sábado, 25 de setembro de 2010

SANTA CRUZ'RAVE, VISTO PELO "OLHO DE LINCE"




 Tudo começou na Quinta-feira, quando fui chamado ao gabinete do director do blogue, Luís Fernandes. Fiquei logo com comichões. Quando sou chamado ao escritório fico logo em pulgas. Já sei que dali não se espera nada de bom…ou soda ou canelada. Mas lá fui. Entrei, lá estava o gajo ao lado do amor da minha vida: a minha Rosete. O cabrão até parece que faz de propósito só para me picar. Passou-lhe a mão por trás das costas e começou a dar-lhe pancadinhas naquelas duas montanhas traseiras e que são atravessadas por um estreito, a que chamam vale paraíso. Só ver aquilo, até parece que me estava a espetar uma faca no meu coração, mas disfarcei.
-Ó “Olho de Lince, tenho aqui um convite endereçado em seu nome da gerência do Café Santa Cruz, a convocá-lo para ir amanhã, sexta-feira à noite, assistir a um espectáculo performativo –também não percebo essa gente lá do café. Só você é que trabalha aqui? Então e eu? E a Rosete? O que havia de fazer era mandá-lo em reportagem para as Águas de Portugal, mas enfim! Isto não se faz!
É pá, o gajo estava completamente ressabiado. Só estava a ver que as suas narinas começavam a deitar fogo, assim como um dragão que eu conheço, dali do Norte.
-Ó chefe, não posso…disse que era uma festa? Às tantas…está para lá o “Jet Set” todo…não tenho roupa para vestir em condições…
-Ora, ora, deixe-se disso. Lá está você a armar-se. Se não tem roupa, vai comprar…ou aluga…sei lá!
-Eu posso comprar, chefe…porém…
-Porém, quê, desembuche, porra!
-Não tenho dinheiro. Por acaso, esquece-se que não me paga há mais de um ano?
-Lá está você com merdas, ó “Olho de Lince”. Fosca-se! Embirro com esse seu mau feitio. Plinto, você parece os agentes da PSP a chatearem o Governo. Tenha dó!
Ainda tentei alugar uma fatiota na Baixa, mas qual quê? Não encontrei nada. “Carcanhol” para ir às “Modas Veiga” também não havia. Eu bem estive lá a lamber a montra, ali na Rua Eduardo Coelho, mas qual quê? Eu até transpirava, eu seja ceguinho! Foi então que me lembrei do senhor Raimundo –fiz imediatamente o sinal da cruz. Não sei se estão a ver quem era? Se calhar não. O senhor Raimundo era polidor de esquinas profissional ali na Praça 8 de Maio. Ai que falta que ele lá faz! Aquela esquina do Lobo nunca mais foi a mesma. Até parece que a quina do edifício chora a sua morte em partículas de pó cinzento que se esbate na calçada.
Recordei-me então que a dona Francelina, a viúva triste do senhor Raimundo, já há uns tempos que me andava a lançar a escada. Coitada, quem é que não entende? Um corpo daqueles, a precisar tanto de exercício, e é claro, para estas coisas da saúde física não serve qualquer treinador. Talvez fosse por eu ter a mesma estatura ou não do senhor Raimundo, que Deus tenha, acho que a senhora Francelina entendia que eu poderia ser um bom colaborador das suas previsíveis artroses. Não é por nada, mas eu aprendi com o meu avô que quanto mais uma pessoa se fizer de caro melhor. Aumenta o valor da mercadoria e passa a ser mais renhida a preferência.
Mas perante uma necessidade destas lá fui eu ao 31 da Rua do Volta-atrás. Só queria que vissem a Francelina quando toquei à campainha. Quando viu que era eu, espreitando pelo óculo, só ouvi a sua voz melosa e lânguida lá de dentro: “um momento. Já vou!”. Claro que este “já vou”, prolongou-se mais de quinze minutos. Quando abriu a porta, ai minha Nossa Senhora da Piedade tenha clemência de mim! Então não é que estava completamente embalsamada em perfume e toda nuinha? Ai Senhor! E depois, perante um repasto destes, como é que eu lhe ia declarar que ia ali apenas pedir para me emprestar o fato do extinto? Com muito custo, lá expliquei que estava a atravessar um período mau, e que, tal como o Cavaco, estava à espera de melhores dias para levantar a bandeira. Poderia a senhora Francelina entender? Por acaso não entendeu muito bem. Quando ouviu falar no Aníbal –benzendo-se várias vezes-, em lamuriosa lengalenga, repetiu até à exaustão: “ai, por amor de Deus não me fale nesse homem, que aprovou o casamento entre homens!”. Foi com muito custo que a convenci a esperar pelas eleições, que então sim, depois levantava o pau e ela seria a primeira convidada a formar comigo um governo de coligação. A verdade é que a coisa até deveria ter sido credível porque saí de lá vestido com a fatiota do senhor Raimundo. E lá fui para o café Santa Cruz. Eram para aí umas 23 horas de ontem.
Quando cheguei à esplanada estava tudo vedado e cores multicolores. Junto à porta dois gigantes a controlarem a entrada. Lá de cima de dois metros, assim como quem olha para uma formiga, olharam para mim com displicência. Mas eu não me importei. Eu tinha convite. Entrei, dei uma “pestanada” a ver se encontrava por lá o meu amigo Almerindo Abrolhos. Não o vi. O que eu vi é que estava cheio de mulheres todas produzidas, com uns decotes…ai minha nossa senhora, que até se me dá cá uns calores. Muita gente da política. O Barbosa de Melo, o vice da autarquia, acompanhado com o Miguel Pignateli, o Carlos Cidade, todo engalanado, que agora não perde um evento –futuro candidato à câmara oblige!- e outras centenas de pessoas. Ainda tentei contá-las todas mas quando cheguei às 750 desisti. Aquilo estava lindo, caraças! A luz de mil desenhos e cores a fazer cócegas ao tecto. A música revivalista dos anos de 1980. Porra, gostei mesmo daquilo. Ai, delirei.
Quando é que voltas a fazer outra ó Vitor Marques?

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