Sectro Comercial)?
SERIA BOM A COMUNICAÇÃO SOCIAL DA NOSSA CIDADE,TRATASSE ESTE CASO, PORQUE EXISTE UM SILÊNCIO DUVIDOSO.
O PRESIDENTE DA ACIC, AO RECANDIDATAR-SE, PODERÁ ESTAR COMPROMETIDO COM ESTAS SITUAÇÕES.
NÃO DEIXAR ALUGAR A SEDE CENTENÁRIA DA ASSOCIAÇÃO.
PEDIR RESPONSABILIDADES A QUEM DE DIREITO. UMA SIMPLES VERGONHA!!!!
O QUE TERÁ A DIZER O PRESIDENTE DA ASSEMBLEIA GERAL?
Ganda julgamento
O Pais tá como todos sabemos os males pegão se começa por cima e acaba nesta escomalha que só vé o seu umbigo
Falta a pratica de serem responsabelizados pela ruinosas gerencias.(já não se vendia patrimonio cabiam lá todos)
Estamos todos no vai com Deus andamos adormecidos parece que não se passa nada tudo se aceita bons pagadores
Obrigado aos anónimos pelos comentários.
Voltem sempre.
Abraço.
Agradeço às meninas do "sexo e a Cidade" o tão eloquente e quiçá curto comentário. Mas isso, do curto, não importa nada o tamanho, o que conta é a boa função da coisa. Quanto a isso estamos conversados.
Obrigadinha às três meninas, com uma beijoca individualizada. Gostava de as convidar para jantar às três -ai quem me dera, afinal é mesmo o sonho de qualquer parvo como eu- mas isto anda uma desgraça, financeiramente. As alpercatas cada vez se queixam mais do chão que as sub-carregam. Tenham lá paciência. Vamos lá ver se, até eu ter dinheiro, vocês não ficam uns coiratos, igualzinho à minha vizinha, a dona Laurinda, que está mais seca que o Ramzés II...
Abraço
A gestão calamitosa do Pina deu para passar pagar "a posteriori" 10 mil euros mensais a 4 funcionários,
(Que culpa terão os associados se apenas quatro funcionários, alegadamente, levam mensalmente para casa quase 10 mil euros?) e um outro(a) a ganhar mais do que qualquer um destes últimos (Porque razão, depois do reinado de Paulo Canha, presidente eleito a seguir a Pina, mais uma vez, ficou outro funcionário no quadro a ganhar mais do que qualquer um dos outros quatro?).
Não esquecendo o facto de nos últimos dois mandatos (canha e PM - 6/7 anos), gastaram-se milhares em limpezas (indemnizações ao Viana, Miguel Veloso, Pires e outros) sendo que o Denominador comum é o Paulo Mendes (tesoureiro do Pina, do Canha e depois presidente, quando esta situação se veio a verificar)
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