segunda-feira, 13 de setembro de 2010

A MAGIA E AS DANÇAS NA PRAÇA VISTAS PELO "OLHO DE LINCE"




 Estava eu calmamente a cobrir –esta semântica da língua portuguesa faz cair o coração aos pés- o touro de morte, em Monsaraz, e a preparar-me para ouvir as declarações do presidente da autarquia local, quando o meu telemóvel retiniu.  Dizia o presidente da autarquia: “este povo tem direito à tradição. Isto já vem de longe…desde 1877!”.
Então, perfilando-me como um daqueles fanáticos do contra as touradas de morte, atirei: “ó senhor presidente, desculpe lá, mas a pena de morte, para os humanos, que foi abolida em Portugal por decreto-lei em 1867, também era uma tradição…o senhor não acha que deveria ser reabilitada? Que diabo…é a tradição!”, sublinhei a última frase com ênfase, ao mesmo tempo que olhava à minha volta. Foi então que aquela coisa que temos entre pernas me ia caindo ao chão. Eu seja ceguinho! É que, antes de mandar o “bitaite”, eu estava rodeado de apoiantes anti-tourada. O problema foi quando atirei a bojarda ao chefe do executivo, reparei que estava só. Perante a apoplexia eminente do homem, ao ver-lhe as bochechas maiores que o Mário Soares, eu já não sabia se havia de correr para trás de uma barreira de madeira, se o melhor era estar quietinho e esperar pela “cornada” –salvo seja, é claro, que com estas coisas de chifrudos não se brinca- que haveria de me mandar para os anjinhos.
Para piorar as coisas, uma senhora ao lado, quando me reconheceu, achando eu que se preparava para me fazer uma pega de caras, eu que até já tremia todo, mais que uma vara verde junto ao canavial do Mondego, atira de capa embainhada: “ó “Olho de Lince”, seja compreensivo connosco…isto é tudo tão lindo…é arrepiante!”. Claro que, perante este apelo, já fiquei mais descansado.
Foi então que, como milagre salvador, para permitir a minha fuga em grande plano de arena, o telemóvel tocou. É claro, eu que sou um nato artista de pega de cernelha de rua, comecei a esbracejar. Ao mesmo tempo ia olhando para o presidente da câmara de Monsaraz, sem lhe virar as costas, sempre a afastar-me, fui-me chegando até ao meu Silvano –é o meu jerico- que estava estacionado, como quem diz amarrado, junto à tasca do “Manel Toureiro”. Coloquei-me em cima da besta, dando-lhe uma palmada no traseiro, convidei-o com “um arre burro” a desandar dali depressa, e toc...toc..., caso contrário duas bestas, em nome da defesa dos touros, ficariam cortados em postas na praça central de Monsaraz. Só então atendi o telemóvel.
-Está lá? “…”Dasse”…estava a ver que você não atendia o telefone. O que é que anda para aí a fazer, ó “Olho de Lince”?” –quem me interrogava era o meu chefe, o director Luís Fernandes, lá do Blogue, não devem conhecer, e ainda bem. Claro que, quando vi que era o gajo, fiquei com uma comichão no corpo todo que até pensei que tinha apanhado urticária.
-Ó chefe, então não sabe que estou a cobrir o toiro de morte em Monsaraz? Quer dizer, neste momento estou a ver é se salvo o coiro…
-Deixe-se de merdas, ó “Olho de Lince”. Eu conheço-o de ginjeira. Faça o favor de se enfiar no carro e apresentar-se cá em cima, em Coimbra, rapidamente…
-O chefe desculpe, mas estou a viajar em transporte ambiental…
-Como? O que é que está dizer? Não me diga que levou, outra vez, o raio da pileca para o Alentejo?
-Pois trouxe mesmo! O senhor esquece-se que já não recebo ordenado há mais de um ano?
-Ó “Olho de Lince”, faça o favor de não me enervar. Isso para aqui não interessa nada.
Amanhã, Sábado, preciso que esteja na Praça do Comércio, às 22H00, para fazer a foto-reportagem ao grande espectáculo de magia do Telmo Melo e danças performativas que se vão realizar junto ao pelourinho.
-Mas…ó chefe…são mais de 300 quilómetros?!...
O cabrão desligou sem sequer me perguntar se estava bem para encetar uma viagem daquelas. Já nem estranhei. Já estou habituado…

À hora marcada, estafado de todo, com os ossos todos partidinhos, que mais parecia aquele dinossauro que apareceu há dias em Espanha e que dizem ter mais de 125 milhões de anos, lá estava eu na Praça do Comércio. Como já é normal estava muita gente. O pessoal quer é festa. É como um homem faminto, quando não cheira uma mulher há meses… o que vier morre!
 Gostei do apresentador, o jovem Telmo Melo. Tem muito jeito o rapaz. Gostei mesmo muito, sinceramente. Tem garra para apanhar o público. Com grande simplicidade ia metendo umas graças aqui e mais uma ”deixa” acolá, e o público delirava. Eu estive com atenção. E até nos truques de magia, tenho a certeza que o “herdeiro” de Luís de Matos, para gáudio de toda a cidade, irá longe. Gostei…pronto!
Lá das danças performativas dos jovens, como hei-de dizer? Pronto, foi o possível…correu quase tudo bem. Só o “Kaos”, um grupo de Vila Nova do Ceira, é que estava em “dia-não”. Coitados, a culpa não era deles, como quem diz, o caos lançado, o azar, foi do destino. Começou logo pela apresentação da música, o cd não arrancava, e os miúdos, sem culpa formada, ficaram ali apalermados em frente ao júri à espera de serem incinerados no pelourinho.
Veio o Telmo Melo, como bombeiro de serviço, tentar apagar a frustração dos jovens artistas e a possível condenação do público presente. Foi chamado o presidente da junta de freguesia, Carlos Clemente, a ver se, com a sua argumentação política dava a volta à máquina, e esta se dispunha a ler o disco, mas qual quê? Tocava o disco mas a música de silêncio era a mesma. Pelo ostracismo demonstrado o leitor de músicas não ia à bola com políticos.
Entretanto, para chatear ainda mais os mosquitos, os focos do palco, quem sabe em apoio aos agentes da PSP, entram em greve.
Tenta-se uma segunda vez. Vão os artistas para o palco…e o cd, tão persuasivo como o Durão Barroso a discursar em Bruxelas para os deputados em defesa da bondade europeia, para além de não arrancar uma salva de palmas, continuou mudo e não convenceu ninguém.
Foi então chamado o maior técnico de electrónica de todos os tempos da Baixa de Coimbra: “Carlitos popó”. Este grande ícone do centro Histórico, como mestre em teorias alternativas mediúnicas, vestido com a camisola de grande “Official”, limitou-se a chegar junto à máquina retransmissora, e, mentalmente, ordenou: “toca!”. E a música tocou, e os “Kaos” mostraram como se dançava ali, naquele palco da praça velha…

4 comentários:

Jorge Neves disse...

Pena não poder estar presente, mas para fazer "concorrencia" ao amigo Luis, tive lá uma reporter.
Comunicação Social andou por lá?

Anónimo disse...

Venham mais iniciativas para a Praça Velha ou Comércio,como queiram!Sejam com Kaos ou sem ele,com CD'S a arrancar fora de tempo,ou outros incidentes quaisqueres.O que interessa é fazer,dar vida áquele espaço lindo,não é Luís?
Marco

Anónimo disse...

Olá António Luís
Esta muito bom o seu texto.
Sobre Noite na Praça concordo consigo, por entre vários percalços, não se chegou ao cosmos mas o Telmo revelou-se um bom comunicador conseguindo a "ilusão" que tudo corria bem.
E no fundo correu, a noite estava amena e o essencial foi transmitido.

Ana Neto

Anónimo disse...

amigo luis muito obrigado pela sua presença neste espectaculo, e é um razer para mim ver o meu nome neste texto, este texto tao divertido que está. agradeço a todos pelas vossas palavras e apoio... um enorme abraço para todos. Telmo Melo