quarta-feira, 29 de setembro de 2010

PROVIDÊNCIA, PROVIDÊNCIA, ONDE ESTÁ O TEU PENAR?





 Nem sempre acreditei na divina providência. Enquanto a navegar em mar de águas alterosas, como todos os humanos que na hora de aflição rezam a todos os santos, já lhe fiz promessas. Umas vezes teriam sido satisfeitas outras vezes não. A velejar neste oceano de ambiguidade, fiquei sempre na dúvida se deveria acreditar ou não na sua omnipotência. Com o tempo, porque o tempo é fantástico e tornamo-nos mais assertivos e sabedores, optei pelo agnosticismo, que é assim uma espécie de estar à espera que Jesus Cristo regresse à Terra para acreditar nos seus poderes transcendentais.
Acontece que em 10 de Agosto o Diário de Coimbra (DC) que contava que uma providência, em jeito de aviso cautelar, intentada por Luís Providência, vereador eleito pela maioria, numa reunião do executivo, tinha desafiado a empresa municipal Águas de Coimbra (AC) a cortar em determinadas despesas, concretamente nos gastos com o pessoal e nomeadamente nas avenças de alguns prestadores de serviços. Como sou um bocado bacoco, como disse em cima, e estou à espera que Cristo desça à Terra, reuni todos os meus heterónimos e, bem alto, gritei em texto: “OBRIGADO SENHOR…JESUS CRISTO ESTÁ AQUI!”.
Tornei-me menos seco e menos crítico em relação à fé. E fiquei à espera de novos desenvolvimentos, isto é, novas revelações feitas pelo…Providência. Acabou-se o Agosto, veio Setembro, foi-se o calor, veio o frio, esvaiu-se o Verão, veio o Outono, foi-se o verde da folha, veio a aragem, começou a cair a parra seca no chão, e do Providência, nem um pio, nem uma providência que me providenciasse nesta aflição. Cá continuei na minha dúvida de que as águas metiam água, mas lá num recanto qualquer haveria um colchão de água onde, pelo menos, dois corpos, à custa da água, suavam rios de água, num prazer hedonista sem limites. Nunca mais soube nada dos amores clandestinos, a fazer lembrar Pedro e Inês lá na Quinta das Lágrimas, que por acaso, só mesmo por acaso, até é um pouco ao lado, do parzinho aflorado pelo Providência, que na sua divina providência, se indignou.
Vim a saber ontem, outra vez pelo DC, de que, numa nova reunião do executivo municipal com o tema das Águas de Coimbra, o Providência, que a minha providência dogmática já estava quase convertida, afinal, ausentou-se sem dizer água vai. Aludindo o jornal que a sua presença teria sido fundamental na decisão e que não estando, como não esteve, obrigou ao voto de qualidade do presidente Encarnação.
O que mais me chateia, nisto tudo, é eu já ter sido um crente fervoroso, depois passei a católico não praticante e depois a agnóstico. Quando vi um milagre destes, em que o Providência se insurgia contra os seus pares, despi o capote de “balouçar entre a impossibilidade de conhecer certos fenómenos relativos à origem da vida”, e enfiei logo, sem pensar, esta samarra de convertido nesta fé que cegava qualquer ignorante como eu.
Agora, perante o escorreganço do meu santo providência, como é que fico? Sei lá! Olhe…outra vez agnóstico!

2 comentários:

Jorge Neves disse...

Como o CDS-PP já prepara um novo Queijo Limiano, Providencia apesar de fazer parte da coligação que venceu a Autarquia, deve ter recebido orientaçoes superiores( partidárias) para deixar a batata quente na mão de Encarnação.

Anónimo disse...

Espantoso e oportuno este acutilante texto. É incrível que alguém pago e eleito pelo povo tenha opinião acerca de um ordenado de um trabalhador de outra instituição. Mas quando toca a tomar decisões fundamentais não só pra essa isntituição, mas para toda a cidade, já que esta decisão compromete a população por 50 (sim, cinquenta) anos, acovarda-se e nem sequer aparece na reunião. Saberá este sr. o significado da palavra e da função 'vereador'?