sábado, 18 de setembro de 2010

EDITORIAL: RUAS DE SUSTO




 Ontem, num sucesso sem precedentes da APBC, Agência para a Promoção da Baixa de Coimbra, a Baixa, por uma noite, foi rainha. Parecia a festa anual da aldeia em honra da padroeira.
Excluindo a parte social e a cidade, quem mais terá a ganhar com estas iniciativas? Penso que não é difícil de responder: os comerciantes que trabalham aqui.
Então, continuando, é lógico que todos, numa obrigação de interesse próprio, ontem, mesmo fazendo algum esforço, estiveram abertos…certo? Não, errado. Muitas lojas, para além de não aderirem a esta iniciativa, para cúmulo, até as montras tinham apagadas.
Porque, salvo erro, só um estabelecimento esteve aberto na Rua Adelino Veiga, onde a escuridão por parte dos estabelecimentos era quase total, aqui surge uma interrogação: o que querem fazer estes comerciantes? Será que é deliberado o seu suicídio comercial? Será que não lhes importa o valor económico dos seus estabelecimentos? Ao procederem desta forma procuram o quê? Será que não vêem que estão a condenar toda uma artéria que, curiosamente há cerca de 20 anos, foi a mais importante da Baixa de Coimbra? Muitas mais perguntas se poderão formular, mas, do ponto de vista comportamental, é incompreensível. Poderemos até especular que nesta rua estão uma série de grandes comerciantes que, em princípio, porque estão implantados há décadas, será pensável que não terão problemas de finanças. Do ponto de vista egoísta, porque tem de ser considerado, é uma decisão deles e ninguém terá nada a ver com isso. Acontece que todos vivemos, nas nossas acções diárias, imbricados uns nos outros. Ou seja, o que eu escrever aqui, numa relação de causa/efeito -um pouco no exemplo da economia de que o bater de asas de uma borboleta na China pode causar um tufão na Europa- terá sempre repercussões na rua ao lado do bairro onde trabalho. Por pouca importância que tenha e se dê haverá sempre alguém que irá fazer passar a mensagem.
E, assim sendo, levando em consideração que as nossas acções inter-pares jamais serão isoladas, se vivermos em comunidade, é legítimo interrogar se estará certa esta atitude? Mais ainda: alegando que estes grandes comerciantes não precisam, porque não têm necessidades iguais ao comum dos homens do comércio, uma vez que, noutros tempos, ganharam o seu grande património aqui, nesta parte da cidade, não terão uma obrigação moral e social de participar e ajudar no desenvolvimento da sua rua?
Pode-se argumentar isto e aquilo, que não se gosta do executivo camarário, que não se vai à bola com quem está a dirigir a APBC, mas, neste desprezo continuado, é premente interrogar: estas pessoas gostam de alguém? Gostam da cidade? É evidente que não. Alguma vez deram alguma coisa para um qualquer peditório que, num acto calculista de futuro, não lhes trouxesse em dobro a sua dádiva?
 Aliás, em especulação, é lícito pensar-se que no seu narcisismo exacerbado, estes comerciantes, verdadeiramente, só gostarão de si próprios. É uma tristeza!

3 comentários:

Daniel disse...

Iniciativas como esta (noite branca) são muito importantes para a baixa. É preciso passar a imagem de que é seguro passear à noite na baixa, e os comerciantes têm de perceber que para eles é uma mais valia terem as suas lojas abertas nestas noites. A iniciativa é um sucesso em termos de adesão de público, e também é bom saber que o número de lojas abertas está a subir ao longo destas edições da Noite Branca.
Espero que num futuro próximo seja possível passear e fazer compras todas as noites na baixa e que não sejam preciso estas iniciativas para isso acontecer.

Jorge Neves disse...

Quando os comerciantes não lutam por si, não podem exigir que os outros lutem por eles.

Anónimo disse...

Concordo em absoluto com este post e com os comentários a que deu origem. E realço que esta realidade não é recente. Há vários anos que oiço os comerciantes queixarem-se que as coisas estão más, que as grandes superfícieprejudicam o comércio tradicional, etc., etc. E embora estes argumentos possam ser verdade, não o é menos que quando há a oportunidade de fazer alguma coisa para alterar a situação, são os comerciantes os primeiros a aderir aquilo que os beneficiaria. Por xemplo: alguém entende que a maior parte das lojas esteja fechada à hora de almoço?? É ver os empregados dos serviços a passear-se pelas ruas numa pausa do seu dia de trabalho, a ver as montras, e se quiserem comprar uito simplesmente não podem. Depois é claro, se no seu tempo livre diário n~~ao podem fazer compras, sobra o fim de semana. E onde? Nos centros comerciais, claro! Porque o final de dia é a correr para casa e para a escola dos filhos.
A Baixa é linda. Mas se está omo está não se deve apenas às entidades oficiais. Cada cidadão, cada agente económico tem responsabilidade. E na Baixa os comerciantes são actores principais.